HIDRÓLISE ÁCIDA DE CAROÇO DE AÇAÍ UTILIZANDO ÁCIDO FOSFÓRICO PARA A PRODUÇÃO DE AÇÚCARES FERMENTESCÍVEIS

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Bioquímica e Biotecnologia

Autores

Wanzeler, R.C. (UEPA) ; Aires, C.B. (UEPA) ; Gomes, M.S. (UEPA) ; Muribeca, A.J.B. (UFPA) ; Gomes, P.W.P. (UEPA) ; Gomes, P.W.P. (UFPA) ; Pereira, E.R.S. (UFPA) ; Machado, D.L. (UNICAMP) ; Silva, D.A. (UEPA) ; Martins, L.H.S. (UEPA)

Resumo

O esgotamento inevitável dos combustíveis fósseis, as preocupações com a segurança energética e o crescente problema das emissões de CO2 têm reforçado o interesse na busca por fontes alternativas de energia, neste contexto, o presente trabalho visou estudar a viabilidade do uso da biomassa de caroço de açaí para a produção de açúcares fermentescíveis com o uso de H3PO4 como agente de pré-tratamento variando a concentração de ácido e o tempo de residência. Os resultados de ART no licor de pré-tratamento demonstraram que este material viável para a produção de açúcares.

Palavras chaves

Pré-tratamento; Hidrólise ácida; Caroço de açaí

Introdução

O esgotamento inevitável dos combustíveis fósseis, as preocupações com a segurança energética e o crescente problema das emissões de CO2 têm reforçado o interesse na busca por fontes alternativas de energia, neste contexto, os materiais lignocelulósicos surgem com uma matéria-prima interessante para a produção de biocombustíveis de segunda geração pois não competem com o mercado alimentício, além disso, a biomassa lignocelulósica se enquadra como um recurso renovável abundante e tem atraído muita atenção para a produção do bioetanol celulósico (WANG et al., 2015). A biomassa lignocelulósica é composta basicamente por três frações poliméricas, a saber: celulose, hemiceluloses e lignina que contam aproximadamente 90% de todo o material. Tanto a celulose quanto as hemiceluloses podem ser clivadas por hidrólise ácida ou enzimática e, subsequentemente, fermentadas em etanol (RAMBO, 2013). Esta característica das biomassas confere a estes materiais um fenômeno chamado de recalcitrância o qual impede que os polissacarídeos sejam clivados, para isto, é necessária a etapa de pré-tratamento que solubilizam a fração hemicelulósica e a lignina deixando o material mais expostos para posterior hidrólise ácida ou enzimática. O H3PO4, a baixa concentração apresenta uma alta capacidade de solubilizar a fração de hemiceluloses. Apesar do seu custo mais elevado, o H3PO4 tem várias vantagens, é menos corrosivo e menos tóxico quando comparado ao H2SO4, o que representa uma redução no custo de construção das plantas industriais (NAIR et al., 2015). Após o pré-tratamento da biomassa duas correntes são geradas: 1) a fração líquida, caracterizada por conter pentoses (xilose, arabinose), xilo- oligômeros e hexoses (principalmente glicose); e outra fração sólida, composta de celulignina, que corresponde à lignina e a celulose remanescentes do pré-tratamento. Na fração sólida deve-se submeter o material a hidrólise química ou enzimática para a obtenção de açúcares fermentescíveis, já a fração líquida poderá ser fermentada depois da etapa de pré-tratamento (se apresentar concentração considerável de pentoses e baixa de inibidores). Assim, é importante realizar um pré-tratamento brando para evitar a formação de inibidores (furfural e hidroximetilfufural) para a levedura da fermentação e que garanta uma hidrólise completa, evitando o acúmulo de xioligômeros (NEITZEL, 2014). A região norte do Brasil é conhecida por ser a maior produtora e consumidora de açaí (Euterpe olerácea ) do qual tem como resíduo, o caroço que se torna um inconveniente higiênico sanitário para as vias urbanas e rurais. A possibilidade de converter o resíduo após o processo de obtenção da polpa do açaí em etanol seria interessante do ponto de vista comercial e ambiental. De acordo com Kim et al., (2001), este material contém grandes quantidades de celulose e hemiceluloses, o que justifica a sua utilização para a produção do etanol de segunda geração. O objetivo do presente trabalho foi realizar o pré-tratamento do caroço de açaí utilizando o ácido fosfórico H3PO4 para a produção de açucares fermentescíveis (pentoses) com foco no licor obtido do pré- tratamento (primeira via do processo) para a produção de etanol de segunda geração.

