Determinação das concentrações dos compostos BTEX no ar de postos revendedores de combustíveis e avaliação dos riscos à saúde dos trabalhadores

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ambiental

Autores

Cruz, L.P.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ; Alves, L.P. (FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA) ; Gomes, I.V.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ; Esteves, M.B. (FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA) ; Santos, A.V.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ; Nunes, L.S.S. (FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA) ; Brito, A.V.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ; Santos, E.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA)

Resumo

O objetivo deste trabalho foi determinar as concentrações dos compostos BTEX no ar de dez postos revendedores de combustíveis (PRCs) nas cidades de Salvador e Feira de Santana-BA, e avaliar os riscos à saúde dos trabalhadores frentistas relacionados à exposição a esses compostos. Foram utilizados amostradores passivos difusivos (APs) com períodos de exposição de 8 h. Os compostos BTEX foram extraídos com 1mL de CS2, sendo depois determinados por GC-FID. As concentrações encontradas no ar dos PRCs variaram de 264,83 a 644,84 μg m-3 para BTEX total. Os valores encontrados nos 10 PRCs para o risco de câncer variaram de 4,06x10-5 - 3,78x10-4 (média de 1,82x10-4) para trabalhadores expostos ao benzeno por 30 anos (limite aceitável igual a 1,00x10-6).

Palavras chaves

BTEX; PRCs; Riscos à saúde

Introdução

Postos revendedores de combustíveis (PRCs) são estabelecimentos que desempenham atividades de revenda varejista de combustíveis líquidos derivados do petróleo, álcool combustível e outros combustíveis automotivos. Estas atividades, somadas à elevada taxa de evaporação dos combustíveis e às perdas evaporativas pelas emissões dos veículos constituem as principais fontes de alteração da qualidade do ar nestes ambientes ocupacionais (CRUZ et al., 2017). A gasolina é um dos mais importantes combustíveis derivados do petróleo. Entre os hidrocarbonetos aromáticos presentes na gasolina, estão os compostos benzeno (C6H6), tolueno (C7H8), etilbenzeno (C8H10) e orto, meta e para-xileno (C8H10) – mais conhecidos pela sigla BTEX. Estes compostos são classificados como poluentes ambientais prioritários devido à elevada toxicidade e mobilidade, podendo causar problemas de saúde, desde irritação de olhos, mucosas e pele, depressão do sistema nervoso central (SNC) até o desenvolvimento de câncer (ATSDR, 2004; SNYDER, 2012). Dentre estes compostos, o benzeno é considerado o mais perigoso e tem se tornado uma das substâncias mais intensamente regulamentada no mundo por ser classificado como agente carcinogênico para humanos (Grupo 1), desde 1982, pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC, 2012). Os riscos da exposição ocupacional aos compostos BTEX têm sido mostrados em alguns estudos epidemiológicos, e estes têm sugerido que indivíduos que trabalham em PRCs experimentam sintomas de doenças respiratórias crônicas, diminuição da função pulmonar, cefaleia maior propensão a asma e alterações hematológicas periféricas, como anemia, leucopenia, linfocitopenia e trombocitopenia, provocados por diferentes níveis desses compostos orgânicos (TUNSARINGKARN et al., 2012; 2013).

Material e métodos

As amostragens de BTEX no ar dos PRCs foram realizadas utilizando APs da marca Radiello contendo carvão ativado como adsorvente, que foram expostos próximos às bombas de abastecimento, em locais livres de barreiras (paredes), para não dificultar a dispersão do ar para o meio adsorvente, a uma altura de aproximadamente 2 m, por períodos de 8 h (carga horária de trabalho diária dos frentistas). Os analitos foram posteriormente recuperados por dessorção química, com 1,0 mL de dissulfeto de carbono (CS2) em banho de ultrassom com água gelada (T≈ 15 °C), para evitar qualquer possibilidade de evaporação dos BTEX ou do CS2, durante 10 min com agitação manual a cada 2 min, para garantir que o solvente estivesse em contato com os analitos contidos no cartucho. Para determinação das concentrações de BTEX, foi utilizada cromatografia a gás (CG) com detecção por ionização em chama (FID), com as seguintes condições de análise: cromatógrafo a gás (marca Agilent), modelo 7820, utilizando-se uma coluna HP-5 (5% fenil, 95% dimetilpolissiloxano), da Agilent (30 m de comprimento x 0,32 mm ID x 0,25 μm de espessura do filme), cuja temperatura inicial foi mantida a 40 °C por 3 min, em seguida elevada a 140 °C com taxa de aquecimento de 8 °C/min e elevada a 220 °C com taxa de aquecimento de 20°C/min, permanecendo por 4,5 min nesta temperatura; injetor com divisão de fluxo (split) na razão 1:20, utilizando como gás de arraste hélio a uma vazão de 1, 5 ml min-1 e nitrogênio como gás make-up, com a chegada de ambos ao detector a uma vazão de 30 ml min-1, sendo a chama do detector mantida com ar sintético a 300 ml min-1 e hidrogênio a 30 ml min-1. O volume injetado de amostra é de 2 µL. O software ChemStation foi usado na aquisição e processamento dos dados.

