Composição fitoquímica do extrato etanólico da amêndoa do coco ariri ([i]Syagrus cocoides[/i] Martius)

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Pires, T.P.R.S. (UFMA) ; Mineiro, T.Y.P. (UFMA) ; Costa, F.R.T. (UFMA) ; Mendonça, C.J.S. (UFMA) ; Maciel, A.P. (UFMA)

Resumo

OO coco ariri (Syagrus cocoides Martius) pertence à família da Arecaceae e apresenta em sua constituição um caroço lenhoso, recoberto por um epicarpo de cor verde, contendo no seu interior uma amêndoa oleosa. O presente estudo traz dados inéditos sobre a caracterização química do Extrato Etanólico Coco Ariri (EECA) através de testes fitoquímicos qualitativos e por análise de espectroscopia na região do infravermelho. A triagem fitoquímica do EECA e os modos vibracionais do espectro de absorção na região do infravermelho sugerem que essa espécie vegetal apresenta em sua constituição substâncias das classes de metabólitos secundários, inferindo que o coco ariri apresenta-se com um potencial antimicrobiano, antioxidante, dentre outras atividades biológicas.

Palavras chaves

Fitoquímica; Espectroscopia; Arecaceae

Introdução

A triagem fitoquímica é um procedimento importante para bioprospecção das espécies vegetais de interesse farmacológico e/ou toxicológico. A composição química de um extrato pode ser conhecida através de testes químicos qualitativos rápidos e de baixo custo, sugerindo as possíveis classes de metabólitos secundários de interesse (MATOS, 2009). Os metabólitos secundários, geralmente de estrutura complexa, baixo peso molecular, possuem atividades biológicas marcantes e, diferentemente dos metabólitos primários, apresentam-se em baixas concentrações e em determinados grupos de plantas (BERG & LUBERT, 2008). Muitos são de importância comercial não apenas na área farmacêutica, mas também nas áreas alimentar, agronômica, perfumaria e outras (SIMÕES et al., 2007). A espécie vegetal Syagrus cocoides Martius, conhecida popularmente como coco ariri é pertencente do gênero Syagrus é oriundo da família Arecaceae que apresenta um grande número de produtos básicos à subsistência humana, quando comparado a qualquer outra família de plantas. É um dos três mais frequentes em número de espécies de palmeiras no Brasil, e, o de maior representatividade na região do Cerrado (HENDERSON et al., 1995). O fruto do Syagrus cocoides Mart. é composto de um caroço lenhoso, pardo-claro recoberto por um epicarpo de cor verde, contendo no seu interior uma amêndoa oleosa (PESCE, 2009). As espécies vegetais in natura, como frutos, legumes, folhosos em geral e condimentos, contêm numerosos fitoquímicos, destacando-se os compostos fenólicos, os compostos nitrogenados, os carotenóides, o ácido ascórbico e os tocoferóis. Muitos desses compostos apresentam significativa atividade antioxidante e estão associados à menor incidência e menor mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, sobretudo o câncer, em seres humanos (WCRF, 2007). Diante deste contexto realizou-se o estudo preliminar da espécie Syagrus cocoides Martius, por meio de análise fitoquímica qualitativa e por espectroscopia na região do infravermelho do extrato etanólico da amêndoa do coco ariri, buscando contribuir para a identificação das possíveis classes de metabólitos secundários presentes na espécie em estudo.