Material e métodos

A caracterização do caroço foi realizada em triplicata no laboratório de alimentos localizados na Instituição da Universidade do Estado do Pará – Cametá-Pa. Para esses devidos fins foram realizadas as seguintes análises: teor de umidade, cinzas, celulose, hemiceluloses e lignina total segundo protocolo NREL (SLUITER et al., 2011) e proteínas de acordo com (AOAC, 2008). O pré-tratamento com H3PO4 diluído foi realizado conforme a metodologia de Martins et al. (2015). O pré-tratamento ácido foi realizado em autoclave (121ºC) com concentração de ácido de 2 e 3,5%(m/v) e tempo de residência de 30, 60 e 90 min (determinados a partir de ensaios preliminares). A concentração de sólidos utilizada foi de de 5% (m/v) de caroço de açaí seco e triturado. Para a quantificação da glicose, foi utilizado o mono reagente glicose oxidase (marca INTER KIT). Para a quantificação dos ART, foi feita a metodologia do reagente DNS (BAZAN, 1993) ambos por espectrofotometria. Em ambos os métodos, o padrão de glicose foi utilizado como curva padrão. O fator de severidade foi calculado conforme metodologia de LEE & JEFFRIES (2011). Os resultados obtidos em todas as análises foram tratados estatisticamente através da Análise de Variância (ANOVA) e os cálculos das médias pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade com o auxílio do programa estatístico Assistat7.7 beta (SILVA, 2010).

Resultado e discussão

Os resultados da composição físico-química para o caroço de açaí com 9,1g/100g de umidade para celulose, hemiceluloses, lignina, extrativos, proteínas e cinzas foram de 26,9±0,05 g/100g, 34,5±0,03 g/100g, 22,0±0,01 g/100g, 7,1±0,02 g/100g, 3,1±0,03 g/100g e 4,1±0,04 g/100g, respectivamente. Oliveira (2014) encontrou para composição do caroço de açaí em g/100g celulose, hemiceluloses, ligninas, extrativos, proteínas e cinzas de 45,2±1,30, 18,2±0,80, 20,37±0,50, 9,5±0,20, 4,3±1,10 e 3,5±0,10, respectivamente. Sendo os valores encontrados pelo autor para celulose e hemiceluloses, diferentes dos valores encontrados no presente trabalho. Deve-se enfatizar que fatores ambientais, de variedades de plantas bem como a nutrição do solo podem influenciar na composição das biomassas. Em geral o caroço de açaí mostrou-se bem rico em carboidratos, apresentando em sua composição 61,4 g/100g de carboidratos totais em sua estrutura. A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos de todas as análises realizadas após o pré-tratamento com H3PO4 diluído. Através da Tabela 1, podemos observar que a maior liberação de açúcares se deu para a concentração de 3,5% de ácido no tempo de 90 minutos, entretanto, na condição de 2% de ácido e 90 minutos pode-se considerar também como uma boa condição, uma vez que ao aumentar a concentração de ácido, aumenta-se também a severidade do pré-tratamento podendo-se gerar produtos inibitórios para a fermentação como o furfural e o hidroximetilfurfural (FERRAZ, 2010). O fator de severidade encontrado para as seis condições estudadas (2% de ácido e 30, 60 e 90 min e 3,5% de ácido e 30, 60 e 90 min) foi de: 0,90, 1,20, 1,37, 1,08, 1,38 e 1,55, respectivamente. Ressaltando que na condição de 3,5% de ácido e 90 min de tempo de residência tem-se maior severidade no processo e quando aumenta-se a concentração de ácido e tempo de residência, aumenta-se o fator de severidade para cada ensaio. Em relação a glicose, pode-se observar que está não foi liberada no licor em grandes concentrações, uma vez que, a glicose fica contida na fração celulósica da segunda via do pré-tratamento (parte sólida) e pouco é liberada na fração líquida. A queda da concentração de glicose (Figura 1) em função da concentração de ácido e do tempo de residência, se dá pelo fato do aumento da severidade do pré-tratamento que quanto maior for, maior será a possibilidade de degradar a glicose, este comportamento não foi observado para os açúcares redutores totais (Figura 1). Neitzel (2014) pre-tratou o bagaço de cana por auto hidrólise e ao estudar o licor obtido de pré-tratamento obteve 23,88g/L de pentoses, na condição de 50% de sólidos, temperatura de 190ºC e tempo de 10 min. A utilização do caroço de açaí para a produção de açúcares se torna viável, além de reduzir os impactos ambientais gerados por estes resíduos, tem-se também um ácido menos corrosivo e que poderia ser utilizado como enriquecedor do meio fermentativo, uma vez que os microrganismos necessitam de fósforo para a sua nutrição. Estudos mais aprofundados devem ser realizados para avaliar a viabilidade da fermentação destes licores, uma vez que o microrganismo utilizado deve metabolizar as pentoses e hexoses.