Resultado e discussão

As concentrações dos compostos BTEX presentes no ar nos PRCs estudados são mostradas na Figura 1, e variaram de 46,72 - 435,4 µg m-3 para benzeno; 25,54 - 342,46 µg m-3 para tolueno; 7,10 - 30,07 µg m-3 para etilbenzeno; 9,36 - 89,73 µg m-3 para m,p-xileno e 9,79 - 52,29 µg m3 para o-xileno. As concentrações de benzeno em três PRCs estavam acima do limite de exposição recomendado (REL = 320 µg m-3) pela NIOSH (2007) que estabelece limites mais rígidos. Os resultados obtidos de riscos carcinogênico (RC) e não- carcinogênico, expresso como quociente de risco (HQ), para a saúde dos trabalhadores frentistas devido à exposição aos compostos BTEX em 10 PRCs localizados em Salvador e Feira de Santana-BA, por 30 anos, são mostrados na Tabela 1. Os valores encontrados nos PRCs investigados para RC variaram de 4,06x10-5 - 3,78x10-4 (média de 1,82x10-4) para os trabalhadores frentistas expostos ao benzeno por 30 anos (limite aceitável igual a 1,00x10-6), mostrando que estes valores estão cerca de 40-378 vezes acima do limite aceitável pela EPA, reforçando a necessidade de adotar medidas proteção ao trabalhador. (CRUZ et al., 2017; ALVES et al., 2017).Os valores médios estimados para HQ devido à exposição dos trabalhadores frentistas aos compostos benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos foram iguais a 1,84, 5,76x10-3, 4,59x10-3 e 1,37x10-1, respectivamente (limite aceitável HQ <1). Para o benzeno, na maioria dos PRCs investigados (70%) os valores de HQ estão acima de 1. Para os demais compostos, os valores de HQ foram inferiores a 1 (Tabela 1). Entretanto, considerando a contribuição de todos os compostos BTEX, através da estimativa do índice de perigo (HI = ∑HQ), o valor médio encontrado foi igual a 1,99, indicando efeitos não- carcinogênicos à saúde dos frentistas.

Figura 1 - Concentrações médias de BTEX (µg m-3) em PRCs



Tabela 1 - RC e HQ devido à exposição dos frentistas aos BTEX em PRCs



Conclusões

As concentrações de BTEX mostraram que os PRCs são locais potencialmente perigosos, sobretudo considerando a exposição ao benzeno. As concentrações de benzeno excederam o limite recomendado pelo NIOSH em três PRCs. Entretanto, os demais compostos não excederam os limites estipulados por agências nacionais e internacionais. A estimativa do RC para o benzeno é muito elevada, pois os valores encontrados nos PRCs estão 40-378 vezes acima do aceitável pela USEPA e reforça a necessidade de adoção de medidas urgentes para a redução da exposição destes trabalhadores aos compostos BTEX.

Agradecimentos

CNPq, FAPESB

Referências

ALVES, L. P.; VIEIRA, D. S. P.; NUNES, L.S.S.; CRUZ, L. P. S.; REIS; A. C. S.; GOMES, Í. V. S.; LUZ, S. R.; SANTOS, A. V. S.; ESTEVES, M. B. Relationship between symptoms, use of PPE and habits related to occupational exposure to BTEX compounds in workers of gas stations in Bahia, Brazil. Journal of Environmental Protection. 8: 650-661, 2017.

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CRUZ, L. P. S.; ALVES, L. P.; SANTOS, A. V. S.; ESTEVES, M. B.; GOMES, Í. V. S.; NUNES, L.S.S. Assessment of BTEX Concentrations in Air Ambient of Gas Stations Using Passive Sampling and the Health Risks for Workers. Journal of Environmental Protection. 8: 12-25, 2017.

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TUNSARINGKARN, T.; KETKAEW, P.; SIRIWONG, W.; RUNGSIYOTHIN, A.; ZAPUANG, K. Benzene Exposure and Its Association with Sickness Exhibited in Gasoline Station Workers. International Journal of Environmental Pollution and Solutions. 1:1-8, 2013.

U.S. EPA - ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Supplemental guidance for assessing cancer susceptibility from early-life exposure to carcinogens. Risk Assessment Forum, Washington, DC, 2005.

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