Análise qualitativa do Paraloid B-72 e Butvar B-98 quanto à sua robustez ante ácido fórmico e ácido acético em exemplares fósseis

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Iniciação Científica

Autores

Medeiros, A.M.L.M. (IFRJ) ; Silva, H.P. (MUSEU NACIONAL) ; Silva, A.M.P. (IFRJ)

Resumo

As etapas de preparação em fósseis são de notável relevância: uma vez que o exemplar com o qual se trabalha é único, todo possível dano pode causar o irrecuperável prejuízo em informações paleontológicas. Na preparação química o fóssil sofre inicialmente os processos de limpeza, proteção, imersão, neutralização e secagem. A proteção, etapa mais importante nessa técnica, se resume no uso de resinas como o Paraloid B-72 e o Butvar® B-98 na região exposta do exemplar, garantindo que não haverá danos durante a imersão do mesmo em um ácido diluído (ácido fórmico ou ácido acético) para remoção dos sedimentos. Neste trabalho, a robustez destas resinas foi testada em função do solvente usado em sua dissolução, e do ácido usado na etapa de imersão.

Palavras chaves

Preparação de fósseis; Resinas protetoras; Vertebrados fósseis

Introdução

A preparação de fósseis é uma etapa decisiva para o desenvolvimento dos estudos por especialistas (VASCONCELOS, SANTOS e KRAEMER, 2016). Nessa, é removido o material sedimentar que envolve o espécime, promovendo a manifestação de um maior número de detalhes provindos do animal fossilizado. Assim, as etapas básicas para a preparação de um fóssil, de acordo com Rixon (1976), Grant (1989), Kellner (1995) e Davidson (2003), se resumem a: limpeza, onde o exemplar é imerso durante 30 minutos em ácido acético ou fórmico 5%-10% v/v; proteção com uso de resinas protetoras como Paraloid B- 72 e Butvar® B-98 para impedir danos ao fóssil; imersão do exemplar durante 2 a 8 horas em ácido acético ou ácido fórmico 5%-10% v/v; neutralização do material imerso por meio de diluição em água corrente; e secagem ao ar livre. Para a dissolução dessas resinas, é relatado na literatura o uso de etanol, acetona e acetato de etila (CHAPMAN e MASON, 2003; DAVIDSON e ALDERSON, 2009). O uso de ácidos é uma etapa relevante da preparação, onde a matriz sedimentar, sobretudo em rochas calcárias, é destruída ou enfraquecida. Isso ainda facilita, caso necessário, o posterior retrabalho com a preparação mecânica. Como os ácidos podem agredir também os fósseis, algumas substâncias são comumente empregadas na proteção da região exposta, o que impede a corrosão. Todavia, são desconhecidos trabalhos que avaliam a robustez destas substâncias protetoras (e.g. MENDES, 1988; CARVALHO, 2010; DAVIDSON e BROWN, 2012).

Material e métodos

Um exemplar de peixe da espécie Vinctifer comptoni Jordan (1841) preservado em rochas calcárias provenientes do Membro Romualdo (Cretáceo Inferior do Nordeste do Brasil, Bacia do Araripe) foi usado para os testes (Fig. 1). Este exemplar sofreu preparação mecânica e foi dividido por uma secção mediana, formando duas metades, o que permite efetuar análises para o ácido acético com uma destas, e análises para o ácido fórmico com a outra. Uma das faces do fóssil é dividida em quatro seções por meio de medição com uma régua de 30 cm ± 0,1 cm. Duas destas seções (a e b) foram usadas para aplicação de Paraloid B-72 dissolvido a uma concentração de 5% m/v em respectivos dois solventes: acetona e acetato de etila. A terceira seção (c) sofre aplicação de Butvar® B-98 em etanol, e a quarta seção (d) é separada para um teste em branco. O fóssil é imerso em uma solução de ácido acético 5% v/v em um béquer de 1000 mL. Após 16 horas, ocorre o processo de lavagem, secagem e análise. A outra metade do exemplar passa pelos mesmos procedimentos, exceto que a solução usada é de ácido fórmico 5% v/v. Uma secção de osso fossilizado proveniente de outra formação geológica também foi testada para permitir comparações entre exemplares preservados em rochas de composições diferentes (Fig. 2). Nesta, uma das faces do fóssil foi dividida em quatro seções, sendo três destas (a’, b’ e c’) para aplicação de Paraloid B-72 dissolvido a uma concentração de 5% m/v em respectivos três solventes: acetona, acetato de etila e etanol. A quarta seção (d’) foi separada para um teste em branco. Na outra face deste exemplar, foi aplicado Butvar® B-98 na primeira seção (e’).

