Deposição de filmes de dióxido de titânio (TiO2) em superfície de Alumínio puro por gaiola catódica

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Materiais

Autores

Lima, R.N. (UFERSA) ; Vitoriano, J.O. (UFRN) ; Alves Jr., C. (UFERSA)

Resumo

Neste trabalho, filmes finos de TiO2 foram obtidos em substratos de alumínio puro pelo método de deposição a plasma por gaiola catódica em baixa temperatura de 130° C e variando o tempo de tratamento em 6 e 12 horas. A evolução das fases com o tempo de tratamento e a atividade fotocatalítica dos filmes foram avaliadas. A deposição das fases de TiO2 ocorre por camadas nas primeiras 6 horas de tratamento, com uma camada externa com predominância da fases Rutilo e uma camada interna com presença de fase Anatase. Com 12 horas de tratamento, a fase Anatase predomina ao longo de todo o revestimento e apresenta maior atividade fotocatalítica.

Palavras chaves

TiO2; Gaióla catódica; Plasma

Introdução

A deposição a plasma por gaiola catódica (DPGC) é uma técnica utilizada para obtenção de filmes finos aderentes e uniformes em substratos metálicos (ALVES et al., 2006). É uma técnica nova, considerada simples e eficiente, que surgiu da tentativa de reduzir os defeitos comuns de processos de nitretação iônica, tais como, efeito de borda e cátodo oco. Nessa técnica, as partículas ionizadas bombardeiam as paredes internas dos furos de um cilindro (gaiola). Esses furos estão uniformemente distribuídos sobre a superfície da gaiola. O material arrancado se deposita na superfície do substrato que se localiza no interior da gaiola (ALVES et al., 2006). Filmes finos de dióxido de titânio (TiO2) tem sido bastante estudado devido às suas inúmeras aplicações em diversos campos, principalmente devido a propriedades como, a boa estabilidade química, baixa toxicidade, apresenta grande atividade catalítica e alta eficiência na conversão fotoelétrica.Tais propriedades estão relacionadas com as fases estruturais (Anatase, Rutilo e Broquita) e suas quantidades presentes na camada de óxido (FISCHER et al., 2017). As fases Anatase e Broquita são metaestáveis e se convertem em rutilo, fase estável, quando aquecidas acima de 800° C. A fase Broquita é a mais difícil de sintetizar, aparecendo, geralmente, junto às fases Rutilo e Anatase. A Anatase é considerada um dos melhores fotocatalisadores. Fótons com energia igual ou maior que o seu gap (~ 3,2 eV) são capazes de desencadear fotoativação no TiO2, que cria pares de elétrons nas bandas condutora (BC) e buracos na banda de valência (BV). Já o Rutilo possui alta resistividade e alta constante dielétrica, sendo utilizado na fabricação de capacitores em dispositivos microeletrônicos (FELTRIN et al., 2013; ZYWITZKI et al., 2008). A evolução de cada uma dessas fases no processo de deposição a plasma depende, geralmente, dos vários parâmetros de processos como: temperatura, pressão, tempo de tratamento, tipo de substrato, fluxo de gás e entre outros. Diferentemente da maioria dos métodos de deposição por plasma, no método DPGC é possível obter a presença das três fases em temperatura consideravelmente baixas entre 300° e 400°C. CAVALCANTE et al. (2017) obteve em suas pesquisa a presença das três fases de TiO2 a um temperatura de tratamento de 350°C sob um substrato de Titânio. Já SOUZA et al. (2016) estudou a formação das fases de TiO2 em substratos de aço inoxidável e concluiu que as melhores condições para a obtenção de fases rutilo era em temperatura de deposição de 400°C e para a fase Anatase, temperaturas inferiores a 300°C. Neste trabalho, filmes finos de TiO2 foram obtidos em substratos de alumínio puro pelo método deposição a plasma por gaiola catódica em baixa temperatura de 130° C. A evolução das fases com o tempo de tratamento e a atividade fotocatalítica dos filmes foram avaliadas.

