MODIFICAÇÃO DE ARGILA BENTONITA E APLICAÇÃO COMO NANOCARGA EM REVESTIMENTO ANTICORROSIVO

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Materiais

Autores

Isidorio, D.K.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI) ; Pinto, L.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI) ; Souza, T.D. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI) ; Rodrigues, A.W.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI)

Resumo

A utilização de polímeros como revestimento anticorrosivo tem recebido atenção especial devido aos inúmeros resultados positivos obtidos. Além disso, a mistura desses com cargas inorgânicas para formação de nanocompósitos tem chamado atenção para essa área. Com isso, o trabalho busca avaliar a influência das argilas bentonitas nacional e importada nas propriedades anticorrosivas da resina epóxi. Para tanto, realizou-se a modificação da argila nacional por técnica de troca de íons, essa e a importada foram caracterizadas e incorporadas no epóxi, os ensaios de corrosão foram realizados por câmara de névoa salina. Os resultados apontaram que a argila modificada apresenta bom potencial como nanocarga, porém, a adição de ambas as argilas não influenciou nas propriedades anticorrosivas do epóxi.

Palavras chaves

Argilas bentonitas; Nanocompósitos; Corrosão.

Introdução

Dentre as inúmeras possibilidades de proteção contra os processos corrosivos atualmente em materiais, os métodos de revestimento anticorrosivo com polímeros constituem-se como uma solução fácil e de baixo custo, tornando-se bastante atraente para essa aplicação. Nos últimos anos os materiais poliméricos têm sido amplamente utilizados em aplicações industriais, especialmente em revestimentos de tubulações (GUERMAZI et al., 2008; NIU e CHENG, 2008). Mais recentemente, a utilização de nanocompósitos poliméricos tem despertado grande interesse científico e tecnológico, isso por que a presença de nanoreforços em pequenas concentrações, geralmente ente 1 e 5% provocam melhorias consideráveis nas propriedades físico-químicas da matriz polimérica, além de promover a redução do peso final quando comparado com compósitos tradicionais, o que possibilita criação de novas aplicações para os polímeros (FIEDLER et al., 2006; KIM et al., 2010). Os nanocompósitos formados por matrizes poliméricas e argilas modificadas, como a bentonita, têm recebido atenção especial devido às inúmeras vantagens obtidas, tais como: aumento de resistência à tração e ao impacto, resistência à chama e resistência à permeação de gases, que podem ser alcançados com quantidades pequenas de argila organofílica, enquanto que as cargas convencionais, minerais ou fibras de vidro, necessitariam de quantidades maiores em massa. A melhoria das propriedades está relacionada com a grande interação das moléculas de polímero na interface polímero/argila (VAIA et al., 1996). Para obter argilas compatíveis com as matrizes poliméricas, devem ser transformadas em organofílicas. Geralmente, pode-se obter a organofilização através de diversas rotas de modificação da argila. A síntese de argilas bentoníticas organofílicas é geralmente realizada há décadas pela técnica de troca de íons. Por meio dela, é feita a modificação superficial da argila com a substituição dos cátions presentes nas galerias da argila, geralmente o Na+. Estes cátions monovalentes são mais facilmente trocáveis por cátions orgânicos de sais quaternários de amônio ou mesmo outros tipos de sais, em solução aquosa. A intercalação de espécies orgânicas em esmectitas é um modo de se construir conjuntos inorgânico-orgânicos com microestruturas únicas que são controladas por interações hospedeiro-hóspede e hóspede-hóspede (KAKEGAWAA e OGAWA, 2002; SAUJANYA e RADHAKRISHNAN, 2001). Dessa maneira a argila bentonitínica passa de hidrofílica para organofílica. Quando se tem uma efetiva organofilização a argila torna-se compatível com grupos poliméricos, assim podendo ser usada como nanocargas para a fabricação de nanocompósitos. Uma das resinas utilizadas como revestimento anticorrosivo são as epoxídicas, essas apresentam excelente resistência química na presença de solventes, alta resistência à tração e compressão, baixa retração pós-cura, baixo custo e facilidade no processamento. Todavia, devido à formação de estruturas altamente reticuladas após a cura são consideradas frágeis. Na buscar de contornar esses inconvenientes são utilizados reforços dispersos no seu interior (RAFIEE et al., 2009; DA SILVA et al., 2013). Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo principal a avaliação da adição e do tipo de argila bentonita (nacional e importada) como nanocarga na resina epóxi, com intuito de desenvolver nanocompósitos poliméricos para utilização como revestimento anticorrosivo. Faz parte também do trabalho a modificação e caracterização da argila bentonita nacional utilizando tensoativo para torná-la organofílica.