Resultado e discussão

As diferenças no ácido utilizado se deram em questão de cinética: o ácido fórmico consome rapidamente o exemplar, em comparação ao ácido acético. Contudo, quanto à resina, os resultados se mostraram análogos. Foi observado que a acetona é um bom solvente para a proteção superficial, porém sua penetração no exemplar não é satisfatória, devido à sua pressão de vapor. Mesmo sendo o solvente de menor viscosidade dentre os utilizados (BRASIL, 2010a), sua alta pressão de vapor carreia novamente o polímero para a superfície, impedindo sua contenção no interior do exemplar. Sob imersão, o ácido que penetra pelas outras seções consegue chegar até essa região, constatado pelas pequenas manchas circulares formadas. O etanol apresentou resultados satisfatórios, com sua baixa pressão de vapor e alta viscosidade em comparação aos solventes utilizados (BRASIL, 2010b). Permite a penetração do Butvar® B-98 e, também, a proteção em nível de superfície, por mais que ainda ocorra o fenômeno, sutilmente, das manchas circulares. Porém, o Butvar® B-98 tornou-se amarelado e opaco após imersão (o que indica degradação), e o Paraloid B-72, mais resistente que o Butvar® B-98, forma uma suspensão em etanol, impedindo a determinação de um resultado preciso sob a concentração de 5% m/v. O acetato de etila não apresentou a proteção a nível superficial, muito menos a penetração do polímero. Suas características impediram a rápida absorção, ou estagnação na superfície, o que manteve o exemplar vulnerável ao ácido que entrou não somente pela superfície como também por outras seções, o que foi constatado pelo padrão de perfurações encontradas. No teste em branco houve perfurações e a destruição da rocha, sendo os resultados mais intensos em V. comptoni.

Figura 1 - Exemplar de V. comptoni

A. Exemplar sem tratamento. B-C. Após imersão em ácido fórmico. Os traços representam a divisão entre as seções.

Figura 2 - Exemplar de outra formação geológica

A-B. Antes da imersão em ácido acético. C-D. Após imersão em ácido acético.

Conclusões

É possível observar que etanol apresentou resultados satisfatórios. Todavia, é ideal o uso do Paraloid B-72, pela sua resistência, durabilidade e versatilidade (DAVIDSON e ALDERSON, 2009). E como este é pouco solúvel em etanol, os melhores resultados foram encontrados com acetona. Assim, é preciso ter em vista métodos para solubilização do Paraloid B-72 para dissolução em etanol, como o aquecimento, uso de soluções de menor concentração ou mistura de solventes, como proposto por Davidson e Brown (2012).

Agradecimentos

Agradeço à Luciana Barbosa de Carvalho e ao Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional.

Referências

BRASIL. Ficha de Informação de Produto Químico. Sistema Sinter - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), 2010a. Disponivel em: <http://sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/produtos/ficha_completa1.asp?consulta=ACETONA>. Acesso em: 25 jul. 2017.

BRASIL. Ficha de Informação de Produto Químico. Sistema Sinter - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), 2010b. Disponivel em: <http://sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/produtos/ficha_completa1.asp?consulta=%C1LCOOL%20ET%CDLICO>. Acesso em: 25 jul. 2017.

BRASIL. Ficha de Informação de Produto Químico. Sistema Sinter - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), 2010c. Disponivel em: <http://sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/produtos/ficha_completa1.asp?consulta=ACETATO%20DE%20ETILA>. Acesso em: 25 Jul. 2017.

CARVALHO, I. D. S. PALEONTOLOGIA - Volume 1: Conceitos e Métodos. 3. ed. Rio de Janeiro: Interciência, v. 1, 2010.

CHAPMAN, S.; MASON, D. Literature Review: The Use of Paraloid B-72 as a Surface Consolidant for Stained Glass. Journal of the American Institute for Conservation, v. 42, n. 2, p. 381-392, 2003.

DAVIDSON, A. Preparation of a fossil dinosaur. American Institute for Conservation of Historic and Artistic Works Objects Specialty Group Postprints, Washington D.C., v. 10, p. 49-61, 2003.

DAVIDSON, A.; ALDERSON, S. An introduction to solution and reaction adhesives for fossil preparation. Methods in Fossil Preparation: Proceedings of the First Annual Fossil Preparation and Collections Symposium, p. 53-62, 2009.

DAVIDSON, A.; BROWN, G. W. Paraloid B-72: Practical tips for the vertebrate fossil preparator. Collection Forum, Nebraska, v. 26, n. 1, p. 99-119, 2012.

GRANT, R. E. Extraction of fossils from carbonates by acid. The Paleontological Society Special Publication, Washington, n. 4, p. 237-243, 1989.

KELLNER, A. W. A. Técnica de preparação para tetrápodes fósseis preservados em rochas calcárias. A Terra em Revista, Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais, São Paulo, p. 24-31, 1995.

MENDES, J. C. Paleontologia Básica. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1988. 347 p.

RIXON, A. E. Fossil animal remains: their preparation and conservation. London: The Athlone Press, University of London, 1976.

VASCONCELOS, A. G.; SANTOS, L. V.; KRAEMER, B. M. Preparação físico-química de esqueleto submerso encontrado na Caverna Poço Azul, Bahia. Terræ Didatica, Belo Horizonte, v. 12, n. 3, p. 163-171, Jul. 2016.

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