O Despertar Científico Induzido pela Experimentação Participativa no Primeiro Ciclo do Ensino Fundamental

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Ensino de Química

Autores

Cruz, N.A. (UEMS) ; Barbosa, G.V. (UEMS) ; Fischer, E.K. (UEMS) ; Hisano, C. (UEMS) ; Cavalheiro, A.A. (UEMS)

Resumo

A complexidade e a diversidade das Ciências Naturais não pode ser motivo para que o processo de ensino seja conduzido por métodos de simples memorização de conteúdo. A prática científica através da observação e experimentação deve ocorrer já no primeiro ciclo do ensino fundamental, para que um processo educativo mais efetivo seja progressivamente conduzido até o fim do ensino médio. Neste trabalho, a prática científica foi executada com alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental, orientando-os a observar o efeito da fluorescência da clorofila extraída por eles mesmos do agrião e do quinino da água tônica, usando luz negra como método de observação. A novidade da técnica e os efeitos visuais observados geraram grande expectativa e interesse na atividade experimental desenvolvida.

Palavras chaves

Luz Ultravioleta; Experimentação; Público Infantil.

Introdução

A ciência é uma construção humana coletiva que envolve processos racionais, imaginativos, intuitivos e emotivos e que sofre influência dos contextos social, histórico e econômico. É uma ação em que a neutralidade e a objetividade não são absolutas, exigindo escolhas do professor de ensino fundamental, o qual deve permanecer na condição de eterno aprendiz sobre as constantes e contínuas descobertas científicas, trazendo estes conhecimento para a sala de aula sem se restringir à métodos simples de memorização por parte do aluno. A ciência e a tecnologia estão presentes na vida em sociedade e surgem com frequência cada vez maior, tomando espaço na vida das pessoas muito mais do que em um passado recente. Estes aspectos impõem que o ensino de ciências comece a ocorrer já no primeiro ciclo do ensino fundamental e siga aprofundando progressivamente na formação escolar até o fim do ensino médio (FRIZZO & MARIN, 1989; FUMAGALLI, 1998; AULER & DELIZOICOV, 2001; VIECHENESKI & CARLETTO, 2013). Todo o processo de aprendizado científico deve então seguir um planejamento estrito que considere as características de cada etapa educacional. No primeiro ciclo da escola fundamental, estas atividades devem ter o tempo e o espaço ajustados de forma a correlacionar introduções rápidas de conteúdo com os recursos metodológicos utilizados. Deste modo, o interesse no conhecimento científico disponibilizado ao aluno será capaz de despertá-lo para que se aproprie do conhecimento científico, retirando-o da posição de receptor ingênuo de informações (RUFFMAN et al., 1993; BIASOLI-ALVES, 1997; CARVALHO, 2002; CHASSOT, 2003, ZANON, 2005; GALVÃO et al, 2006). O objetivo deste trabalho foi planejar e executar um plano de aula experimental envolvendo luz ultravioleta para alunos do ensino fundamental.

Material e métodos

Este trabalho foi formulado para levar a prática científica para a sala de aula do primeiro ciclo do ensino fundamental, abordando o efeito da luz ultravioleta em materiais do cotidiano dos alunos. Este trabalho é parte de um grande projeto, que incluiu diversas abordagens didáticas para a compreensão do tema proposto: Luzes Invisíveis no Nosso Cotidiano e estão relatadas em outros dois trabalhos do nosso grupo, intitulados: “O Sentimento de Pertencimento como Ação Motivadora para o Aprendizado de Ciências na Terceira Infância” e “Uso de Tecnologias do Cotidiano como Recurso Pedagógico para o Ensino de Ciências Naturais para Crianças de 6 a 11 Anos”. A abordagem experimental é precedida pela contextualização da existência de luzes visíveis e invisíveis, como na formação das cores do arco-íris, das quais somente enxergamos as cores entre o vermelho e o violeta, mas há cores abaixo do vermelho (infravermelho) e acima do violeta (ultravioleta) que não enxergamos. Foram levados à sala de aula folhas de agrião e almofarizes para maceração destas folhas pelos próprios alunos, de modo a obter os extratos vegetais de forte coloração verde devido à presença de grande quantidade de clorofila nesta planta. Também foram levadas latas de água tônica e gelos preparados com esta bebida obtidos previamente, de modo a evidenciar o brilho características da fluorescência do quinino, uma substância que confere sabor característico a este tipo de bebida refrigerante. Estes materiais foram observados através da iluminação artificial branca do ambiente e também da iluminação de luz ultravioleta (UV-A) produzida por lâmpadas comerciais de luz negra, contando com o apoio material do Laboratório Interdisciplinar de Materiais Avançados de Naviraí (LIMAN).

