AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS ÓLEOS ESSENCIAIS DAS FOLHAS DE Anaxagorea dolichocarpa Sprague & Sandwith (ANNONACEAE) EM FUNÇÃO DA SAZONALIDADE

ISBN 978-85-85905-23-1

Área

Produtos Naturais

Autores

Moraes, A.A.B. (MPEG) ; Cascaes, M.M. (MPEG) ; Andrade, E.H.A. (MPEG) ; Nascimento, L.D. (MPEG) ; Sousa, E.M. (MPEG) ; Anjos, T.O. (MPEG) ; Pereira, S.F.M. (MPEG)

Resumo

Os óleos essenciais das folhas de Anaxagorea dolichocarpa, coletada nos meses de março e dezembro de 2017, no município de Magalhães Barata (PA), foram obtidos por hidrodestilação e analisados por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas (CG/EM), a fim de se avaliar o efeito da sazonalidade. Os rendimentos obtidos foram de 0,68% e 0,26% nos meses de março e dezembro, respectivamente. A composição química caracterizou-se pela presença majoritária dos sesquiterpenos espatulenol (31,5 e 8,77%), óxido de cariofileno (9,91 e 3,9 %) e β-elemeno (8,76 e 1,96 %) e dos monoterpenos β-pineno (4,69 e 19,45%) e α- pineno (2,5 e 23,02 %). Variações quantitativas foram observadas no perfil químico e na produção de óleo essencial.

Palavras chaves

sazonalidade; espatulenol; Anaxagorea

Introdução

A família Annonaceae constitui a principal família do clado Magnoliales (APG 2003) possuindo cerca de 2.500 espécies e 108 gêneros (CHATROU et al., 2012), das quais, 386 ocorrem no Brasil, principalmente nas regiões norte e nordeste (MAAS et al., 2015). As espécies de Annonaceae são amplamente estudadas por químicos e biólogos devidos suas propriedades farmacológicas, além de serem bastante conhecidas por seus frutos comestíveis, tais como a fruta do conde e graviola, e também por fornecerem madeira própria para carpintaria e para fabricação de cortiças (CÔRREA, 1994). Dentre os diversos gêneros de Annonaceae, destaca-se o gênero Anaxagorea, que possui mais de 23 espécies, das quais 14 ocorrem no Brasil (MAAS et al., 2015; MAAS; WESTRA, 1984), a maior parte destas se encontram na Amazônia, somente uma parte ocorre na Mata Atlântica. A espécie Anaxogorea dolichocarpa é a mais comum e mais bem distribuída (MAAS et al., 2015). Para a composição química da A. dolichocarpa é relatado a predominância de alcaloides aporfínicos (HOCQUEMILLER et al., 1981), além de terpenos e diterpenos. As espécies da família Annonaceae possuem uma diversidade de metabolitos secundários que justificam o estudo do óleo essencial de um representante desta família. Com base nisso, o presente trabalho tem por objetivo descrever a influência sazonal sobre os constituintes voláteis das folhas de A. dolichocarpa durante dois períodos de coleta.

Material e métodos

O material botânico foi coletado na Comunidade Vila Nova, município de Magalhães Barata, Pará, nos meses de março e dezembro. A extração do óleo essencial das folhas secas foi realizada por hidrodestilação, utilizando sistemas de vidros do tipo Clevenger modificado, acoplado a um sistema de refrigeração para manutenção da água de condensação entre 10-15 ºC, durante 3h. Os óleos, após extração foram submetidos à centrifugação durante 5 min a 3000 rpm, posteriormente desidratados com Na2SO4 anidro, e novamente centrifugados nas mesmas condições. A composição química dos constituintes voláteis dos óleos essenciais foi analisada por cromatografia de fase gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG/EM), em sistema Shimatzu QP Plus-2010 equipado com coluna capilar de sílica DB-5MS (30 m x 0,25 mm; 0,25 m de espessura do filme) nas seguintes condições operacionais: gás de arraste: hélio, em velocidade linear de 36,5 cm/s; tipo de injeção: sem divisão de fluxo (2 µL de óleo em 1mL de hexano); temperatura do injetor: 250 ºC, programa de temperatura: 60-250 ºC, com gradiente de 3ºC/min; temperatura da fonte de íons e outras partes 220 ºC. O filtro de quadrupolo varreu na faixa de 39 a 500 daltons a cada segundo. A ionização foi obtida pela técnica de impacto eletrônico a 70 eV. A identificação dos componentes voláteis foi baseada no índice de retenção linear (IR), e no padrão de fragmentação observado nos espectros de massas por comparação destes com amostras autênticas existentes nas bibliotecas do sistema de dados e da literatura (ADAMS, 2007).