Material e métodos

TRATAMENTO: Para o tratamento, amostras em forma de discos de alumínio puro (Al-1050) com dimensões de 20 mm x 4 mm (diâmetro x espessura) foram utilizadas como substrato. Essas amostras foram colocadas em uma câmara de nitretação feita de aço inoxidável com uma janela de quartzo superior de 50 mm x 50 mm (diâmetro x altura). Durante o tratamento, utilizou-se uma gaiola de titânio com 70 mm x 34 mm (diâmetro x altura) e 16 orifícios dispostos lateralmente, cada um com 12,5 mm de diâmetro. A tampa da gaiola apresentava 12 furos com o mesmo diâmetro. A gaiola funciona como cátodo e a câmara como ânodo. Todas as interações do plasma ocorrem na gaiola catódica e não diretamente na amostra que foi isolados por um cone de alumina medindo 2 cm de altura.Antes do processo de deposição foi realizada a limpeza na gaiola catódica para remover óxidos ou contaminantes presentes na superfície. A limpeza consistia de um tratamento a plasma com gás Argônio 50 SCCM (centímetros cúbicos padrão por minuto), pressão de 0,15 mbar e temperatura de 80°C por 50 minutos. Após este tempo, o tratamento termoquímico foi iniciado. Foi utilizado um fluxo de gás de 45 SCCM de Argônio e 5 SCCM de Oxigênio, pressão de 0,15 mbar a uma temperatura de 130°C. Nos dois processo utilizou-se uma fonte de corrente pulsada com tempo de corrente ligado (Ton) de 50 µs e tempo de corrente desligado (Toff) de 150 µs e corrente de 0,3 A. Dois grupos de amostras foram tratados, um com 6 horas de tratamento e outro com 12 horas. IDENTIFICAÇÃO DE FASES: Após o tratamento as amostras foram caracterizadas quanto à composição de fases cristalográficas. Para isso foi utilizada a técnica de difração de raios-X (DRX), usando um difractômetro de raios-x, modelo XRD-6000 da SHIMADZU®. Para análise da camada em diferentes profundidades a técnica GIDRX (geometria Seeman-Bohlin) foi empregada. Foram usados ângulos de incidência a 0,5 °, 1,0 ° e 3,0 ° e 7°. A identificação das fases foi feita utilizado o softwares X’Pert HighScore Plus. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE FOTOCATALÍTICA:A avaliação da atividade fotocatalítica dos filmes de TiO2 foi realizada por meio da análise de degradação do corante alaranjado de metila sob radiação de luz. Para isso, foi obtida uma curva analítica a partir de concentrações de 1, 5, 10, 20, e 30 mg/L de alaranjado de metila. Os espectros de absorbância foram medidos utilizando um espectrofotômetro UV-Vis, com varredura na faixa 190 a 600 nm. Para os ensaios de degradação, um quantidade de 5 ml de alaranjado de metila a 20 mg/L e pH de 8,15 foi inserida em um Becker de 10 ml com um amostra de alumínio revestida com TiO2 no seu interior. O conjunto foi exposto à luz UV gerada em um reator equipado com uma lâmpada germicida UV de 30 W, por tempos de 30, 90 e 180 min. Os ensaios foram feitos em triplicata, na ausência e presença da amostra tratada.