Figura 1

Comportamento da liberação dos açúcares redutores totais (ART) (g/L), glicose (g/L) em função do tempo e da concentração de ácido H3PO4.

Tabela 1

Resultados obtidos para massa solubilizada, ART e Glicose para o licor obtido após pré-tratamento do caroço de açaí com H3PO4 diluído.

Conclusões

A utilização do licor de pré-tratamento obtido do caroço de açaí mostrou-se viável para a produção de açúcares fermentescíveis sendo obtido o máximo de 20,8 g/L de açúcares redutores totais, que pode ser utilizado como meio fermentativo para a produção do etanol de segunda geração. Trabalhos futuros são necessários para avaliar a viabilidade deste licor no que se refere ao processo fermentativo, uma vez que, necessita-se de microrganismos selecionados que metabolizam a pentose para a produção do etanol. Entretanto, pode-se utilizar estes açúcares para a produção de outros compostos de interesse como o xilitol, de acordo com o interesse da indústria.

Agradecimentos

Referências

AOAC. Official methods of analysis of the Association Analytical Chemists. 18.ed. Maryland, 2008.

BAZÁN, JUAN HERALDO VILOCHE. Estudo de produção enzimática da dextrana clínica. Campinas: Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, 1993. Tese (Doutorado).

SILVA, RGV. Caracterização físico-quimica de farinha de batata-doce para produtos de panificação. 2009. 71 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Alimentos), Bahia. 2010.

SLUITER, A., HAMES, B., RUIZ, R., SCARLATA, C., SLUITER, J. Determination of structural carbohydrates and lignin in biomass. Golden, Colorado: National Renewable Energy Laboratory; 2010 Jul. Report N. TP-510-42618, p. 17, 2011


FERRAZ, Flavio de Oliveira. Influência de diferentes métodos de destoxificação sobre a composição e fermentabilidade do hidrolisado de bagaço de cana-de-açucar à xilitol e etanol. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. 2010.


LEE, J.W.; JEFFRIES, T.W. Efficiencies of acid catalysts in the hydrolysis of lignocellulosic biomass over a range of combined severity factors. Bioresour. Technol., n. 102, p. 5884–5890, 2011.


NEITZEL, Thiago. Estudo da aplicação de hemicelulases no reaproveitamento do licor de pentoses na produção de etanol de segunda geração. Relatório técnico-científico. Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais. Disponível em:< http://www. cnpem. br/bolsasdeverao/files/2013/08/THIAGO-NEITZEL_RELATORIOFINAL. pdf> acesso em, v. 23, n. 10, 2014.

RAMBO, M. K. D. Caracterização de resíduos lignocelulósicos por espectrocospia nir anilada à quimiometria para a obtenção de insumos químicos. 2013. 157f. Tese (Doutorado em Ciências) - Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2013.


NAIR, R. B., LUNDIN, M., BRANDBERG, T., LENNARTSSON, P. R., & TAHERZADEH, M. J. Dilute phosphoric acid pretreatment of wheat bran for enzymatic hydrolysis and subsequent ethanol production by edible fungi Neurospora intermedia. Industrial Crops and Products, v. 69, p. 314-323, 2015. ISSN
0926-6690.

WANG, W., ZHU, Y., DU, J., YANG, Y., JIN. Y. Influence of lignin addition on the enzymatic digestibility of pretreated lignocellulosic biomasses. Bioresource Technology, 2015. ISSN 0960-8524.

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