AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO EXTRATO ETANÓLICO DE CAMBARÁ DE CHUMBO (Lantana camara) POR MEIO DO BIOENSAIO COM ARTÊMIA SALINA (Branchipus stagnalis)

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

dos Santos Mendes, A.M. (UNILAB) ; Marques da Fonseca, A. (UNILAB) ; da Silva Quirino, T. (UNILAB) ; Lisboa Guterres Fernandes, O. (UNILAB) ; Silva Souza, M.M. (UNILAB)

Resumo

A espécie Lantana camara é uma planta arbustiva, florífera, comumente conhecida no Brasil por diversos nomes populares como, cambará de chumbo, cambarazinho e erva-chumbinho. Este estudo objetivou avaliar a toxicidade do extrato etanólico das folhas da espécie. Foram realizados testes em diferentes concentrações do extrato e submetidas a teste de letalidade onde utilizou-se a metodologia de Meyer adaptada (1982), cistos (larvas) de artemia salina expostos no período de 24-48h sob iluminação artificial e temperatura controlada (26–30ºC). Os resultados do ensaio mostraram que o extrato de Lantana camara é altamente tóxico com LC50 <50 ppm, 35,699 ppm e 7,671 ppm em 24 e 48 horas, respectivamente, o que determina ser necessário uma pequena concentração para ser considerada letal.

Palavras chaves

Toxicidade; Lantana camara; Artemia salina

Introdução

A espécie Lantana camara (Verbenaceae) é uma importante planta daninha (arbusto) florífero tropical, presente em áreas cultiváveis, pastagens e terrenos abandonados, tanto em regiões secas quanto úmidas e que, frequentemente, cresce em vales e encostas (PEREIRA, 2005). No Brasil, L. camara é conhecida por diversos nomes populares: cambará de chumbo, chumbinho, erva-chumbinho, cambará-de-espinho, cambará (Lorenzi, 1982; Tokarnia et al., 2000). Esta planta tem sido frequentemente utilizada na medicina popular como antiséptico, antiespasmódico, contra hemorragias, gripes e resfriados e inibição diarréica. São reconhecidos também propriedades alelopáticas e efeitos repelentes contra larvas de mosquitos Aedes (ZEMORI & PASIN, 2006). É citada como planta tóxica, capaz de provocar fotossensibilização (doença causada por toxinas) em bovinos ou ovinos (BRITO et al 2004; TOKARNIA et al. 1999). Diante do exposto, esse estudo objetiva avaliar o efeito toxicológico do extrato bruto do cambará de chumbo (Lantana camara) com cistos (larvas) do crustáceo artêmia salina (Branchipus stagnalis). Os testes de toxicidade foram elaborados com o objetivo de avaliar ou prever os efeitos de substâncias tóxicas nos sistemas biológicos e averiguar a toxicidade relativa das substâncias que são preponderantes na avaliação do ambiente (BAROSA, 2003).

Material e métodos

Foram coletados aproximadamente 5kg de folhas frescas do Lantana. camara, no sítio Vale do Alemão em Pernambuquinho, distrito de Guaramiranga-CE (S4°12’22.7” e W38°57’00.8”), de agosto de 2016 a março de 2017. As folhas foram lavadas em água destilada corrente, secas em estufa de circulação de ar com temperatura de 50º a 70°C graus, durante 48 horas. Após a secagem, foram pesadas, trituradas e submetidas à extração por maceração no etanol. O extrato foi filtrado e rotaevaporado, com rotação de 40 a 80 rpm e temperatura de 50º a 70ºC graus. A toxidade do extrato foi testada no modelo de artêmia salina (Branchipus stagnalis) baseada na técnica descrita por Meyer et al. (1982) adaptado. Os cistos (larvas) do crustáceo foram colocados em um béquer com água salina, sob aeração, iluminação artificial e controle da temperatura (26 - 30ºC) e incubadas por 24 horas para eclosão dos ovos. Foram utilizadas 18mg do extrato bruto das folhas do Cambará de chumbo (Lantana Camara) dissolvidos em 18mL de dimetilsulfóxido (DMSO) 1%. As amostras foram dissolvidas no banho ultrassônico para preparar a solução mãe. A partir da solução mãe, 5mL foram dissolvidos em água salina até obter as concentrações de 31,2; 62,5; 125; 250; 500 ppm. O ensaio foi realizado em triplicata de amostras, e água salina foi utilizado como controle negativo. Com o auxílio de uma pipeta de pasteur, foram transferidas 10 larvas para cada tubo de ensaio. Após 24 e 48 horas em contato com a suspensão dos extratos, realizou-se a contagem do número de larvas mortas. Foram consideradas mortas aquelas larvas que permaneceram imóveis por mais de 10 segundos após agitação suave dos tubos. O cálculo da concentração letal média (LC50) dos extratos foi feito a partir das cincos concentrações estudadas utilizando o programa de análise PROBIT log-dose (FINNEY, 1952).

