O Sentimento de Pertencimento como Ação Motivadora para o Aprendizado de Ciências na Terceira Infância

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Barbosa, G.V. (UEMS) ; Fischer, E.K. (UEMS) ; Cruz, N.A. (UEMS) ; Hisano, C. (UEMS) ; Cavalheiro, A.A. (UEMS)

Resumo

O desenvolvimento cognitivo do ser humano começa na terceira infância, que vai dos seis anos aos onze anos, em média. É onde se inicia a construção da autoestima, que está ligada ao sentimento de pertencimento. Assim, ensinar ciências na terceira infância garante o direito da criança a evoluir mais rapidamente em seu processo educacional, mas nesta fase inicial do “ensinar ciências” é necessária a transformação e transposição didática do conhecimento científico antes de transmiti-lo às crianças. Ao final da apresentação de conceitos, vídeos motivacionais e experimentação por parte das crianças, o processo termina com a entrega de uma cartilha ilustrada e uma camiseta com os dizeres “Cientista Mirim”, buscando contribuir para a construção do sentimento de pertencimento nas crianças.

Palavras chaves

Ensino Fundamental; Luzes Invisíveis; Material Didático

Introdução

A terceira infância é marcada principalmente pelo desenvolvimento cognitivo associado ao aumento da autonomia e da autoestima. É um período que se inicia aos seis anos e termina aos onze, havendo algumas variações nesta faixa etária, dependendo de como evoluem a formação de sua identidade e sua construção social. Com isso, começa se reduzir o egocentrismo desenvolvido na segunda infância, que é substituído pela autoestima, que está intimamente ligada a aspectos antagônicos, como popularidade e rejeição. E, como a ciência é uma construção humana coletiva, que envolve, fundamentalmente, imaginação, razão e contexto social, as crianças na terceira infância são capazes de apropriar de novas informações para utilizá-la na explicação e transformação do mundo, apesar de fazerem de uma maneira particular, em relação aos adultos (BIASOLI-ALVES, 1997; CHASSOT, 2003). Logo, ensinar ciências para crianças na terceira infância é efetivo como garantidor de educação plena, pois lhe dá o direito de aprender ciências, cujo conhecimento tem valor social elevado, mas também permite que a escola fundamental cumpra seu dever como sistema escolar, distribuindo conhecimento científico à população. Como a ciência escolar não é a mesma dos cientistas profissionais é necessário que haja um processo de transformação e transposição didática do conhecimento científico antes de transmiti-lo às crianças (FRIZZO & MARIN, 1989; FUMAGALLI, 1998; MARTINS, 2002). Assim, este trabalho é fruto de um grande projeto, apoiado pelo CNPq e INSTITUTO TIM desde 2015, objetivando levar às crianças da terceira infância a vivência das ciências, na forma de experimentação participativa, uso de tecnologia do cotidiano e criação do sentimento de pertencimento, abordando o tema das radiações infravermelho e ultravioleta.

Material e métodos

Para o alcance de um dos objetivos deste projeto, que é a criação do sentimento de pertencimento, foram confeccionadas centenas de cópias de uma cartilha ilustrada com uma história entre um passarinho e uma cobra, através de um diálogo em que um personagem explica ao outro suas habilidades de verem luzes invisíveis. Enquanto o passarinho traduz o seu ambiente pela sua capacidade de enxergar a luz ultravioleta, a cobra o entende valendo-se de sua capacidade de percepção da luz infravermelha. Também foram confeccionadas outras centenas de camisetas com o logotipo do projeto e dos patrocinadores e os dizeres “Cientista Mirim”. O projeto foi executado em escolas de ensino fundamental de município da microrregião de Naviraí-MS e contou com recursos do Instituto TIM em parceria com o CNPq (Proc. 445983/2015-9). A distribuição dos materiais ocorreu no final das atividades, depois da parte introdutória, onde é passado um trecho do filme infantil “Tá chovendo Hambúrguer”, contextualizando a vocação cientista da criança e de dois blocos com experimentações por parte das crianças sobre luz infravermelha e ultravioleta. Não houve sorteio na entrega dos materiais e todas as crianças receberam uma cartilha e uma camiseta no seu tamanho, enquanto os coordenadores do projeto conversam com crianças sobre suas percepções acerca da experiência vivenciada. Esta abordagem enfatiza o sentimento de pertencimento e complementa outras abordagens que, juntas, visam popularizar a ciência entre as crianças e são relatadas em outros dois trabalhos do grupo, intitulados: “Uso de Tecnologias do Cotidiano como Recurso Pedagógico para o Ensino de Ciências Naturais para Crianças de 6 a 11 Anos” e “O Despertar Científico Induzido pela Experimentação Participativa no Primeiro Ciclo do Ensino Fundamental”.

