Avaliação da composição química do óleo essencial das folhas de Eugenia dysenterica DC coletadas em Goiás

ISBN 978-85-85905-21-7

Área

Produtos Naturais

Autores

Silva, F.R. (IFG) ; Castilho, N.S. (IFG) ; Pimentel, P.H. (IFG) ; Duarte, A.R. (IFG)

Resumo

Sendo uma das mais ricas savanas do mundo, o Cerrado possui grande variabilidade de fauna e flora ainda inexploradas. O presente estudo teve como objetivo avaliar a variação na composição dos óleos essenciais das folhas da espécie Eugenia dysenterica DC. As amostras foram coletadas no Estado de Goiás e submetidas à extração por hidrodestilação. Em seguida, foram submetidas à análise por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG/EM). Os constituintes químicos majoritários dos óleos essenciais das amostras de Goiânia foram α-pinene, β-pinene, myrcene, (E)-caryophyllene, α-humulene, caryophyllene oxide, humulene epoxide II. Na amostra de Ipameri, os compostos majoritários foram linalool, (E)- caryophyllene, α-humulene e (E)-nerolidol.

Palavras chaves

Eugenia dysenterica; óleos essenciais; variabilidade

Introdução

A espécie Eugenia dysenterica DC. popularmente conhecida como Cagaita, pertence à família Myrtaceae. A árvores desta espécie são frutíferas e alcançam entorno 10 metros de altura, possuem troncos e ramos tortuosos, casca grossa e fissurada. Seus frutos possuem formato globoso, cor amarelo-clara, sendo levemente ácidos [SILVA, 2001]. Os frutos da Cagaita podem ser usados como purgativo, já as folhas apresentam ação antidiarreica e também são utilizadas em tratamentos cardíacos e contra diabetes [COUTO, 2009]. Os compostos produzidos pelas plantas possuem um alto interesse biotecnológico, por possuírem propriedades variadas e singulares que podem ser agregadas em vários ramos da indústria, como o farmacêutico, o de cosmético e o alimentar entre outros [CARAMORI et al., 2004]. Os óleos essenciais são metabólitos secundários produzidos pelas plantas por duas vias metabólicas: a rota do ácido mevalônico e a rota do fosfato de metileritritol. Os constituintes dos óleos essenciais variam de hidrocarbonetos terpênicos, álcoois terpênicos e álcoois simples, aldeídos, cetonas, fenóis, ésteres, éteres, óxidos, peróxidos, furanos, ácidos orgânicos, lactonas, cumarinas e compostos que contenham enxofre. Dentre as substâncias que formam estes óleos destacam-se os terpenóides, os quais são formados pela fusão de unidades isoprênicas (C5). Os compostos terpenóides mais frequentes nos óleos essenciais são os monoterpenos (constituídos por 10 átomos de carbono) e os sesquiterpenos (constituídos por 15 átomos carbono) que são hidrocarbonetos que podem ou não estarem oxigenados [SIMÕES, 2005].

Material e métodos

As folhas de Eugenia dysenterica foram coletadas na área de experimentação da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO e na área de experimentação da Universidade Estadual de Goiás, Ipameri-GO. As folhas de cada espécime foram dessecadas à temperatura ambiente até serem submetidas à extração dos óleos essenciais. Essas folhas dessecadas passaram por um processo de trituração em moinho de faca com granulação definida (30 mesh) e, posteriormente, foram submetidas à extração por hidrodestilação em aparelho de Clevenger modificado por 2h. O óleo essencial foi coletado, seco em Na2SO4 anidro seguido de acondicionamento em frascos de vidro âmbar e armazenado em freezer (–18ºC) até serem analisados. A amostra que contém o óleo essencial das folhas foi submetida à análise por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG/EM) em um equipamento QP5050A (Shimadzu), utilizando-se uma coluna capilar de sílica fundida CBP-5 (Shimadzu). A análise quantitativa foi obtida pela integração do Cromatograma Total de Íons (TIC). A identificação dos componentes foi realizada por comparação (automática e manual) dos espectros de massas com os da biblioteca digital NIST/EPA/NIH [1998], além da comparação dos espectros de massas e dos índices de retenção calculados com os da literatura [ADAMS, 2007]. Os índices de retenção foram calculados através da co-injeção com uma mistura de hidrocarbonetos lineares, C8–C32 [Sigma, USA], e com aplicação da equação de Van den Dool e Kratz [1963]. Os dados de composição química dos óleos essenciais das amostras de Senador Canedo e Campo Alegre de Goiás silvestre e cultivada foram obtidos na literatura [DUARTE, 2008].

Resultado e discussão

Os compostos majoritários encontrados nos óleos essenciais das folhas de Cagaita estão apresentados na Figura 1. A Figura 2 permite observar variações quantitativas consideráveis quanto à concentração destes óleos. Pode-se observar uma maior concentração de ɣ- cadinene nas amostras de Senador Canedo, composto conhecido como feromônio de atração sexual de machos de abelhas do gênero Andrera [BORG- KARLSON, 1990]. Estas mesmas amostras também apresentaram um alto teor do componente limonene, que é o monoterpeno mais abundante em óleos essenciais críticos (95% e 96%). O limonene funciona como sinalizador fundamental na interação entre plantas e insetos. Na amostra de Ipameri observou-se um alto teor de linalool em relação às demais amostras. Este composto possui inúmeras aplicações na medicina e também é aplicado em sínteses de outros compostos [CHIERICE, 2003]. Nesta mesma amostra foi identificado como majoritário o sesquiterpeno oxigenado (E)-nerolidol. Este composto apresenta várias utilidades nas indústrias alimentícias e de cosméticos, é um fixador natural [NETO, 2013]. Os sesquiterpenos e monoterpenos hidrocarbonetos, foram os constituintes majoritários na maioria dos sítios analisados. Apenas a amostra de IPM apresentou uma maior concentração de monoterpenos oxigenados. A composição química do óleo essencial é determinada por fatores genéticos e ambientais [LIMA, 2003]. A produção destes compostos também exerce funções biológicas nas plantas, eles atuam nas interações planta-animais, sendo descritos como defesa química e atratores de polinizadores. Os monoterpenos, por exemplo, podem causar interferências tóxicas nas funções bioquímicas e fisiológicas de insetos [CHAGAS, 2002]. A classe de sesquiterpenos também é relatada como substâncias repelentes de herbívoros.

