Composição química,citotoxicidade e atividade larvicida frente Aedes aegypti do óleo essencial de Vitex gardneriana Schauer.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Pires Pereira, E.J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Eire Silva Alencar de Menezes, J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Silva dos Santos, H. (UNIVERSIDADE DO VALE DO ACARAÚ) ; Magno Rodrigues Teixeira, A. (UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI) ; Costa Siqueira, S.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Rocha Sousa Feitosa, C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; dos Reis Lima, J. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Alves Holanda, C.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

O presente trabalho teve como principais objetivosidentificar os compostos químicos do óleo essencial das folhas de Vitex gardneriana, avaliaro potencial larvicida frente as larvas do mosquito Aedes aegypti, bem como analisar a toxicidade deste óleo frente Artemia Salina,na busca de substancias que possam contribuir no controle de pragas e na produção de novos fármacos com espécies endêmicas do nordeste brasileiro. Foram identificados 32 compostos no óleo analisado, e dentre eles o cis-calameneno e 6,9-guaiadieno foram os componentes majoritários. O teste larvicida mostrou que o óleo pode ser considerado um agente natural contra larvas de A. aegypti com valores de LC50 de 28,0 μg/mL, já com relação a toxicidade o óleo essencial é considerado moderadamente tóxico (LC50 98,1 μg/mL).

Palavras chaves

Vitex gardneriana; Óleo essencial; Atividades biológicas

Introdução

O Brasil vive uma crise na saúde pública; em 2016, o país foi surpreendido por um surto de epidemia do vírus Zika, flavivírus que é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como o vírus da dengue. A principal forma de combate aos vetores é o uso de inseticidas convencionais, causando efeitos colaterais, fazendo-se necessário a busca por inseticidas naturais(NICC, 2003;VALLE et al., 2015, 2016). Muitos populares fazem uso de fitoterápicos sem o conhecimento adequado,tal atividade é perigosa, pois a presença de determinados constituintes, como os alcaloides, pode ser prejudicial ao invés de tratar a enfermidade quando utilizados de forma inadequada (CUNHA et al., 2003). Assim, os óleos essenciais surgiram como uma potencial fonte alternativa ao uso de inseticidas sintéticos, além de serem ecológicos e biodegradáveis, a presença de compostos bioativos naturais são um atrativo para as indústrias de cosméticos, farmacêuticas e alimentícias para a identificação de novos agentes de controle de pragas, com ênfase nosflavivírus (GOVINDARAJAN, 2010a; GOVINDARAJAN et al., 2011a). A espécie VitexgardnerianaSchauer (Lamiaceae) é popularmente conhecida por “jaramataia”. Pela população, a espécie é utilizada para diversos fins terapêuticos, tais como: verminose, gripe, gases, dor de barriga, sinusite, inflamação na próstata (ROQUE, 2009), e ainda para dor nos ossos, problemas nos rins, problema na coluna, calmante, dentre outros (ANDRADE et al., 2012).O presente trabalho de óleos essenciais da flora do Nordeste do Brasilrelata a atividade larvicida do óleo essencial das folhas de V.gardineranafrenteA. Aegypti, bem como sua toxicidade frente a Artemia salinaLeach, identificando também os componentes químicos presentes neste óleo pela primeira vez na literatura.