Resultado e discussão

O rendimento de óleo essencial das folhas de A. dolichocarpa no mês de março (0,68%) foi 61,8% superior ao obtido no mês de dezembro (0,26%). Os valores dos rendimentos evidenciaram que o período de coleta influenciou no teor de óleo essencial obtido, conforme dados de precipitação pluviométrica obtidos pelo INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) (Figura 1). A partir dos dados do INMET é possível observar que na coleta realizada no mês de março houve maior índice de precipitação, caracterizando um período chuvoso, já o mês de dezembro foi caracterizado como um período seco. Nos óleos essenciais das folhas de A. dolichocarpa foram identificados 38 constituintes químicos. Estes constituintes juntamente com seus índices de retenção (IR) são listados em ordem crescente na Tabela 1. O óleo essencial das folhas de A. dolicocharpa caracterizou-se pela presença majoritária dos sesquiterpenos oxigenados espatulenol e óxido de cariofileno, do hidrocarboneto sesquiterpênico β-elemeno e dos monoterpenos não oxigenados β- pineno e α-pineno. Esta composição química está de acordo com a composição descrita por Andrade et al (2007) que relataram como constituintes majoritários dos óleos essenciais das folhas de A. dolichocarpa, coletada no mesmo Município, espatulenol (26,2%), α-pineno (16,8%) e β-pineno (12,3%). Os frutos da espécie são majoritariamente compostos por δ-cadinol, óxido de cariofileno, δ- cadineno, α-copaeno e γ-muuroleno (Fournier et al. 1994). A Figura 2 ilustra os constituintes majoritários (≥ 2,0%) obtidos dos óleos essenciais das folhas de A. dolicochocarpa nos dois períodos de coletas. No período seco (dezembro) os monoterpenos oxigenados β-pineno e α-pineno apresentaram teor de óleo essencial superior ao obtido no mês de março (período chuvoso). Para o monoterpeno β-pineno o teor obtido em dezembro foi cerca de 9 vezes maior do que o obtido no mês de março e para α-pineno cerca de 4 vezes maior, considerando-se o mesmo período. O inverso foi observado para os sesquiterpenos óxido de cariofileno, espatulenol e β-elemeno, no mês de março foram obtidos teores superiores destes constituintes em relação ao mês de dezembro. β-elemeno apresentou teor cerca de 4 vezes maior, espatulenol cerca de 3 vezes maior e óxido de cariofileno cerca de 2 vezes maior.

Figuras 1 e 2

Figura 1. Gráfico da precipitação pluviométrica referente aos meses de março e dezembro de 2017. Figura 2. Gráfico dos constituintes químicos majorit

Tabela 1

Tabela 1. Constituintes químicos identificados nos óleos essenciais das folhas de Anaxagorea dolichocarpa.

Conclusões

Dentre os constituintes químicos identificados nos óleos essenciais das folhas de Anaxagorea dolichocarpa foram observadas variações quantitativas significativas, acima de 50%, nos teores dos constituintes majoritários (β- pineno, α-pineno, óxido de cariofileno, espatulenol e β-elemeno) e também nos rendimentos obtidos. Esses resultados evidenciam que variações quantitativas no perfil químico e na produção de óleo essencial podem ser atribuídas a fatores sazonais (período seco e chuvoso).

Agradecimentos

Ao CNPq, Ao Museu Paraense Emílio Goeldi e a Universidade Federal do Pará.

Referências

ANDRADE, E. H. A.; OLIVEIRA. J.; ZOGHBI, M. G. B. Volatiles of Anaxagorea dolichocarpa Spreng. & Sandw. and Annona densicoma Mart. Growing Wild in the State of Pará, Brazil. Flavour and Fragrance Journal, 22, 158-160, 2007.

APG- AngiospermPhylogeny Group. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG II. Botanical Journal of the Linnean Society. 141, 399-436, 2003.

CHATROU, L. W et al. A new sub familial and tribal classification of the pantropical flowering plant family Annonaceae in formed by molecular phylogenetics. Bot. J. Linn. Soc., 169, 5-40, 2012.

CÔRREA, M. P. Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Imprensa Nacional, 6, 777, 1984.

FOURNIER, G. T.; HADJIAKHOONDI, A.; CHARLES, B.; LEBOEUF, M.; CAVI, A. Volatile Components of Anaxagorea dolichocarpa Fruit. Biochemical Systematics and Ecology, 22, 605-608, 1994.

HOCQUEMILLER, R et al. Anaxagoreine, a new aporphine alkaloide, isolated from two species of the genus Anaxagorea. Planta Medica. 41, 1, 48-50, 1981.

MAAS, P. J et al. Annonaceae from Central-eastern Brazil. Rodriguésia, 52, 65-98, 2001.

MAAS, P. J.; A. RAINER, H. 2015. Annonaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: < http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB117097>. Acesso em 21 de Agosto de 2018.

MAAS, P. J.; WESTRA L, Y, T. Studies in Annonaceae. II A monograph of the genus Anaxagorea A. S. – Hil. Part II. Botanische Jahrbücher für Systematik, Pflanzengeshichte und Pflanzengeographie, 105, 1, 73-134, 1984.

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