Figura 1

Estrutura química dos compostos majoritários dos óleos essenciais de folhas da Cagaita.

Figura 2

Porcentagem dos componentes majoritários em: Goiânia (GYN 1 e 2) Ipameri-GO (IPM) Campo Alegre de Goiás (CAS e CAC) Senador Canedo (SCS e SCC).

Conclusões

A variabilidade observada no teor dos constituintes majoritários dos óleos essenciais da Cagaiteira revela que, embora tenham sido encontradas variações significativas em alguns constituintes, os sesquiterpenos e monoterpenos hidrocarbonetos, foram os constituintes majoritários na maioria dos sítios analisados. Apenas a amostra de IPM apresentou uma maior concentração de monoterpenos oxigenados. Demonstrando assim, que embora a planta altere a biossíntese destes óleos frente a alterações ambientais, o fator genético exerce forte influência nesta biossíntese.

Agradecimentos

LAMES-UFG, Escola de Agronomia da UFG e UEG-Ipameri.

Referências

ADAMS, R.P. Identification of essential oil components by gas chromatography/quadrupole mass spectroscopy, 4th ed. Carol Stream: Allured, 2007.
BORG-KARLSON, A. K. Chemical and ethological studies of pollination in genus Ophrys (orchidaceae). Prhythochemistry, 29, p. 1359-1387, 1990.
CARAMORI, S.S.; LIMA, C.S.; FERNANDES, K.F. Biochemical characterization of selected plant species from Brazilian savannas. Brazilian archives of biology and technology and International Journal, Curitiba, v.47, n.2, p.253-259, 2004.
CHAGAS, Ana C. de S. et alli. Efeito acaricida de óleos essenciais e concentrados emulsionáveis de Eucalyptus spp em Boophilus microplus.Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci., São Paulo, v. 39, n. 5, p. 247-253, 2002.
CHIERICE, Gilberto O. et alli. Quantificação do Linalol do Óleo Essencial da Aniba Duckei Korstermans utilizando uma nova coluna capilar Polyh4-Md em Cromatografia Gasosa.Química Nova, São Paulo, SP,vol. 26, n. 4, p.461-465, 2003.
COUTO, Rene O., VALGAS, Artur B., BARA, Maria T.F.; PAULA, Jose R. Caracterização físico-química do pó das folhas de Egenia dysenterica Dc (Myrtaceae). Revista Eletrônica de Farmácia, Goiânia, Go. v.5. p.59-69. 2009.
DUARTE, Alessandra Rodrigues. Composição e variabilidade química dos óleos essenciais das folhas e frutos de Eugenia dysenterica DC. Dissertação de mestrado: Universidade Federal de Goiás. 2008.
DUARTE, A. R.; COSTA, A.R.T.; SANTOS, S. C.; FERRI, P. H.; PAULA, J. R. Changes in volatile constituents during fruit ripening of wild Eugenia dysenterica DC. The Journal of Essential Oil Research. v.20, p.1 - 3, 2008.
LIMA, Helena R. P.; KAPLAN, Maria, A.C.; CRUZ,Ana V. M. Influência dos fatores abióticos na produção e variabilidade de terpenóides em plantas. Floresta e Ambiente, Rio de Janeiro, RJ, v. 10, n.2, p.71 - 77, ago./dez, 2003.
NETO, José D. N.; SOUSA, Damião P.; FREITAS, Rivelilson M. Avaliação do potencial antioxidante in vitro do nerolidol. Ciência Farmacêutica Básica e Aplicada,Araraquara, SP, v.34,p.125-130, 2013.
SILVA, Rossana S.M.; CHAVES, Lazaro Jose; NAVES, Ronaldo Veloso. Caracterização de Frutos e árvores de cagaita (Eugenia dysenterica DC.) no sudeste do estado de Goiás, Brasil.Revista Brasileira de Frutífero. vol.23.n.2. Jaboticabal. Aug. 2001.
SIMÕES, C. M. O. et alii. Farmacognosia: da Planta ao Medicamento, 5a ed. Porto Alegre: UFRGS/EDUFSC, 2005.

Patrocinadores

Capes CNPQ Renner CRQ-V CFQ FAPERGS ADDITIVA SINDIQUIM LF EDITORIAL PERKIN ELMER PRÓ-ANÁLISE AGILENT NETZSCH FLORYBAL PROAMB WATERS UFRGS

Apoio

UNISC ULBRA UPF Instituto Federal Sul Rio Grandense Universidade FEEVALE PUC Universidade Federal de Pelotas UFPEL UFRGS SENAI TANAC FELLINI TURISMO Convention Visitors Bureau

Realização

ABQ ABQ Regional Rio Grande do Sul