Resultado e discussão

Os resultados relatados neste trabalho devem ser interpretados como a finalização de uma abordagem ampla, que incluiu diversas atividades didáticas para a compreensão do tema proposto: Luzes Invisíveis no Nosso Cotidiano. Deste modo, a entrega dos materiais está dentro de um contexto de participação prévia por parte das crianças. Na Fig. 1 é apresentado um mosaico de imagens dos momentos do quarto bloco e a capa da cartilha. Segundo Carvalho (2002), a cidadania deriva das relações sociais e sentimentos de pertencimento. Uma das formas de isso ocorrer em sociedades profundamente desiguais como a brasileira, é através da disseminação do conhecimento científico, que pode da oportunidade à criança de pertencer a um grupo em que ela se identifique e sinta importante. Na Fig. 2 é mostrada a foto de um dos grupos de crianças do município de Jutí-MS. Apesar da abordagem inclusiva executada neste projeto, ainda é possível perceber algum comportamento refratário, podendo ter como causas prováveis a etnia, a faixa etária superior à média da turma ou outra causa não perceptível no momento. Enquanto a maioria das crianças opta por já vestir sua camiseta e folheia a cartilha, umas poucas se portam de modo indiferente, indicando problemas de inclusão no processo educacional. De qualquer modo, para a maioria das crianças, a posse da camiseta e da cartilha para posterior leitura poderá contribuir para que a experiência vivenciada possa ser resgatada na sua memória por mais tempo e assim, consolidar o sentimento de pertencimento. Entretanto, este sentimento somente se fortalecerá com a continuidade deste tipo de ação, de modo que esta proposta mostra que este processo pode e deve se dar logo na terceira infância, requerendo apenas adequação de conteúdo, linguagem e abordagem pedagógica.

FIGURA 1

Mosaico de imagens mostrando momentos da entrega dos materiais (camiseta e cartilha) no bloco final da apresentação e a capa da cartilha distribuída.

FIGURA 2

Foto de um dos grupos de crianças ao final da apresentação realizada na Escola Estadual 13 de Março, no município de Jutí-MS.

Conclusões

Neste trabalho foi apresentada uma das vertentes de um grande projeto de popularização da ciência entre crianças da terceira infância sobre o tema “Luzes Invisíveis”, contando com a participação efetiva nos experimentos. Conclusivamente, a entrega da cartilha ilustrada e contextualizada ao tema abordado e da camiseta com os dizeres “Cientista Mirim”, com o propósito de contribuir para a construção do sentimento de pertencimento, resultou em grande motivação por parte das crianças, que pode ser simbolizada pela indagação de uma delas: “– Como eu faço para ser cientista de verdade?”

Agradecimentos

Os autores agradecem ao INSTITUTO TIM, CNPq, FUNDECT e CAPES pelo apoio financeiro e bolsas concedidas.

Referências

BIASOLI-ALVES, Z. M. Contribuições da psicologia ao cotidiano da escola: necessárias e adequadas? Paidéia (Ribeirão Preto), No. 12-13, Ribeirão Preto, p. 77-96, 1997.
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: Um longo caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro-RJ, Editora Civilização Brasileira, 2002.
CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, V. 22, p. 89-100, 2003.
FRIZZO, M. N.; MARIN, E. B. O ensino de ciências nas séries iniciais. Editora Unijuí, 1989.
FUMAGALLI, L. O Ensino das Ciências Naturais ao nível fundamental da educação formal: argumentos a seu favor. Em H. Weissman (Org.) Didáctica das Ciências Naturais. Contribuições e reflexões, pp. 13-29, Porto Alegre: ARTMED, 1998.
MARTINS, I. P. Educação e Educação em Ciências. Aveiro: Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa, Universidade de Aveiro, 2002.

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