Síntese, caracterização e emprego de nanopartículas de magnetita com superfície modificada para separação e isolamento de lisozima presente na clara de ovos

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Materiais

Autores

Gonçalves Santos, M. (UNIFAL-MG) ; Belga Caminitti, L. (UNIFAL-MG) ; Bueno Alves de Lima, B. (UNIFAL-MG) ; Costa Figueiredo, E. (UNIFAL-MG)

Resumo

A lisozima é uma enzima de alto valor comercial e a clara do ovo é a sua principal fonte de obtenção. A utilização de nanopartículas de magnetita (MNPs) apresenta grande potencial para extração deste composto. Assim, foi desenvolvido um estudo para caracterizar e avaliar o comportamento de MNPs para a obtenção de lisozima. As MNPs foram sintetizadas pelo método de coprecipitação e revestidas com tetraetilortosilicato e albumina sérica bovina. O material foi caracterizado por TEM, FT-IR e TG. O melhor pH para adsorção foi 10,0 e para dessorção foi 5,0. Com relação aos estudos de adsorção, os modelos de pseudo-segunda ordem (Te 5 min) e Freundlich (kf =100,91 mg de lisozima/gNMPs) apresentaram os melhores ajustes. Ao final, a recuperação foi cerca de 19 mg de lisozima/gNMPs.

Palavras chaves

Lisozima; Magnetita; Caracterização

Introdução

A descoberta de novas aplicações para as proteínas e enzimas presentes na clara do ovo, principalmente para fins industriais, fez surgir a necessidade de se desenvolver novas metodologias que permitam a separação e o isolamento destes compostos de forma rápida, eficaz e a um baixo custo. Dentre os compostos proteicos presentes neste alimento, a lisozima se destaca como enzima de alto valor agregado, sendo extensamente usada na indústria alimentícia e farmacêutica. O uso de nanopartículas magnéticas em processos de separação vem ganhando destaque nos últimos anos, visto que esses materiais apresentam grandes vantagens como a elevada área superficial, possibilidade de funcionalização da superfície, facilidade de obtenção e separação por aplicação de um campo magnético externo sem a necessidade as etapas de centrifugação e/ou filtração se tornam desnecessárias. No que se refere às modificações na superfície desses materiais, a utilização de um revestimento proteico pode ser uma excelente estratégia para se obter nanopartículas magnéticas capazes de reter ou não outras proteínas de acordo com o pH do meio. Assim, baseando-se na demanda industrial por lisozima, nas potencialidades das nanopartículas magnéticas para separações e na ausência de relatos na literatura que utilizem nanopartículas de magnetita revestidas por tetraetil ortosilicato (TEOS) e albumina sérica bovina (BSA), respectivamente, para a obtenção de lisozima, propomos o desenvolvimento de um novo material, por meio da síntese de nanopartículas de magnetita, com modificações na superfície, e sua caracterização, para a obtenção de lisozima presente na clara de ovos de galinha.

Material e métodos

As MNPs foram obtidas de acordo com o método de coprecipitação desenvolvido por Chen (2013) com algumas modificações. Após a síntese, os materiais foram recobertos com TEOS e posteriormente com BSA. O recobrimento com BSA foi feito de acordo com Morais (2013). Depois da obtenção, o material foi lavado com água Mili-Q e foi seco em estufa à vácuo (60 C) por 24 h. O material foi caracterizado, quanto às suas propriedades físicas, por termogravimetria (TG) espectroscopia na região do Infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) e microscopia eletrônica de transmissão (TEM). Com relação à adsorção, inicialmente, o melhor pH foi estudado. Para isso, soluções de diferentes pHs (variando de 3 a 10) contendo lisozima na concentração de 1mg/mL foram avaliadas. Após a determinação do melhor pH de adsorção, foram realizados os estudos de cinética de adsorção avaliando tempos que variaram de 1 a 60 min. Os dados foram tratados de acordo com os modelos de psudo-primeira ordem, pseudo-segunda ordem, ordem fracionária, difusão intra-partícula e quimiossorção. Definida a cinética de adsorção, as isotermas foram construídas. Ao conjunto de dados, foram aplicados seis modelos de isotermas de adsorção: Langmuir, Freundlich, Sips, Toth, Redlich-Peterson e Khan. Posteriormente, o melhor pH para dessorção foi avaliado, testando a dessorção em soluções com pHs que variaram de 3 a 10. Definido este parâmetro, avaliou-se a influência da força iônica na dessorção. Para isso foram testadas soluções com concentrações de NaCl que variaram de 0,01 a 0,5 mol/L. Por fim, a influência do tempo na dessorção foi estudada, avaliando-se o tempo de equilíbrio de dessorção de 1 a 60 min.