Material e métodos

As argilas utilizadas foram a argila nacional comercial BRASGEL PA (sódica ativada) com capacidade de troca de cátions (CTC) de 90 meq/100g. E a internacional comercial Cloisite 20 A, naturalmente sódica e CTC de 92,6 meq/100g de argila. A matriz polimérica utilizada foi a resina epoxídica, comercialmente conhecida por Araldite-1556, um agente de cura anidrido e um acelerador/iniciador de reação. Além disso, foi utilizado um tensoativo para organofilização. A argila comercial BRASGEL PA organofílica (BRASGEL PA ORG WB) foi obtida com o tensoativo iônico utilizando a metodologia de RODRIGUES, (2006). Para tanto, foram preparadas dispersões contendo 500 mL de água destilada e 20,08g de argila, mantida por 20 minutos sob agitação. Em seguida, adicionou-se uma solução contendo água destilada e tensoativo e mantido também sob agitação por mais 30 minutos. Após término, a solução foi mantida à temperatura ambiente em repouso por 24 h. Logo após o material obtido foi lavado com água destilada e filtrado. Os aglomerados obtidos foram secos em estufa a 60ºC, por 48 h, desagregados e peneirado com malha n° abertura de 0,074mm para posteriormente serem caracterizados. Foram confeccionados 6 corpos de prova com teores de 1, 2 e 3% de argila para cada uma das misturas: epóxi/ BRASGEL PA ORG WB e epóxi/argila Cloisite 20A, as quais foram expostos ao ensaio de câmara salina. Para a confecção dos mesmos, as argilas passaram por ajuste de granulometria para apresentarem 2µm. Posteriormente, realizada a mistura em agitador mecânico, por 30 minutos. Chapas metálicas de aço 1006 foram revestidas com nanocompósitos epóxi/argila. Antes da aplicação dos revestimentos, foi realizada uma limpeza nas superfícies metálicas com intuito de remover a “carepa” de laminação, ferrugem ou vestígios de graxas ou óleos. As superfícies foram lixadas com lixas de 400 e 600 mesh, seguido de polimento com pasta de diamante de 3 e 1 microns. Posteriormente aplicado solvente acetona P.A. ((CH3)2CO) e aplicando o revestimento do nanocompósito epóxi/argila com espessura de 5 mm. A caracterização seguiu análises de Difração de Raio-X - DRX as quais foram conduzidas em aparelho XRD-6000 Shimadzu utilizando radiação Cu K do cobre, tensão de 40KV, corrente de 30mA, varredura entre 2 a 30 graus e velocidade de varredura de 2º/min. As análises químicas das argilas foram realizadas por fluorescência de raios-X pelo método semi- quantitativo, em forma de pó, sob atmosfera de hélio em equipamento EDX 720 da Shimadzu. As análises de Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier -FTIR das argilas bentonitas foram realizadas em um espectrômetro de infravermelho de marca AVATAR TM 360ESP Nicolet e com varredura de 4000 a 400 cm-1. O ensaio de névoa salina foi realizado no equipamento SS600G1, Câmara Salina de Corrosão Acelerada Cíclica da Equilam. A câmara estava internamente a temperatura ambiente e as amostras foram expostas a névoa com concentração de 5% de NaCl, durante 120 h.