Material e métodos

Matéria-prima e secagem As amostras de Syagrus cocoides Mart. foram coletadas em janeiro de 2017 na cidade de São Luís, estado do Maranhão, Brasil (latitude: -2,5564, longitude: -44,4081). A identificação botânica foi realizada pelo Herbário MAR do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e o exemplar de nº 9.206 encontra-se depositado no referido herbário. Após a coleta, procedeu-se o processo de retiradas das amêndoas com auxílio de morsa, em seguida as amêndoas foram submetidas à secagem em estufa com circulação de ar a 40°C por 4h. Após secagem foram trituradas em triturador forrageiro TRF80, Marca Trapp. Obtenção do extrato O extrato etanólico foi obtido a partir de 200g da amêndoa, triturada e seca, por maceração em 500 mL de álcool etílico/marca Quimex. Agitou-se essa mistura e deixou-se em repouso por 24h para extrair os compostos químicos, após esta etapa filtrou-se o extrato que em seguida foi armazenado, e ao resíduo sólido, adicionou-se novamente 500 mL de álcool etílico/marca Quimex. Repetiu-se tal operação por 3 vezes, obtendo-se um volume de 2,5L de extrato etanólico. O extrato etanólico obtido foi submetido a concentração sob pressão reduzida em evaporador rotatório (Marca IKA RV10 Digital), à temperatura constante de 40°C. O extrato etanólico obtido foi submetido aos testes fitoquímicos. Testes fitoquímicos A metodologia utilizada para os testes fitoquímicos seguiu Matos (2009), Simões et al. (2007) e Miranda et al. (2013). O extrato etanólico foi submetido a uma série de reações de caracterização fitoquímica: fenóis e taninos (reação com cloreto férrico/marca Synth); saponinas (teste de espuma-agitação); esteróides e triterpenos (extração com clorofórmio/marca Isofar, anidrido acético/marca Vetec e ácido sulfúrico/marca Quimex); alcalóides (Reativos de Dragendorff usando carbonato de bismuto/marca Vetec e iodeto de potássio/marca Neon); antocianinas e antocianidinas (reação com ácido clorídrico/marca Dinâmica e hidróxido de sódio/marca Isofar); catequinas (reação com ácido clorídrico/marca Quimex, hidróxido de sódio/marca Isofar e aquecimento); flavonóides (reação com magnésio em fita/marca Isofar com ácido clorídrico/marca Quimex). A presença ou ausência dos grupos de metabólitos secundários da espécie estudada foi verificada a partir da observação da reação característica esperada ou não, indicando a presença de resultado positivo ou negativo para cada grupo e constituinte analisado (MATOS, 2009). Espectroscopia de absorção na região do Infravermelho O extrato etanólico da amêndoa do coco ariri (Syagrus cocoides Mart.) obtido no experimento foi submetido à análise por espectroscopia na região do infravermelho, em um espectrômetro IR Prestige-21 por transformada de Fourier da Shimadzu na faixa de 4000 a 400 cm-1 e resolução de 8 cm-1. Para os registros dos espectros, as amostras foram preparadas em pastilhas de KBr (1% m/m).

