Inibição do burst oxidativo de neutrófilos por extrato de folhas de Vochysia divergens Pohl.

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Bonacorsi, C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Valladão, D.M.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Andrighetti, C.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; da Fonseca, L.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA) ; Muraoka, J.Y. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Tomazeli, E.C. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO) ; Magalhães, M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO)

Resumo

Nos últimos anos, no Brasil, esforços têm sido feitos no sentido de se conhecer e divulgar a sua flora medicinal. Apesar de vários relatos quanto ao uso medicinal do cambará (Vochysia divergens), poucos são os trabalhos que visam a comprovação das várias atividades biológicas atribuídas a essa espécie vegetal. Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar o potencial antioxidante (inibição do burst oxidativo de neutrófilos humanos) por extrato de folhas de V. divergens, através de técnica quimiluminescente dependente de luminol. Esse trabalho demonstrou que as folhas do cambará, possuem capacidade de reduzir o burst oxidativo de leucócitos polimorfonucleares neutrófilos (LPMN) e, possivelmente, modular o estresse oxidativo associado a várias doenças.

Palavras chaves

Vochysia divergens; burst oxidativo; extrato

Introdução

Sabe-se que, esforços têm sido feitos no sentido de se conhecer e divulgar a flora medicinal brasileira, levando em conta as suas diferentes regiões geográficas e as populações que as habitam. Considerando especificamente a riqueza e diversidade florística do Estado de Mato Grosso, pode-se observar que estas provêm da variação de suas três grandes formações biogeográficas: o Cerrado, o Pantanal e a Floresta Amazônica, que contribuem com espécies vegetais distintas e que por vezes se inter-relacionam, caracterizando fisionomicamente o Estado (GUARIM NETO, 2006). Nos últimos anos, trabalhos têm procurado avaliar o potencial antioxidante de extratos, frações e compostos isolados de plantas. Vários estudos associam o stress oxidativo ao desenvolvimento ou agravamento de diversas afecções, incluindo desordens gástricas, doenças reumáticas, cardiovasculares e neurodegenerativas (EFRAIM et al., 2006; AUGUSTO et al., 2007). Sabe-se que a produção excessiva de espécies reativas de oxigênio (EROs), associada a liberação de enzimas granulares por células do sistema imunológico, causam danos fisiológicos importantes às células, agravando o processo inflamatório e podendo contribuir para desenvolvimento do câncer (DI STASI et al., 2004; KLAUNIG et al., 2010). Substâncias antioxidantes podem capturar e/ou inibir a produção de espécies reativas envolvidas em vários processos patológicos. Considerando a presença de Vochysia divergens Pohl, conhecida popularmente como cambará, no Pantanal do Mato Grosso e seu uso na medicina popular, este trabalho teve como objetivo avaliar o potencial de inibição do burst oxidativo de leucócitos polimorfonucleares neutrófilos (LPMN), através de técnica quimiluminescente dependente de luminol (QLDL).

Material e métodos

Material vegetal. As folhas de Vochysia divergens foram coletadas Pantanal de Poconé. A identidade botânica da planta foi confirmada na Universidade Federal de Mato Grosso e a exsicata (CNMT 4790) encontra-se armazenada no Herbário Centro-Norte-Mato-Grossense, UFMT – Campus de Sinop. Obtenção dos extratos. O material vegetal (folhas) foi seco em estufa com circulação de ar (40°C), triturado e armazenado, sob o abrigo da luz. As folhas secas e trituradas foram submetidas à extração por maceração em etanol a 70% a temperatura ambiente por sete dias, sendo mantida a relação droga:solvente de 1:10 (m:v). A solução extrativa foi concentrada em evaporador rotativo. O extrato obtido foi solubilizado em dimetilsulfóxido (DMSO) (solução mãe a 10 mg/mL). A maior concentração de DMSO presente nos ensaios não interfere na viabilidade e burst dos neutrófilos. Atividade antioxidante através de ensaio quimiluminescente dependente de luminol (QLDL). As reações QLDL para avaliação do burst oxidativo de LPMN humanos obtidos de sangue periférico (CEP – parecer 749.313) seguiram recomendações descritas em Paracatu et al. (2014) e Wolf et al. (2017). Os ensaios foram realizados em luminômetro de microplaca (Luminomêtro: Synergy 2 - BioTek), o qual apresenta-se interfaceado a um computador onde os resultados são processados e armazenados. Na avaliação do burst oxidativo, neutrófilos foram ativados com zymosan e a QLDL, na presença e ausência de diferentes concentrações do extrato das folhas, foi monitorada por 90 minutos. A integral da cinética de emissão (ICE) foi determinada ao final da reação. Os testes foram realizados em duplicata e repetidos, no mínimo, três vezes. Quercetina foi empregada como antioxidante controle.

Resultado e discussão

Os resultados da influência do extrato hidroalcoólico de Vochysia divergens no burst oxidativo de leucócitos polimorfonucleares neutrófilos humanos, para avaliação do potencial antioxidante, são apresentados no Gráfico 1 e os resultados obtidos com a quercetina na Tabela 1. Sabe-se que, embora a função desempenhada por neutrófilos seja essencial na defesa inata do organismo, o papel prejudicial dessas células em doenças de cunho inflamatório também é documentado (SEGEL et al., 2011; TAKAC et al., 2012). Entre essas doenças são relatadas a aterosclerose, artrite reumatoide, falência renal, asma, mal de Alzheimer, diabetes, alergias, câncer, bem como a gastrite e úlcera associadas ao Helicobacter pylori (JOHNSON, 2002; BATTAGLIA, 2014; WCULEK, MALANCHI, 2015). Estes dados mostram a importância dos estudos para o melhor entendimento de como os neutrófilos são ativados e como essa ativação se torna excessiva, para ajudar no desenvolvimento de novos agentes que possam manter essa ativação à um nível que previna uma resposta inflamatória exacerbada (EL-BENNA et al., 2016). O luminol pode ser oxidado por várias espécies reativas, incluindo o O₂-•, H₂O₂, OH•, peroxinitrito, e, principalmente, pelo HOCl, o qual é gerado através do sistema MPO-H₂O₂-Cl (ABE et al., 2000; COSTA et al., 2006; MAGALHÃES et al., 2008). Baseando-se no mecanismo de oxidação de luminol e no perfil da cinética de emissão de luz com a adição do extrato de folhas V. divergens, a redução no burst respiratório de LPMNs, possivelmente, esteja relacionada a capacidade de metabólitos presentes nas folhas sequestrarem o HOCl ou outras EROs que oxidam o luminol, bem como inibir enzimas como a NADPH oxidase e/ou MPO.

Vochysia divergens


Quercetina

Conclusões

Esse trabalho demonstrou que, as folhas de Vochysia divergens possuem capacidade de reduzir o burst oxidativo de LPMNs e, possivelmente, poderá modular o estresse oxidativo associado a várias doenças. Atualmente, o perfil fitoquímico do extrato está sendo determinado para inferir quais substâncias poderiam estar relacionadas ao potencial antioxidante da planta.

Agradecimentos

À FAPEMAT pelo apoio financeiro, à Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara – UNESP e à UFMT.

Referências

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