8º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Vitória/ES, de 09 a 11 de Setembro de 2015.
ISBN: ISBN 978-85-85905-13-2

TÍTULO: Oncológicos com custos subsidiados no Brasil: Conclusões sobre o direcionamento estratégico das políticas públicas de quimioterápicos

AUTORES: Freire Silva, V. (IFRJ) ; dos Santos, J.L. (IFRJ) ; Khalili, R. (IFRJ) ; Alves, S. (IFRJ) ; Felix Ferreira, T. (UFRJ)

RESUMO: Atualmente o Brasil importa cerca de 80% dos princípios ativos farmacêuticos (IFAs) comercializados ao longo da cadeia produtiva do setor (COSTA et al, 2014), com grande parte deste volume destinado ao tratamento do câncer, que é a segunda maior causa de mortalidade no país (INCA, 2014). Neste cenário, é evidente a importância da compreensão do mercado de oncológicos no Brasil e do mapeamento da dependência externa no setor de para que possam ser traçadas estratégias de investimento capazes de diminuir o déficit comercial do segmento. O estudo analisa os quimioterápicos que atualmente contam com subsídios públicos a fim de identificar se existe algum direcionamento estratégico para mudança deste cenário no médio e longo prazos.

PALAVRAS CHAVES: Tratamento do câncer; Antineoplásicos; Farmoquímicos

INTRODUÇÃO: Segundo dados do IMS Health, o mercado farmacêutico brasileiro registrou em 2013 um faturamento de R$ 52,8 bilhões (crescimento de 15,4% sobre 2012). Até a década de 1990 este faturamento era inferior ao do México, mas o crescimento percentual persistente de dois dígitos no período entre 2005 e 2009 , levou o país a 11ª posição no mercado mundial, tornando-o o maior mercado de oncológicos da América Latina (TAYLOR, 2010). No entanto, a crescente diferença entre a capacidade produtiva das indústrias farmacêuticas e farmoquímicas representa, hoje, uma importante barreira para o aumento da competitividade do setor de fármacos no Brasil (COSTA et al, 2014). A Política Nacional de Atenção Oncológica, criada em 2005 pelo Ministério da Saúde (MS) garante assistência especializada, integral e gratuita ao paciente, na rede pública de saúde, porémnão padroniza nem fornece antineoplásicos diretamente a hospitais ou a pacientes, inexistindo assim uma relação padronizada de medicamentos e IFAs indicativa das demandas mercadológicas locais deste segmento (ANVISA, 2012). Este trabalho discute o direcionamento estratégico das políticas públicas de saúde especificamente relacionadas às substâncias químicas utilizados em tratamentos oncológicos no Brasil, chamada de quimioterapia antineoplásica, a partir da análise bibliográfica e documental da legislação brasileira atual voltada para desoneração tributária desta cadeia farmacêutica e farmoquímica.

MATERIAL E MÉTODOS: Os dados analisados no estudo foram coletados a partir de pesquisa exploratória bibliográfica e documental em seis publicações dos Ministérios da Saúde e da Fazenda que representam a legislação mais atual voltada à desoneração fiscal do setor de oncológicos no Brasil: Lista de medicamentos oncológicos com isenção de ICMS (Convênio ICMS 32,de 21/03/2014 − CONFAZ); Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) de 2010-2013 (MS); Atas de pregões eletrônicos de antineoplásicos e adjuvantes de 30 hospitais universitários federais em 2013; Rol ANS (RN Nº 338, de 21/10/2013) de definição da cobertura assistencial mínima de medicamentos orais para tratamento domiciliar de câncer nos planos privados de assistência à saúde; Lista ANVISA de substâncias utilizadas na fabricação de medicamentos neoplásicos com isenção de PIS/COFINS (Decreto 8.271, de 26/06/2014) e Lista de produtos oncológicos estratégicos para as Parcerias de Desenvolvimento Produtivo de medicamentos estratégicos (PDP´s − MS, Portaria No. 3.089, de 11/12/2013). Os oncológicos incluídos nestas seis publicações deram origem a uma base de dados e as substâncias químicas correspondentes foram agrupadas por tipo de princípio ativo (independente da natureza química, como éster, sal ou base), por classificadas segundo a ação quimioterápica como antineoplásicos ou neoadjuvantes e por tipo de câncer para o qual é indicada no tratamento terapêutico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados obtidos sugerem a proposição de uma lista de 125 substâncias químicas estratégicas para tratamento de câncer no Brasil, que contam com subsídios decorrentes de ações de desoneração fiscal sendo 100 antineoplásicos e 25 neoadjuvantes. Além disso, não há nenhuma substância que esteja simultaneamente presente em todas as seis listas pesquisadas, o que sugere que não existe convergência significativa entre estas listas, sinalizando a ausência no direcionamento estratégico das políticas públicas de atenção oncológica no Brasil para um grupo específico de substâncias quimioterápicas (Figura 1). Quando os antineoplásicos são analisados quanto à aplicação terapêutica (Figura 2) verifica-se que 31 são utilizados para tratamento de câncer de mama, 26 são utilizados para tratamento de leucemia, 17 para câncer de pulmão e 13 para linfomas. Tal distribuição diverge da correspondente do Instituto Nacional do Câncer dos tipos de câncer mais incidentes no Brasil (INCA, 2014) que aponta o câncer de pele do tipo não melanoma como o mais incidente em 2014-2015, seguido pelos seguido tumores de próstata, mama feminina, cólon e reto, pulmão, estômago e colo do útero. Estes resultados sugerem que a seleção dos quimioterápicos sujeitos à subsídios nas políticas públicas analisadas, e representadas nestas seis listas pesquisadas, também não foi guiada pelos tipos de câncer mais incidentes. Com relação aos dados de preço de venda de medicamentos coletados nas Atas de pregões eletrônicos de antineoplásicos e adjuvantes dos 30 hospitais universitários federais do país no ano de 2013, são restritos apenas a 39 quimioterápicos das 125 substâncias catalogadas.



Fonte: Elaboração própria a partir de resultados da pesquisa.



Fonte: Elaboração própria a partir de resultados da pesquisa.

CONCLUSÕES: O presente estudo analisa os quimioterápicos que contam com subsídios públicos a fim de identificar o direcionamento estratégico para mudança do cenário de déficit comercial e dependência externa no mercado de oncológicos no Brasil. Os resultados permitiram o desenvolvimento de uma base de dados de 125 quimioterápicos e sugerem a ausência de um direcionamento estratégico para um grupo específico de quimioterápicos nas políticas públicas analisadas e de uma relação direta com a previsão dos casos de câncer mais incidentes no país.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem o apoio da NORTEC QUÍMICA S.A., do CNPq e do IFRJ pelo apoio financeiro à pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2014: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2014.

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