ESTUDO FITOQUÍMICO COMPARATIVO DE UMA ESPÉCIE DE Stryphnodendron sp. ATRAVÉS DA ANÁLISE DE ESPECTRO DE UV/Vis EM CLAE.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Gomes, P.W.P. (UFPA) ; Muribeca, A.J.B. (UFPA) ; Santiago, J.C.C. (UFPA) ; Sá, P.R.C. (UFPA) ; Yoshioka e Silva, C.Y. (UFPA) ; Silva, M.N. (UFPA)

Resumo

O presente trabalho descreve um estudo investigativo por comparação de espectros UV/Vis de substâncias já relatadas na literatura e possíveis existências destas no extrato etanólico de uma espécie de Stryphnodendron sp. oriunda da floresta amazônica. Analisou-se em um cromatógrafo líquido (Shimadzu®) por método em gradiente com variação de 5 á 100% de ACN (H2O:ACN) o comportamento fitoquímico do extrato, e posteriormente adquiriu- se espectros de UV para comparação com espectros de substâncias isoladas de espécies do gênero Stryphnodendron. Os resultados demonstraram evidências parciais de ácido gálico e galato de epigalocatequina, desta forma, possibilitou uma triagem fitoquímica preliminar como subsídio para estudos mais avançados de identificação de substâncias provindas de matrizes vegetais.

Palavras chaves

Barbatimão; Stryphnodendron; Espectroscopia ultraviole

Introdução

O uso de chás de diversas partes de plantas empregadas na medicina popular com poder de cura para diversas doenças, vem sendo utilizado desde as civilizações mais antigas até a contemporaneidade. Contudo, segundo Turolla e Nascimento, (2006), em determinadas situações, esta prática pode trazer riscos à saúde do paciente devido à maioria dos fitoterápicos serem utilizados de forma empírica, e também devido as preparações fitoterápicas geralmente não seguirem padrões rígidos de controle de qualidade. Dentre as diversas plantas com atividade biológicas já relatadas em literaturas, destaca-se as do gênero Stryphnodendron sp. que já deu origem a fluidos, cremes e pomadas com atividades cicatrizantes, como os realizados por Eurides et al., (1996), Silva et al., (2009), Barroso et al., (2010), Coelho et al., (2010) e Lima et al., (2010). Ressalta-se que além desta atividade, destaca-se relatos já comprovados de outras propriedades medicinais, tais como: agente hemostático, anti-inflamatório (MELLO, 1997), antidiarréico, adstringente (BRANDÃO et al., 2008), antimicrobiano (BARDAL et al., 2011), antisséptico (SOUZA et al., 2007), estrogênico (GARCIA et al., 2010) e antiofídico (LUCENA et al., 2011). Diante do exposto, esta pesquisa descreveu um estudo comparativo, através da análise de espectros UV/Vis, entre substâncias cujas elucidações já foram relatadas em espécies de Stryphnodendron adstringens, S. obovatum, S. polyphyllum com UV/Vis encontrados preliminarmente em uma espécie de Stryphnodendron sp. da floresta amazônica.

Material e métodos

Obtenção e preparo da amostra O material botânico (casca) foi coletado na Embrapa Amazônia Oriental, sendo posteriormente seco em estufa a 40 ºC até peso constante; prosseguindo-se de sua trituração em moinho de facas. O preparo do extrato bruto foi realizado com 500g de material botânico, o qual foi macerado em duas bateladas consecutivas de 24 horas cada, utilizando etanol 95% m/v como solvente. O extrato líquido foi submetido à rotaevaporação à vácuo e secagem em estufa de ventilação (40 °C) para obtenção de material seco. Preparo da amostra e análise por CLAE Uma alíquota de 10 mg do extrato foi solubilizada em 1 mL de H2O:ACN (8:2, v/v) e transferiu-se para cartucho SPE C18 previamente acondicionado com 1 mL de acetonitrila e 1 mL de água. Posteriormente filtrou-se a extração com auxílio de filtro de seringa 0,45 µm (hidrofílico), e por fim transferiu-se ao vial em concentração de 1 mg/mL. A análise por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) procedeu-se com injeção automática, com um loop com capacidade de 20μL, tendo coluna C18-5µm (Phenomenex®) como fase estacionária. Utilizou-se a metodologia descrita por SNYDER (1997), onde o fingerprint do extrato etanólico foi desenvolvido em modo de eluição gradiente de ampla faixa (5-100% orgânico/60min) usando acetronitrila acidificada (0,1% de ácido fórmico) como modificador orgânico na taxa de 1,58%/min.

Resultado e discussão

Na investigação fitoquímica do extrato bruto do Stryphnodendron sp., destaca-se a predominância de substâncias de alta polaridade, considerando que todos os constituintes presentes no extrato bruto eluíram da coluna cromatográfica no intervalo de 10 – 25min de análise (Figura 1), o que corresponde a uma faixa percentual de 79,2 – 55,5 % de água presente na coluna. No estudo comparativo de espectros de UV/Vis de substâncias já descritas na literatura, destacam-se a presença de taninos. Na Figura 2, destaca-se a comparação com o padrão (λ 216 e 272 nm) identificado em Stryphnodendron adstringens por Nascimento (2008) e o espectro ultravioleta (λ 215 e 269 nm) do ácido gálico (ácido 3,4,5-triidroxibenzóico) obtido neste trabalho. Também pertencentes à classe de taninos, evidencia-se na Figura 2, o espectro de Galato de epigalocatequina (λ 207 e 275 nm), padrão identificado por Nascimento (2008), e o espectro UV-Vis (λ 205 e 272) encontrado no fingerpint do extrato bruto da espécie estudada (Stryphnodendron sp.). Admite-se a possibilidade de existência dos compostos ora descritos quando se avalia os comprimentos de ondas e os formatos dos picos nas absorbâncias mínimas e máximas. Entretanto, para que o método de identificação preliminar comparativa por análise de espectros na região do ultravioleta possa ser assegurado, deve-se realizar um estudo mais avançado, isto é, se valendo de ferramentas e métodos mais precisos e exatos (isolamento, purificação, RMN de 1H e 13C, espectros de massas, fórmula molecular etc.) a fim de corroborar a existência de constituintes químicos já reportados na literatura paras as demais espécies do gênero.

Figura 1

Cromatograma do extrato bruto de Stryphnodendron sp (Gradiente variando de 5-100% de ACN/60min)

Figura 2

Espectros de ultravioleta dos padrões purificados por Nascimento (2008) e os obtidos nesta pesquisa.

Conclusões

Os resultados descritos demonstraram a possível existência de dois compostos (ácido gálico e galato de epigalocatequina) já relatados na literatura com atividades biológicas, porém sem afirmar-se total evidência, novos resultados serão publicados futuramente. Portanto, o método de triagem fitoquímica preliminar por espectroscopia ultravioleta mostrou-se parcialmente viável, podendo ser uma alternativa inicial para estudos avançados de isolamento e identificação de compostos orgânicos provindos de matrizes vegetais. Espera-se que a presente investigação possibilite futuros estudos ou aprimoramentos para a técnica de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência a fim de promover mais rapidez, eficiência e robustez aos resultados.

Agradecimentos

A Universidade Federal do Pará; ao CNPq pelo fomento de bolsas de mestrado; ao Laboratório de Cromatografia Líquida (LABCROL) da UFPA.

Referências

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