ÓLEO DE PEIXE COMO MATÉRIA PRIMA DE CO-PRODUTO (BIODIESEL).

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Ambiental

Autores

Ferreira Silva, R. (IFBA) ; dos Santos, E. (IFBA)

Resumo

Os municípios de Glória-Ba e Paulo Afonso-Ba são grandes produtores de tilápia, biocombustíveis podem ser produzidos a partir de seus resíduos. O presente trabalho teve como objetivos avaliar o rendimento de óleo extraído das vísceras e produção de biodiesel a partir dele. O rendimento de óleo foi 42,646% ±1,59. O índice de acidez (IA) do óleo foi 4,24 ± 0,16 mg KOH/g. Os biodieseis 100% de óleo de tilápia e os blends com 50 e 25% com óleo de soja, apresentaram IA de 1,11, 0,83 e 0,48 mg KOH/g, respectivamente. Blends podem viabilizar a utilização desse resíduo.

Palavras chaves

Gestão de Resíduos; Óleo de peixe; Biodiesel

Introdução

No ramo da piscicultura as empresas sustentáveis devem utilizar seus resíduos de processamento, eles representam metade do volume da matéria- prima e causa danos ao meio ambiente (ARRUDA et al., 2007; OETTERER, 2002; SANTOS et al., 2007). Biocombustíveis podem ser produzidos a partir deles, o óleo de peixe apresenta potencial para ser utilizado na produção de biodiesel, sua composição lipídica, rica em ácidos graxos de cadeia longa, abundância e baixo custo favorecem seu uso (ALMEIDA et al., 2015; COSTA et al. 2013; GARCÍA-MORENO et al., 2014; YAHYAEE et al., 2013). Nas regiões do submédio e baixo São Francisco (Figura 1), nos municípios de Paulo Afonso e Glória a piscicultura é realizada por associações, cooperativas e empresas de iniciativa privada. (SOARES et al., 2007). O presente trabalho tem como objetivos realizar extração do óleo das vísceras de tilápia, avaliar o rendimento e uso para produção de biodiesel, produzir biodieseis com blends de óleo de peixe e soja e fazer análise preliminar dos mesmos.

Material e métodos

As vísceras foram obtidas de uma piscicultura no município de Glória. A figura 2 é uma ilustração genérica das etapas desse trabalho. A extração de óleo foi realizada aquecendo-se as vísceras a 70°C, seguido de decantação e centrifugação (5000 rpm por 3 min). O rendimento em óleo foi obtido tendo como referência a massa de óleo (mo) e a massa de víscera de tilápia (mr) mediante a equação: rendimento = (m0/mr). O índice de acidez do óleo extraído foi realizado em triplicata segundo as normas analíticas do IAL – Instituto Adolfo Lutz (2008). Para minimizar efeito negativo do elevado índice de acidez do óleo, além do biodiesel 100% de gordura animal foram feitos blends (50 e 25% de óleo de tilápia) com óleo de soja. A síntese dos biodieseis foi feita pela transesterificação (via metílica) como descrito por Costa et al. (2013). Foram feitas análises do índice de acidez das amostras de biodiesel e confrontado com a especificação do biodiesel segundo a resolução ANP n° 7/2008.

Resultado e discussão

O óleo extraído das vísceras de tilápia apresentou coloração amarelada e translucida, o rendimento de óleo encontrado nesse trabalho foi 42,646% ±1,59, esse valor é semelhante ao descrito por Santos et al. (2015), que foi 42,8% ± 3,1, mas é superior ao de outras espécies. Rai et al. (2010) encontrou 21% nas vísceras de carpas, enquanto Jayasinghe e Hawboldt (2013), 32% para bacalhau. O índice de acidez encontrado para o óleo de peixe foi 4,24 ± 0,16 mg KOH/g. De acordo com Santos et al. (2015) é um valor alto para o processo de transesterificação alcalina, isso foi comprovado pela saponificação no experimento com 100% de óleo de tilápia. Entre os biodieseis produzidos somente o com menor quantidade da gordura animal ficou abaixo do limite estabelecido pela Resolução n° 7/2008 ANP para o B100 que é 0,5 mg KOH/g, apresentando 0,48 mg KOH/g. 1,11, 0,83 e 0,48 mg KOH/g são os índices de acidez para os biodieseis 100, 50 e 25%, respectivamente. Demonstrando uma relação direta entre a acidez inicial do óleo e o IA final do biodiesel. No entanto foi possível observar que blends de oléo de tilápia com óleos mais estáveis podem melhorar esta propriedade.

Figuras 1 e 2



Tabela 1



Conclusões

O óleo nas vísceras das tilápias representam aproximadamente 43% do resíduo. Ele tem potencial para produção de biodiesel, mas o elevado índice de acidez (4.24 ± 0.157 mg KOH/g) restringe sua utilização. Blends com outras matérias primas de composição química mais indicada podem viabilizar a utilização desse óleo para produção de biodiesel (B100) conforme as especificações da ANP. Trabalhos posteriores podem ser realizados com as vísceras de tilápia como matéria prima para silagem.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia - IFBA, pela estrutura e reagentes utilizados no trabalho.

Referências

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