Resultado e discussão

A composição química das argilas Brasgel PA e Closite 20A, estão mostradas na figura 1a. Através desse resultado, observa-se que as argilas apresentaram um teor de SiO2 similar. Para o Al2O3, a argila Brasgel PA apresenta teor inferior em relação à Cloisite 20A a qual apresenta-se com 23,34% de Al2O3. Para o Fe2O3, pode-se observar diferenças significativas entre as duas argilas, a Brasgel PA apresenta teor elevado, evidenciado visualmente pela cor mais escura e a Closite 20A apresentando uma cor mais clara (creme). Para os teores de CaO, esta última apresenta-se com valores baixos, diferentemente da Brasgel PA. Os teores de MgO apresentam-se similares em ambas. Observa-se ainda a presença do sódio nas duas argilas. Para a Brasgel PA o Na2O deve-se ao processo industrial de aditivação com carbonato de sódio tornando-a sódica, pois a mesma apresentava uma natureza policatiônica; já a Closite 20A apresenta-se na forma sódica em sua composição naturalmente. O K2O, outros óxidos e PR encontram-se em concentrações baixas e presentes nas amostras de forma similar. De maneira global verificam-se que as argilas estudadas possuem composição química típica das argilas bentoníticas (SANTOS, 1992; CAMPOS, 2007). Os espectros de absorção na região do infravermelho das argilas: Brasgel PA e BRASGEL PA ORG WB com o tensoativo iônico, estão apresentados na Figura 1b. Pode-se observar que as amostras das argilas Brasgel PA apresentaram absorções a 3425 e a 3637 cm-1, características da presença de hidroxilas; a 1633 cm-1, características de água adsorvida; a 1007 cm-1, característica das ligações Si-O-Si e nas faixas de 900, 767 e 441 cm-1, características das camadas octaédricas. Para as amostras modificadas com os tensoativo iônico, observa- se também absorções entre 2836 e 2920 cm-1, referente à presença do grupo CH2 e a 1461 cm-1 referentes a deformação angular assimétrica de grupos (CH3)4N+. Estes resultados estão de acordo com os resultados obtidos por outros autores que utilizaram a mesma argila e o mesmo método de organofilização (RODRIGUES, 2006). A Figura 1c apresenta os difratogramas das argilas não modificadas e a modificada. Os resultados mostram que populações com diferentes espaçamentos basais são observadas para as diferentes argilas bentonitas, e que o espaçamento basal pode aumentar de acordo com o tensoativo utilizado na síntese da argila. Para a argila BRASGEL PA ORG WB foi observado três populações de espaçamentos basais, na argila Cloisite 20A pode-se verificar apenas duas populações. Pode-se notar também que o tipo de tensoativo utilizado na organofilização da Brasgel PA influenciou diretamente no valor do espaçamento basal e está relacionada ao comprimento da cadeia alquílica do tensoativo. Isso porque o mesmo tem em sua estrutura química: 2 caudas com predominância de 18 átomos de Carbono; 2 grupos CH3. A Figura 2 apresenta o aspecto visual das amostras de revestimentos de nanocompósitos epóxi/ BRASGEL PA ORG WB e Epóxi/ Closite com teores de argila de 1 a 3%, após 120 horas de exposição em câmara de névoa salina. Observou-se um comportamento semelhante em ambos os sistemas obtidos com as argilas, ou seja, apresentaram grau de corrosão nas superfícies metálicas entre 10 e 5, que segundo classificação ASTM D 610 (1989), corresponde a um grau de enferrujamento de 0 a 3% de suas superfícies corroídas. Verificando assim, que não houve influência do tipo de argila utilizado na confecção dos nanorevestimentos, bem como, o teor de argila utilizado nas propriedades anticorrosivas.

Figura 1.

a) Composição química da Brasgel PA e Closite, b) Espectros no infravermelho das argilas Brasgel PA e organofílica, c) Difratograma das três argilas.

Figura 2.

Aspecto visual do revestimento de nanocompósitos a) Epóxi/ BRASGEL PA ORG WB, b) Epóxi/Cloisite com teor de argila de 1, 2 e 3%.

Conclusões

Com base nos resultados desse trabalho pode-se verificar que a metodologia utilizada para organofilização das argilas mostrou-se eficiente, o que permitiu a intercalação do tensoativo nos espaços interlamelares da argila Brasgel PA tornando-a organofílica, resultado comprovado pelos ensaios de difração de raios e espectroscopia de absorção no infravermelho. Através do ensaio de corrosão em câmara de névoa salina concluiu-se que não houve influência do tipo de argila utilizado na confecção dos nanorevestimentos, bem como, o teor de argila utilizado nas propriedades anticorrosivas.

Agradecimentos

Referências

CAMPOS, L. F. A. Composições de argilas bentoníticas para utilização em
fluidos de poços de petróleo. Tese de Doutorado apresentada ao Curso de
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