Avaliação da Bioacessibilidade in vitro de minerais em polpa de Bocaiúva

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Alimentos

Autores

Gonçalves, T.O. (IFMT) ; Silva, D.C. (IFMT) ; Filbido, G.S. (IFMT) ; Pinheiro, A.P.O. (IFMT) ; Passos, A.C.B. (IFMT) ; Piereti, P.D.P. (IFMT) ; Roseno, T.F. (IFMT) ; Oliveira, A.P. (IFMT)

Resumo

O objetivo do estudo foi quantificar o teor total e a bioacessibilidade in vitro dos minerais Cu,Fe,Mn e Zn em polpa de bocaiuva. Os frutos foram coletados em Cuiabá-MT, higienizados, descascados, despolpados e armazenados. O teor total dos minerais foi quantificado após decomposição por via seca e a biodisponibilidade in vitro pelo método da digestão enzimática em meio ácido. Todas determinações foram feitas em triplicata por (FAAS). Os teores totais para Cu, Fe, Mn e Zn foram 1,80;8,65;8,85;4,83 mg/100g respectivamente e o percentual de biodisponibilidade foi 16,81%,21,43%,80,3%,81,3% para Cu, Fe, Mn e Zn, respectivamente.Neste contexto os resultados indicam que a bocaiúva pode ser fonte de Cu, Fe e Zn, com destaque para os percentuais de bioacessibilidade do Zn e Mn.

Palavras chaves

Acrocomia aculeata (Jacq.; Cerrado brasileiro; Biodisponibilidade

Introdução

Os minerais tem um papel vital no funcionamento do organismo humano pois, atuam em diversos processos metabólicos, regulam reações bioquímicas e participam como ativadores ou componentes de algumas enzimas específicas (DAMODARAN et al., 2011). Apesar de sua importância na dieta, os minerais em sua totalidade, nem sempre estão bioacessiveis ao organismo; uma vez que fatores extrínsecos e intrínsecos devem ser considerados para processo de absorção (GONÇALVES, 2006). A bioacessibilidade é a fração de um nutriente presente no alimento, que ao ser ingerido será liberado para o organismo metaboliza-lo, a partir do processo de digestão podendo assim ser empregado nas funções do corpo (GONÇALVES, 2006; TEIXEIRA, 2014). O assunto tem sido estudado em diversos alimentos com intuito compreender o comportamento dos nutrientes presentes no alimentos com as enzimas que participam da digestão. A bocaiúva (Acrocomia aculeata (Jacq. Lodd), é um fruto abundante no Cerrado Brasileiro, Pantanal e outras regiões do Brasil, popularmente conhecida como: macaúba, macaiba, chiclete-de-baiano, macaibeira, mucaja, mucajaba, coquinho, coco-babã o, coco-baboso, coco-de-catarro e coco-de-espinho (ALMEIDA et al., 1998; LORENZI, 2002; LORENZI, 2006; TEIXEIRA, 2014). Rica em glicídios, lipídios e carotenoides (principalmente beta caroteno), ácidos graxos e teor considerável de minerais potássio, cobre e zinco (AOQUI, 2012; ARISTONE, 2006; LOPES, 2016; LORENZI, 2006; RAMOS et al., 2008). Diante disso, o objetivo do estudo foi quantificar o teor total e a bioacessibilidade in vitro dos minerais cobre, ferro, manganês e zinco na polpa da bocaiúva.

Material e métodos

Os frutos foram coletados na cidade de Cuiabá-MT, higienizados, descascados, despolpados e armazenados congelados até o momento das análises. Para a determinação do teor total dos minerais Fe, Cu, Zn e Mn, a polpa da bocaiúva seca, foi previamente calcinadas em forno mufla a 550 °C por um período de 4 h. As cinzas foram submetidas à digestão ácida com ácido clorídrico e nítrico concentrado, e avolumados em balão de 25 mL. A metodologia utilizada foi baseada no IAL (2008). Para o ensaio de bioacessibilidade, pesou aproximadamente 2,5g de amostra seca e homogeneizada, com 50 mL da solução gástrica de pepsina 6% m/v, em um erlenmeyer (pH 1,75), simulando o valor encontrado no trato gástrico humano. Em seguida, a solução foi agitada, o erlenmeyer foi tampado e deixado em banho dubnoff a 37°C por 3 h e 90 rpm. O pH do meio resultante foi elevado a aproximadamente pH = 7 com algumas gotas de solução saturada de bicarbonato de amônio. Em seguida, adicionou 37,5 mL da solução de pancreatina e sais biliares e a solução foi novamente agitada com auxílio de um bastão de vidro levada ao banho mantendo a temperatura 37°C e a agitação em 90rpm, durante 4 h. Após a digestão pancreatina, a mistura foi transferida para um tubo de polipropileno e este levado à centrifugação a 5000 rpm durante 20 minutos. O sobrenadante da solução foi filtrado em papel filtro (faixa preta). Para melhorar a conservação das amostras antes das determinações foi adicionado 3 mL de HNO3 concentrado e, cada um dos extratos (KULKARNI et al.,2007). Os teores totais e bioacessíveis dos minerais foram quantificados por Espectrofotometria de Absorção Atômica com chama (FAAS). As leituras foram feitas em triplicata e branco analítico. Os resultados foram expressos no formato de média e desvio padrão.