Resultado e discussão

Os experimentos com a luz ultravioleta foram feitos baseado na conversão para luz visível, através do fenômeno da fluorescência, um efeito facilmente compreendido de maneira intuitiva pelos alunos devido ao brilho no escuro e a alteração da cor típica em luz branca. Antes dos experimentos, também é explicado que os pássaros conseguem enxergar a luz ultravioleta, diferente de nós, seres humanos. Do mesmo modo que as cobras de hábito noturno possuem capacidade de detectar a luz infravermelha, também invisíveis para os seres humanos. Estas informações são reforçadas de modo lúdico em uma cartilha ilustrada distribuída ao final das apresentações, que traz um diálogo entre um passarinho de nome Cirilo e uma cobra, de nome Coralina (Fig. 1). Centenas de cópias desta cartilha foram produzidas com auxílio financeiro do Instituto TIM em parceria com o CNPq (Processo n. 445983/2015-9) e foram distribuídas juntamente com camisetas do projeto para os alunos participantes do projeto, executado em escolas de ensino fundamental de municípios da microrregião de Naviraí-MS. Na Fig. 2 é apresentado um mosaico de imagens mostrando como os alunos participam dos experimentos envolvendo fluorescência de extrato de agrião e água tônica utilizando lâmpada de luz negra e como os experimentos são visualmente atraentes e encantam os alunos plenamente. Um sentimento de pertencimento toma conta dos alunos desde o momento de macerar as plantas para extrair a clorofila até o simples despejar da água tônica em um frasco para observar o efeito fluorescente. Sentindo-se também executores do projeto e, portanto, pequenos cientistas, tendo suas participações registradas em fotos e vídeos, este sentimento de pertencimento é reforçado e prolongado pela posse definitiva da cartilha e da camiseta do projeto.

Figura 1.

Foto das páginas internas da cartilha, onde as personagens descrevem suas habilidades de percepção das luzes invisíveis.

Figura 2.

Mosaico de imagens mostrando como os alunos participam dos experimentos envolvendo fluorescência de extrato de agrião e água tônica utilizando lâmpada de luz negra.

Conclusões

Foi demonstrado neste trabalho o método de execução de parte de um grande projeto de ensino e extensão, elaborado para contribuir com a melhoria do ensino de ciências e de uma prática pedagógica mais coerente com o caráter experimental e de observação da natureza que a ciência tem. Foram utilizados materiais do cotidiano do aluno, mas usando técnica de observação não familiar a eles e, portanto atrativa, sob a ótica da novidade e dos efeitos visuais, o que é potencializado pela participação direta nos experimentos e contribui para “o despertar científico” do aluno já no ensino fundamental.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao INSTITUTO TIM, CNPq, FUNDECT e CAPES pelo apoio financeiro e bolsas concedidas.

Referências

AULER, D.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científico-tecnológica para quê? Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, v. 3, n. 1, p. 1-13, 2001.
BIASOLI-ALVES, Z. M. Contribuições da psicologia ao cotidiano da escola: necessárias e adequadas? Paidéia (Ribeirão Preto), No. 12-13, Ribeirão Preto, p. 77-96, 1997.
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: Um longo caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro-RJ, Editora Civilização Brasileira, 2002.
CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, V. 22, p. 89-100, 2003.
FRIZZO, M. N.; MARIN, E. B. O ensino de ciências nas séries iniciais. Editora Unijuí, 1989.
FUMAGALLI, L. O Ensino das Ciências Naturais ao nível fundamental da educação formal: argumentos a seu favor. Em H. Weissman (Org.) Didáctica das Ciências Naturais. Contribuições e reflexões, pp. 13-29, Porto Alegre: ARTMED, 1998.
GALVÃO, C., REIS, P., FREIRE, A., OLIVEIRA, T. Avaliação de Competências em Ciências: Sugestões para professores dos ensinos básico e secundário. ASA Editores, Lisboa, Portugal, 2006.
RUFFMAN, T., PERNER, J., OLSON, D. R., Doherty, M. Reflecting on scientific thinking: children's understanding of the hypothesis-evidence relation. Child Development. V. 64; p. 1617-1636, 1993.
VIECHENESKI, J. P.; CARLETTO, M. Por que e para quê ensinar ciências para crianças. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia. Vol 6, n. 2, 2013.
ZANON, D.A.V. Ensinar e aprender Ciências no ensino fundamental com atividades investigativas: enfoque no projeto ABC na Educação Científica Mão na Massa. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, 2005.

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