Resultado e discussão

IDENTIFICAÇÃO DE FASES: As Figuras 1a e 1b apresentam os difratogramas obtidos com ângulo de incidência rasante para amostras tratadas com 6 e 12 horas a uma temperatura de 130° C. Nos difratogramas da amostra não tratada obtida com ângulo de incidência de 7°, observa-se picos mais intensos referentes ao Alumínio (Al) e pequenos picos entre os ângulos de 40° e 45° referentes ao óxido de alumínio (Al2O3). Nas amostras tratadas é possível observar a presença da formação de uma fina camada de óxido de titânio na fase Anatase (Δ), Rutilo (R). Durante o processo de deposição, o átomos de argônio presente no plasma de argônio-oxigênio retira os átomos de titânio na gaiola catódica pelo processo de sputtering, o titânio retirado reage com as espécies de oxigênio presente no plasma possibilitando a deposição do TiO2 no substrato de alumínio. Preferencialmente ocorre a formação da fase Anatase (metaestável), que pode ser confirmada pela presença dos picos nos ângulos de 25,2° e 48° em todos os tratamentos. Já a presença da fase Rutilo provavelmente se dá pela alta temperatura propiciada pelo efeito do cátodo oco que ocorre nos furos da gaiola de titânio (ALVES JR. et al., 2009; KOLOBOV, 2015). É possível observar também que a deposição das fases de TiO2 ocorre por camadas nas primeiras horas de tratamento (Figura 3a). Primeiramente ocorre a formação de uma camada de TiO2 na fase Anatase, em seguida, uma segunda camada composta principalmente por TiO2 na fase Rutilo. Com 12 horas de tratamento (Figura 3b) esse comportamento não é mais observado. Nesse caso, a fase Anatase predomina ao longo de todo o revestimento. ATIVIDADE FOTOCATALÍTICA: As Figuras 2a e 2b apresentam a curva padrão de absorbância para o alaranjado de metila e as curvas de degradação do corante alaranjado de metila na ausência e presença da amostra de alumínio revestida com TiO2. Observar-se que a degradação ocorreu em todos os testes. O teste UV_TiO2_12h foi responsável pelo maior percentual de degradação do corante (~ 47%) em um tempo de 180 min. O dióxido de titânio, uma vez que exposto à luz ultravioleta, tem seus elétrons promovidos da camada de valência (BV) para a camada de condução (BC) gerando pares elétrons–lacunas. Esses pares se deslocam para a superfície do TiO2, onde os elétrons da banda de condução participam de uma reação de redução com o oxigênio formando radical O2*- (NOGUEIRA, 1998). A lacuna pode participar de reações de oxidação com espécie como H2O ou OH- adsorvida na superfície do TiO2 formando radicais de hidroxilas *OH. Esses radicais agem como oxidantes, degradando o corante (YASMINA et al., 2014). Os teste UV_TiO2_6h não apresentou nenhum diferença significativa em relação a fotólise o que pode ter sido consequência da maior formação de fase Rutilo que apresenta menor atividade fotocatalítica que a fase Anatase. Esse comportamento pode esta ligada a vários fatores como, por exemplo, a baixa densidade de sítios ativos de adsorção na forma Rutilo (ZANGENEH et al., 2015).

Figura 1

Difratogramas de raios-X das amostras utilizando ângulo de incidência rasante de 0,5 ; 1 e 3°. (a) 6 horas; (b) 12 horas;

Figura 2

(a) Curva padrão de absorbância do corante em 463 nm; (b)Curvas de degradação fotocatalítica do alaranjado de metila na ausência e presença de TiO2.

Conclusões

Filmes de dióxido de titânio (TiO2) composto de duas fases (Anatase e Rutilo) puderam ser sintetizados sobre o substrato de alumínio puro pelo método de deposição a plasma por gaiola catódica a baixa temperatura. A deposição das fases de TiO2 ocorre por camadas nas primeiras 6 horas de tratamento. Formando-se uma camada externa com predominância de TiO2 na fase Rutilo e uma camada interna de TiO2 na fase Anatase. Já com 12 horas de tratamento, a fase Anatase predomina ao longo de todo o revestimento. Em razão disto, apenas o filme de TiO2 obtido com 12 h de tratamento apresentou um aumento no processo de degradação do corante em relação a fotólise (somente com luz UV).

Agradecimentos

Os autores agradecem ao CAPES pelo apoio financeiro.

Referências

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