Resultado e discussão

A caracterização física do material mostrou que o recobrimento foi efetivo, tanto com TEOS quanto com BSA e que não houve comprometimento estrutural das MNPs após o revestimento. Com relação ao pH de adsorção, em pH 10 as MNPs retiveram mais eficientemente a lisozima. Neste pH a lisozima presente em solução apresenta-se carregada positivamente e as MNPs apresentam-se carregadas negativamente, o que favorece a interação eletrostática entre o material e a enzima a ser adsorvida. No que se refere à cinética de adsorção, o tempo requerido para o equilíbrio foi de 5 min e o modelo que melhor se ajustou aos dados experimentais foi o de pseudo-segunda ordem. Este modelo pressupõe que no processo de adsorção ocorra ligação química entre adsorbato e adsorvente, por meio de valências livres das espécies envolvidas. Quanto às isotermas, o modelo que apresentou melhor correlação aos dados foi o de Freundlich. Assim, para o material estudado, a capacidade máxima adsortiva foi de 100,91 mg lisozima/g MNPs. Também foi possível inferir que no adsorvente estudado, os sítios de ligação são energeticamente heterogêneos (n=2,81). O pH 5,0 foi escolhido para a dessorção da enzima, visto que neste pH os resultados foram satisfatórios e não há comprometimento da atividade enzimática. Em pH 5,0 tanto a lisozima, quanto a superfície das MNPs estão carregadas positivamente, o que favorece a repulsão eletrostática. A força iônica do meio influenciou na dessorção e bons resultados foram obtidos quando a concentração de NaCl foi de 0,2 mol/L. No que se refere ao tempo de dessorção, este parâmetro não influenciou no processo e por esta razão, o menor tempo (1 min) foi selecionado. Ao final, a quantidade de lisozima recuperada foi cerca de 19 mg/g MNPs.

Conclusões

O material desenvolvido para a obtenção de lisozima presente em clara de ovos se mostrou eficiente e de fácil obtenção. Através dos resultados obtidos pelas técnicas de caracterização pode-se observar que as etapas de revestimento foram efetivas. Também foi possível determinar quais as melhores condições para a adsorção e dessorção desta enzima. Assim, o material sintetizado apresenta grandes potencialidades para ser utilizado como adsorvente para obtenção de lisozima a partir de clara de ovos de galinha, uma matriz barata e de fácil obtenção.

Agradecimentos

Os autores agradecem à CAPES, à FAPEMIG e à UNIFAL-MG pelo suporte e apoio financeiro.

Referências

CHEN, J.; LIN, Y.; JIA, L. Preparation of anionic polyelectrolyte modified magnetic nanoparticles for rapid and efficient separation of lysozyme from egg white. J. Chromatogr. A, v. 1388, p. 43-51, 2015.
MORAES, G. O. I. et al. A new restricted access molecularly imprinted polymer capped with albumin for direct extraction of drugs from biological matrices: the case of chlorpromazine in human plasma. Anal. Bioanal. Chem., v. 405, p. 7687-7696, 2013.

Patrocinadores

Capes CNPQ Renner CRQ-V CFQ FAPERGS ADDITIVA SINDIQUIM LF EDITORIAL PERKIN ELMER PRÓ-ANÁLISE AGILENT NETZSCH FLORYBAL PROAMB WATERS UFRGS

Apoio

UNISC ULBRA UPF Instituto Federal Sul Rio Grandense Universidade FEEVALE PUC Universidade Federal de Pelotas UFPEL UFRGS SENAI TANAC FELLINI TURISMO Convention Visitors Bureau

Realização

ABQ ABQ Regional Rio Grande do Sul