Resultado e discussão

Testes fitoquímicos Os testes fitoquímicos (Figura 1) realizados no extrato etanólico da amêndoa do coco ariri (Syagrus cocoides Mart.), sugeriram presença de diferentes grupos de metabólitos secundários e alguns constituintes, sugerindo biodisponibilidade de diversas classes de compostos orgânicos. A intensidade destes constituintes foi visualizada através da mudança de coloração e/ou formação de precipitado (MATOS, 2009). Para os testes de fenóis observou-se a coloração esverdeada, quando comparada ao teste em branco, no qual usou-se apenas água e cloreto férrico (Fig. 1A), sendo considerado um indicativo da presença de fenóis, e observou-se ainda a formação de precipitado verde (Fig. 1B), sendo considerado por Matos (2009), um indicativo de taninos condensados. De acordo com Niemetz e Gross (2005), os taninos são importantes componentes gustativos, sendo responsáveis pela adstringência de muitos frutos e produtos vegetais. No organismo humano atuam como antioxidante, antisséptico, cicatrizante e vasoconstritor. Em excesso podem reduzir significativamente a biodisponibilidade mineral e a digestibilidade proteica da refeição (COZZOLINO, 2009). Para os testes de antocianinas, antocianidinas e flavonoides, observou-se que em meio ácido não houve variação de coloração e em meio alcalino a coloração formada foi amarela (Fig. 1C) sugerindo a presença de flavonas, flavonóis e xantonas, e descartamento a presença de antocianinas e antocianidinas, pois não foram verificadas a coloração vermelha em meio ácido e nem a coloração lilás ou azul-púrpura em meio alcalino. As classes de flavonoides apresentam múltiplos efeitos biológicos, como atividade antioxidante, antiinflamatória e antitumoral, poder de redução a fragilidade e permeabilidade capilares; inibição da destruição do colágeno a agregação plaquetária (ARAÚJO, 2008; FILHO et al., 2001). Observou-se para os testes de leucoantocianidinas, catequinas e flavonas que não foi confirmada a presença de leucoantocianidinas e catequinas no extrato etanólico, pois não houve modificação da coloração, em contrapartida em meio alcalino ocorreu a modificação de coloração para vermelha bem intensa (Fig. 1D), sugerindo a presença de flavanonas. Tais compostos fenólicos apresentam capacidade antioxidante e de neutralizar a atividade de radicais livres gerados no organismo, que estão associados a diversas doenças crônico-degenerativas (ROCHA et al., 2011). Nos testes para esteroides e triterpenoides observou-se no tubo de ensaio (Fig. 1E) a coloração esverdeada sendo um indicativo da presença de esteroides livres, não foi observada a coloração amarela-parda nem vermelha, indicando ausência de triterpenoides nesse extrato. Robbers et al. (1997) em seus estudos afirmam que os esteróides, agem diretamente no desenvolvimento e no controle do sistema reprodutor humano, funcionando como cardiotônicos, precursores de vitamina D, anticoncepcionais orais, agentes antiinflamatórios e agentes anabolizantes. O extrato etanólico de coco ariri indicou presença de saponinas, pois se observou nos testes (Fig. 1F) a formação de espuma persistente e moderada, por isso considerada com média intensidade. Simões et al. (2007), apontam em seus estudos que os efeitos das saponinas no organismo humano destacam-se os antioxidantes, em que se ligam a sais biliares e colesterol no tubo digestivo, impedindo sua absorção, além disso, possuem ação citotóxica atuando contra células tumorais. Esses compostos químicos são originários do metabolismo secundário da planta, atuando como um sistema de defesa (WINA et al., 2005). Espectroscopia de absorção na região do Infravermelho O espectro de infravermelho (Figura 2) do extrato etanólico da amêndoa do coco ariri (Syagrus cocoides Mart.) revelou absorções em 2940 e 2855 cm-1, correspondentes aos estiramentos de ligação C-H, que são comuns em várias classes de grupos alifáticos como ácidos e ésteres graxos, álcoois de cadeia longa e esteroides. A banda em 3408 cm-1, proveniente do estiramento da ligação OH, pode ser causada pela presença de esteróides, que já foi comprovada a presença de tal classe pelos testes fitoquímicos realizados nesse trabalho. A banda de absorção em 1748 cm-1 é função do estiramento da ligação C=O de éster. Verificou-se ainda a presença de bandas de pequena intensidade, em torno de 1612 e 1466 cm-1, que são referentes ao estiramento da ligação C=C de compostos aromáticos, indicando que o solvente usado (etanol) extraiu também essa classe de compostos. As bandas em torno de 1155 e 1105 cm-1, referem-se à deformação angular OH indicando que o extrato apresenta em sua constituição compostos fenólicos. A banda em torno de 723 cm-1, em função da deformação angular de grupo [CH2]n (onde n>4), é indicativo da presença de compostos contendo cadeia alifática longa (SILVERSTEIN et al., 2015).

Figura 1. Resultados dos testes fitoquímicos

(A)branco,(B)fenóis e taninos condensados, (C)flavonóis, (D)flavanonas, (E)esteroides, (F)saponinas.

Figura 2. Espectro de absorção na região do infravermelho



Conclusões

Conclui-se, portanto, que o extrato etanólico da amêndoa do coco ariri apresentou presença de fenóis, taninos condensados, flavonoides, esteroides e saponinas. Por meio do espectro de absorção na região do infravermedo observou-se modos vibracionais característicos de grupos funcionais dos constituintes químicos sugeridos pelos resultados dos testes fitoquímicos. Este estudo apresenta dados preliminares e inéditos sobre a composição fitoquímica da espécie Syagrus cocoides Mart. Essa espécie apresenta-se, portanto, como uma fonte de compostos fenólicos, que podem ser potencialmente ativos em modelos biológicos e farmacológicos. Outros trabalhos como fracionamento e isolamento de compostos bioativos, bem como aplicação biotecnológica do coco ariri já está sendo estudada pelos autores.

Agradecimentos

- Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), à Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e ao Núcleo de Catálise, Combustíveis e Ambiental (NCCA).

Referências

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