Cristalização Sequencial de Aluminato de Zinco a partir de Precursor Orgânico de Citrato Polimerizado

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Materiais

Autores

Barbosa, G.V. (UEMS) ; Silva, M.S. (UEMS) ; Souza, A.C. (UEMS) ; Oliveira, R.G. (UEMS) ; Amoresi, R.A.C. (UNESP) ; Zaghete, M.A. (UNESP) ; Cavalheiro, A.A. (UEMS)

Resumo

O desenvolvimento de metodologias de obtenção de cerâmicas refratárias é um campo de grande interesse quando se requer materiais nanoparticulados e o uso de precursores organometálicos parece exibir as características certas para este propósito. Assim, neste trabalho, o Método dos Precursores Poliméricos foi usado na obtenção de nanopartículas de aluminato de zinco através da cristalização sequencial acompanhada por trituração. Os resultados obtidos permitiram concluir que a homogeneidade química dos cátions metálicos presentes no precursor não é perdida no processo de cristalização acompanhado de trituração, levando ao ganho de simetria local e ao ordenamento de longo alcance, simultâneo a redução no tamanho das partículas até a escala nanométrica.

Palavras chaves

Gahnita; espinélio; cristalização

Introdução

O aluminato de zinco é uma cerâmica refratária com estrutura espinélio e é utilizado para várias aplicações, desde recobrimentos ópticos até catalisadores. Entretanto, dependendo da aplicação, as características morfológicas devem estar associadas às especificidades estruturais da fase majoritária no material. A obtenção de nanopartículas deste tipo de material pode ser atrativa quando propriedades semicondutoras são requeridas. A eficiência deste tipo de material avançado aumenta muito quando a o tamanho médio de partículas se torna inferior a 100 nm (BHARGAVA et al., 1994; STREK et al.; 2000; ZAWADZKI et al., 2001; NILSSON, et al., 2009). A obtenção de materiais nanoparticulados é campo de estudo em várias frentes, mas as rotas de síntese química têm propiciado partículas consideravelmente menores que outras abordagens metodológicas (LI et al.; 2011; ANCHIETA et al., 2013). Entre os métodos químicos mais usados para esta finalidade, estão o Método Sol-Gel, partindo de precursores hidróxidos gelificados (PHANI et al., 2001; WEI et al., 2006) e o Método dos Precursores Poliméricos, partindo-se de complexo orgânico-metálicos (CAVALHEIRO et al., 2007). A obtenção de um precursor orgânico parece facilitar a obtenção de nanopartículas, principalmente se houver compostos carbonáceos residuais que atuam na fragmentação de aglomerados durante a decomposição térmica, fruto da grande pressão no interior dos poros causada pela formação de produtos gasosos de combustão destes compostos, um efeito somente comparável à síntese hidrotérmica (CHEN et al., 2008; MIRON et al., 2012). Neste trabalho, um precursor orgânico de citrato de alumínio e zinco polimerizado com etileno glicol foi usado para investigar a cristalização sequencial da fase espinélio até a temperatura máxima de 700 ºC

Material e métodos

A preparação do precursor de citrato de alumínio e zinco polimerizado com etileno glicol foi conduzida segundo os fundamentos da metodologia utilizada no preparo de diversos materiais cerâmicos utilizando o Método dos Precursores Poliméricos. A primeira etapa é a obtenção de uma solução aquosa de ácido cítrico, a qual é mantida em agitação a uma temperatura de 80 ºC. Em seguida, quantidades estequiométricas dos precursores aquossolúveis nitrato de alumínio nonahidratado e acetato de zinco são adicionados diretamente a esta solução, a qual se mantém em agitação e aquecimento até a completa dissolução dos precursores. Depois de este sistema ficar em agitação por 30 min, adiciona-se etileno glicol e o sistema fica em agitação e aquecimento por 4 horas, tempo suficiente para evaporação da água de solvatação e inicio do processo de polimerização entre o complexo metálico e o etileno glicol, observado pelo rápido aumento da viscosidade da solução. O poliéster é então levado ao forno mufla a 410 ºC por 4 horas, obtendo-se um precursor carbonizado de fácil fragmentação em almofariz de porcelana. Depois de triturado, o precursor carbonizado em pó é transferido para um cadinho de porcelana é então pré-calcinado a 350 ºC por mais 4 horas, obtendo-se um pó acinzentado ainda de fácil trituração. Depois de fragmentado, o material precursor foi levado ao primeiro estágio de calcinação a 600 ºC por 4 horas e, após nova trituração, ao segundo estágio, a 700 ºC também por 4 horas. O precursor obtido a 350 ºC, bem como os materiais obtidos em cada estágio da calcinação foram caracterizados por Difratometria de raios-X, Espectroscopia Raman, usando laser verde como fonte de excitação e também por Microscopia Eletrônica de Varredura.

Resultado e discussão

Na Fig.1 são observados os padrões de difração e para as três amostras, ao longo do processo de cristalização sequencial. A identificação de fases através do banco de dados JCPDS (2003) permitiu concluir que o precursor amorfo a 350 ºC se converte diretamente na fase espinélio de simetria cúbica Fd-3m, característica da composição ZnAl2O4 quando a temperatura de tratamento sofre elevação, não havendo a formação de qualquer fase intermediária. E os espectros Raman corroboram estes dados, mostrando que o mecanismo de cristalização é progressivo e direto, onde a amostra obtida a 700 ºC apresenta as bandas de absorção bem definidas. Assim, constata-se que o ganho de simetria local dos octaedros AlO6 e tetraedros ZnO4 da estrutura espinélio é acompanhado pelo aumento do ordenamento de longo alcance, observado pelo aumento da intensidade dos picos de difração, com consequente redução das larguras à meia altura dos picos. A causa para este comportamento está na grande homogeneidade química dos cátions de alumínio e zinco no precursor orgânico, que não é perdida à medida que os resíduos orgânicos são eliminados. A morfologia do material em cada estágio do processo de cristalização pode ser visualizada na Fig. 2. O precursor com grande quantidade de resíduo orgânico obtido a 350 ºC possui predominância de aglomerados maiores que um mícron, não sendo possível observar a definição das partículas. Com o aumento da temperatura para 600 ºC, o tamanho dos aglomerados se reduz para menos de meio mícron, sendo possível observar partículas já sendo definidas, algumas com dimensões menores que 100 nm. A 700 ºC, os aglomerados se apresentam menos evidentes e o tamanho das partículas passa a ser predominantemente inferior a 50 nm, notadamente um material classificada como nanopartículas.

Figura 1

Padrões DRX e Espectros Raman para as amostras de aluminato de zinco ao longo da temperatura de calcinação.

Figura 2

Imagens de microscopia eletrônica para as amostras de aluminato de zinco ao longo da temperatura de calcinação.

Conclusões

Neste trabalho foi demonstrado que o uso do Método dos Precursores Poliméricos como rota de síntese para obtenção de nanopartículas de aluminato de zinco é eficiente. Conclui-se que a homogeneidade química dos cátions metálicos no precursor de citrato polimerizado não é perdida durante o processo de cristalização, que ocorre com ganho de simetria local e aumento do ordenamento de longo alcance para fase espinélio. O processo de cristalização sequencial, com fragmentação sucessiva, permitiu que a cristalização fosse acompanhada por redução no tamanho das partículas até a escala nanométrica.

Agradecimentos

Os autores agradecem a FAPESP, FUNDECT, CNPq, CAPES e FINEP pelo apoio financeiro e bolsas concedidas.

Referências

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