Resultado e discussão

Os resultados obtidos para os teores totais de cobre, ferro, manganês e zinco foram superiores aos encontrados nos ensaios realizados por Ramos et al. (2008), todavia apenas o cobre e o manganês foram ligeiramente próximos aos dados encontrados neste estudo (Tabela 1).De acordo com Ramos et al. (2008), a bocaiuva é uma fonte natural de cobre, potássio e zinco, desta forma sugere sua inclusão na dieta com objetivo de enriquecer nutricionalmente a alimentação com produtos regionais, como produção de farinha, bolos, sorvetes e licor. O óleo obtido tanto da polpa quanto da amêndoa, pode ser empregado na geração de energia (biocombustível), produção de cerâmica, indústria de sabões, área farmacêutica e linha de cosméticos (AMARO et al., 2015; CICONINI et al., 2013; COIMBRA; JORGE, 2011; POETSCH et al., 2012). Com relação ao percentual de bioacessibilidade in vitro dos minerais obtivemos para Cu (13,58%), Fe (15,01%), Mn (20,13%) e Zn (57,57%). Os resultados da bioacessibilidade para 100 gramas de bocaiuva equivalem a aproximadamente 7,78% ; 3,36% ; 0,57% ; 45,65% de Cu, Fe, Mn e Zn respectivamente, considerando a ingestão diária recomendada para um adulto, segundo a RDC nº 269/2005 (BRASIL, 2005). Gonçalves (2006), afirma que a espécie cobre e zinco em sua forma solúvel apresenta uma absorção que vai de (40 a 60%) e (60 a 70%) respectivamente do total ingerido. No que se refere ao mineral ferro, a sua disponibilidade para absorção mostrou-se extremamente baixa, quando comparado com a quantidade presente na polpa da fruta, Teixeira (2014), observou o mesmo comportamento quando avaliou a biodisponibilidade de ferro em uma série de matrizes alimentares. Gonçalves (2006), enfatiza que os compostos quelados com os minerais facilitam a absorção destas espécies pelo organismo.

Tabela 1

Resultados obtidos para os teores totais e biodisponíveis de Cu, Fe, Mn e Zn e a porcentagem de bioacessibilidade in vitro na polpa da bocaiúva

Conclusões

A bocaiúva apresentou concentração considerável para os minerais, Fe,Cu e Zn, com destaque para os percentuais de bioacessibilidade do Zn e Mn; os resultados obtidos sugerem que a fruta possui potencial para exploração no Estado de Mato Grosso e demais regiões onde o fruto pode ser encontrado. Contudo ainda há poucas informações sobre suas propriedades e aplicabilidade nos mais diversos setores industriais.O estudo realizado demonstra a importância de conhecer os componentes nutricionais e as espécies químicas presentes nos alimentos, e com isso assegurar a biodisponibilidade para o organismo.

Agradecimentos

Agradecemos à PROPES/IFMT pelo auxílio financeiro concedido ao projeto, ao LACI/UFMT que cedeu o equipamento para leitura dos minerais nas amostras e a CAPES/FAPEMAT pela bolsa edital (10/2015).

Referências

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CICONINI, G.; FAVARO, S. P.; ROSCOE, R.; MIRANDA, C. H. B.; TAPETI, C. F.; MIYAHIRA, M. A. M.; BEARARI, L.; GALVANI, F.; BORSATO, A.V.; COLNAGO, L. A.; NAKA, M. H. Biometry and oil contentes of Acrocomia aculeata fruits from the Cerrados and Pantanal biomes in Mato Grosso do Sul, Brazil. Industrial Crops and Produts. v. 45, p. 208-214, 2013.

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