Resultado e discussão

De acordo com os resultados do bioensaio com artêmia salina (Branchipus stagnalis), nas concentrações testadas, no período de incubação com luz artificial e temperatura controlada entre (26 – 30ºC) por 24 horas, apresentou uma concentração letal (LC50) de 35,699 ppm, de acordo com a metodologia adotada, sugere-se que o extrato, a partir desse ensaio, destaca alta toxicidade como mostra a figura 1. No período de 48 horas o extrato permaneceu com sua alta toxicidade, LC50 de 7,671 ppm, matando um número elevado de larvas do crustáceo (Figura 2), afirmando que a concentração letal do extrato do cambará de chumbo (Lantana camara) não precisa ser alta para eliminar grande quantidade de larvas (Tabela 1). O teste de toxicidade com artêmia salina é um ensaio biológico constantemente utilizado para testes toxicidades por ser rápido, confiável, de baixo custo e por ter demonstrado boa correlação com várias atividades biológicas (Meyer et al., 1982), como atividade antitumoral (Mclaughlin, 1991; Mclaughlin et al., 1991, 1993). Segundo a escala Hodge e Sterner extratos com LD50 < 50 ppm são consideradas substâncias altamente tóxicas. Os experimentos com amostras repetidas (triplicata) retificam que plantas do gênero Lantana possuem efeito acumulativo e quando administradas em doses que correspondem a uma dose letal causa grave intoxicações (Tokarnia et al., 1984).

Figura 1

Curva concentração-resposta da mortalidade de artêmia salina ao extrato etanólico do Cambará de chumbo após 24 horas.

Figura 2

Curva concentração-resposta da mortalidade de Artêmia salina ao extrato etanólico do Cambará de Chumbo (Latana Camara) após 48 horas.

Tabela 1

Mortalidade média de Artêmia Salina de acordo com as concentrações do extrato etanólico do Cambará de Chumbo (Latana Camara).

Conclusões

Segundo Mclaughlin (1991), plantas com alta toxicidade, podem atuar com algum tipo de atividade antitumoral. O extrato etanólico do cambará-de-chumbo (Lantana camara), apresentou alta toxicidade aos cistos (larvas) de artêmia salina. Conclui-se que os resultados foram satisfatórios, destacando dados positivos para a pesquisa, neste contexto, motiva-se a continuação dos estudos químicos e biológicos da referida espécie.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos órgãos de fomento: CAPES, CNPq, e ao Mestrado Acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentáveis (MASTS) da UNILAB

Referências

BAROSA, J., FERREIRA, A., FONSECA, B. e SOUZA, I. Teste de toxicidade de cobre para Artemia salina – Poluição e ecotoxicologia marinha, Nov. 2003.
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PEREIRA, A. M. Toxicidade de Lantana camara (Verbenaceae) em operárias de Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae). 2005. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas, Zoologia) - Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Campus de Rio Claro, Rio Claro, SP.

Tokarnia C.H., Döbereiner J., Lazzari A.A. & Peixoto P.V. 1984. Intoxicação por Lantana spp. (Verbenaceae) em bovinos nos Estados de Mato Grosso e Rio
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TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J.; PEIXOTO, P. V. Plantas Tóxicas do Brasil, Rio de Janeiro: Helianthus, 320 p., 2000.

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