Material e métodos

As folhas frescas (3,61 Kg) de V. gardineriana, coletadas no município de Meruoca-Ceforam submetidas a hidrodestilação em aparelho do tipo de Clevenger durante 2 horas. A análise quantitativa (CG-DIC) foi realizado num cromatógrafo de gás Shimadzu GC-17, e a análise qualitativa (CG-EM) foi realizada em um modelo Hewlett-Packard Model 5971. Para a realização do experimento da atividade larvicida, os óleos essenciais foram colocados em recipientes de vidro, dissolvidos em 20 mL de H2O/DMSO (1,5% v/v) nas concentrações de 50 a 500 μg/mL, seguida pela adição de 50 larvas de A. Aegyptino terceiro estágio. Para cada experimento em triplicata, foram realizados ensaios de controles positivo (Temephos a 3,22 μg/mL) e negativo (água destilada contendo 1,5% de DMSO). A mortalidade foi registrada após 24 h de exposição. A partir da linha de regressão, os valores de LC50 foram lidos representando a concentração letal para 50% de mortalidade larval de A. aegypti (SANTIAGO et al., 2006; FEITOSA et al., 2009; SOUSA et al., 2012). No teste de citotoxidade, os ovos de A. salina foram eclodidos em água salina artificial, e após 48 horas os microcrustáceos foram coletados para o bioensaio. Dissoluções de 20 mg de óleo foram realizadas com 2 mL do solvente, obtendo as concentrações: 1.000, 100, 10 e 1ppm. Posteriormente, um volume equivalente a 500 μL de uma solução-amostra foi adicionado em um recipiente de vidro. Esse procedimento foi realizado em triplicata. Esperou- se todo o solvente evaporar dos recipientes e adicionou-se 100 μL de dimetilsulfóxido (DMSO) juntamente com 1 mL de água salina contendo 10 microcrustáceos completando com mais 3,9 mL de água salina em cada sistema- teste. A contagem dos microcrustáceos sobreviventes foi realizada após 24 horas (DOLABELLA, 1997).

Resultado e discussão

Um total de 32 compostos (87,7%) do óleo essencial extraído das folhas de V. gardnerianaforam identificados e estão dispostos na Tabela 1, na ordem de eluição do equipamento, representando setemonoterpenos(19,2%) e vinte e cinco sesquiterpenos (68,5%). Cis-calameneno(23,75%) e 6,9-guaiadieno (15,12%) (Figura 1) são os principais componentes do óleo essencial das folhas de V. gardneriana. Em estudos anteriores realizado com a espécieVitex trifólia L. foram identificados 64 componentes do óleo essencial das folhas, entre estes, α-pineno (4,3%), 1,8-cineol (5,9%), linalol (3,6%), canfeno (4,9%), eugenol (2,2%), β-cariofileno (14,7%), Biciclogermacreno (4,4%), β- gurjuneno (2,6%) eα-cedrol (11,3%). O α-pineno foi identificado em ambas as espécies, mas em diferentes concentrações (ZAI-BO e CHAO, 2006). A avaliação do resultado do teste larvicida mostrou que o óleo essencial de V. gardnerianafoi considerado um agente natural contra larvas de A. aegypti com valores de CL50 de 28,02μg/mL. O resultado apresentado neste trabalho corrobora com estudos realizados com a espécie V. gardineriana por Monteiro e colaboradores (2015), onde foi demonstrado que o extrato etanolico das folhas secas apresentou uma boa atividade larvicida com um CL50 de 369,1 μg/mL. De acordo com Meyer e colaboradores (1982), CL50 menores que 1000 µg/mL indica toxicidade, logo a amostra do óleo essencial das folhas de V. gardineriana é considerada moderadamente tóxica, pois o valor de CL50 de 98,1μg/mL está entre 80 μg/mL e 250 μg /mL (DOLABELA, 1997).

Composição química do óleo essencial das folhas de V. gardneriana Scha

Um total de 32 compostos (87,7%) do óleo essencial extraído das folhas de V. gardnerianaforam identificados.

Componentes majoritários do óleo essencial das folhas de V. gardnerian

Os sesquiterpenoscis-calameneno e 6,9-guaiadieno são os principais componentes do óleo essencial das folhas de V. gardnerianaSchauer.

Conclusões

O óleo essencial das folhas de V. gardnerianamostrou-se ativo e este resultado éjustificado pela presença dos constituintesα-pineno eβ-pineno, atuando de forma sinérgica como ativos contra A. aegypti (SANTIAGO et al., 2006), uma vez que os terpenos são substâncias que aumentam a absorção transmembranar de drogas lipofílicasque podem matar as larvasno terceiro estagio(EL-KATTAN et al., 2001). Desse modo, o uso do óleo essencial das folhas de V. gardneriana como inseticida natural contra A. aegypti pode ser viável, uma vez que estes óleos essenciais são biodegradáveis.

Agradecimentos

A FUNCAP e a CAPES pelo apoio financeiro.

Referências

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