Caracterização química de extratos etanólicos de Caryocar coriaceum Wittm (Pequi) e atividade anticolinesterasica

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Maia de Morais, S. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Carolina Silva e Silva, A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Lima dos Santos, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Lima Maciel, G. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Ribeiro Alves, D. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)

Resumo

O Caryocar coriaceum, popularmente conhecido como pequi, destaca-se por constituir uma alternativa viável de fitoterápico com potencial valor econômico, uma vez que todas as partes da planta são utilizadas pela população local. Extratos etanólicos da polpa e casca do fruto bem como das folhas foram submetidos à caracterização fitoquimica, quantificação de fenóis e flavonoides, espectroscopia na região do infravermelho e determinação de atividade antiacetilcolinesterase. Na prospecção fitoquímica apresentaram-se alcaloides, catequinas, esteroides, fenóis, flavonoides, saponinas e taninos, apresentando valores relevantes quanto às quantificações de fenóis e flavonoides. Os extratos revelaram importante atividade antiacetilcolinestrese, revelando potencial ação contra a Doença de Alzheimer.

Palavras chaves

Pequi; Antiacetilcolinesterase; FTIR

Introdução

O cerrado abrange cerca de 23,92 % da área total do Brasil, aproximadamente 2.036.448 Km² (IBGE, 2004), atualmente sua área foi reduzida em 986.247 Km2 devido ao processo de fragmentação das vegetações, desencadeando na perda de habitats e de biodiversidade e reduzindo o tamanho das populações, especialmente das de espécies raras, (IBGE, 2008). É um bioma estratégico que interliga o pantanal, a floresta amazônica e a caatinga de forma direta, sendo também responsável por garantir o equilíbrio ecológico e a diversidade biológica destes biomas (Nascimento, 2007). Mais de 100 espécies são utilizadas pela comunidade para fins medicinais, com o intuito de tratar doenças (AGUIAR, L.C.G.G.; BARROS, R.F.M, 2012). O popularmente conhecido pequi (Caryocar coriaceum Wittm), predominante no cerrado (CAMARGO et al, 2014), é utilizado pela população, salientando suas diversas aplicações como antileishmanial, fungicida, antioxidantes, biodiesel, aplicações em emulsões cosméticas, entre outras (TOMIOTTO- PELLISSIER et al, 2018; ALVES et al, 2017; PORTO, 2008; BREDA, 2015; CAMARGO et al, 2014; SILVA et al, 2014). Pesquisas vem avaliando a ação de produtos naturais na inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE) (PENIDO, 2017; MARTINS, 2018; ZANARDI, 2012; MOTA, 2008). Responsável por hidrolisar o neurotransmissor acetilcolina possibilitando a conclusão do impulso nervoso, pacientes diagnosticados possuem uma elevada concentração desta enzima (MOTA, 2012). Neste trabalho, objetivou-se a caracterização química, a elucidação de classes de compostos por espectroscopia na região do infravermelho (FT-IR) e a determinação de atividade inibitória frente à enzima AChE dos seguintes extratos: Extratos etanolicos da casca (EECP), polpa (EEPP) e folha (EEFP).

Material e métodos

Produtos químicos: iodeto de acetilcolina (ATCI), e outros reagentes foram adquiridos da Sigma ChemicalCo (St. Louis, MO, EUA). A polpa, as folhas, os frutos maduros e as cascas de C. coriaceum foram obtidos no campus da Universidade Estadual do Ceará (lat.:−3.792222; long: −38.556111), Fortaleza, Brasil. Foram identificadas pelo Herbário Prisco Bezerra sob o código EAC57060. Os extratos foram obtidos por maceração a frio com 96% de etanol, a 12 h de ciclo de luz, sem agitação por 7 dias. A filtração e a evaporação do solvente a pressão reduzida em evaporador rotativo levaram a extratos etanólicos brutos da folha, polpa e casca do fruto. A presença de metabólitos secundários foi detectada através da observação de mudanças de cor ou reações de formação de precipitados (PENIDO et al, 2017). O teor total de fenois foi determinado quantitativamente utilizando o Método de Folin – Ciocalteu (SOUSA et al, 2007). O teor de flavonoides foi determinado pelo método de Funari e Ferro (2006). Os espectros FT-IR foram obtidos utilizando um espectrofotômetro modelo Nicolet iS5 da Thermo Scientific. As amostras foram preparadas na forma de pastilhas de KBr na proporção 1:20 (m/m) e os espectros registrados no intervalo de 4000 a 400 cm-1, empregando-se 32 scans e resolução de 4 cm-1. A atividade de AChE medido quantitativamente usando um leitor de microplacas Elisa BIOTEK (modelo ELX 800 com software Gen5 V2.04.11), baseado no método de Ellman (1961) e modificado por Trevisan (2003).

Resultado e discussão

A prospecção fitoquímica dos extratos de pequi demonstrou a presença de alcaloides, catequinas, esteroides, fenóis, flavonoides, saponinas e taninos. Em relação às quantificações o extrato EEFP demostrou expressiva presença de fenóis, em contrapartida EECP exibiu maior teor de flavonoides. O extrato EEPP apresentou melhor atividade anticolinesterásica, quando comparada ao padrão Eserina, como visualizado na tabela 01, outros trabalhos indicam que todos os extratos apresentaram valores de inibição relevantes (BENIDO et al, 2017), referenciando o C. coriaceum como potencial fonte de compostos bioativos contra a Doença de Alzheimer. Os espectros FT-IR foram identificados tendo como referência os trabalhos Amorim (2016), Breda (2015; 2017), Ragavendran (2011), Geocze (2011) e Pavia (2010), que determinaram a presença de: estiramento axial de OH dos ácidos orgânicos com banda larga (3410–2500 cm-1); estiramento C-H (2925cm-1); estiramento C=O de ácidos carboxílicos (1707cm-1); vibração CO de aminoácidos (1611cm-1); deformação angular CH2 (1448cm-1); estiramento de ligação C-O (1196, 1034 e 1055 cm-1), conforme visualizado na Figura 1.

Figura 1.

Espectros no infravermelho em espectroscópio modelo Nicolet iS5 da Thermo Scientific dos extratos de partes da planta Caryocar coriaceum.

Tabela 1

Teor de fenóis e flavonoides totais e inibição da atividade da enzima AChE (IC50) no extrato etanolico de C. coriaceum.

Conclusões

Os resultados obtidos neste trabalho têm como intenção referenciar o C. coriaceum como potencial fonte de compostos bioativos contra a doença de Alzheimer, visto seus teores relevantes de fenóis e flavonoides, a presença de alcaloides entre os outros metabolitos que podem estar relacionados a alta atividade antiacetilcolinesterase. Logo, faz-se necessário um estudo para o isolamento e caracterização de substâncias, assim como também, estudos in vivo devem ser realizados para detectar a biodisponibilidade desses extratos, visando o desenvolvimento de novos produtos farmacêuticos.

Agradecimentos

Agradeço à Profa. Selene, pela orientação e disponibilidade. UECE, CNPQ e CAPES.

Referências

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