10º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Goiânia/GO, de 04 a 06 de Setembro de 2017.
ISBN: 978-85-85905-20-0

TÍTULO: Aplicação de argila organofílica para adsorção de cromo em resíduos de curtume

AUTORES: Gomes Domingues Neto, E. (UFMG) ; Heeren de Oliveira, A. (UFMG) ; Aparecida Pereira, M. (CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA)

RESUMO: A crescente rigidez das legislações ambientais, associada aos impactos provenientes do despejo inadequado de rejeitos, têm desafiado diversas indústrias a buscarem formas mais eficientes para tratar seus rejeitos. Nesse contexto, a argila organofílica tem ganhado espaço como uma tecnologia nova e potencialmente viável.O presente trabalho teve como objetivo sintetizar a argila orgonofílica, a partir da bentonita sódica, e avaliar sua eficiência na adsorção de cromo nos rejeitos de curtume. A metodologia consistiu na organofilização da argila, preparação do rejeito, procedimento experimental e análise dos resultados. Os resultados obtidos mostraram a eficiência da argila no processo, mostrando a importância de mais estudos com a finalidade de aprimoração do mesmo.

PALAVRAS CHAVES: rejeitos; curtume; argila organofílica

INTRODUÇÃO: A maior parte dos impactos ambientais gerados pela sociedade contemporânea de países desenvolvidos ou em desenvolvimento tem sua gênese no setor industrial. Este setor é um grande consumidor de recursos naturais e um grande produtor de dejetos que, geralmente, são descartados no meio ambiente – no estado in natura ou ineficientemente tratados. As indústrias de curtimento de couro são valorosas representantes do extraordinário potencial poluidor do segmento industrial.Os curtumes sempre foram mal vistos e muito cobrados ambientalmente, pois geram alta carga poluidora e liberam odores desagradáveis, que são originados, principalmente, na primeira etapa do processo de industrialização da pele, além da poluição gerada pelo uso de substâncias compostas de metais pesados, como o cromo. Maeda (2013) alerta dizendo que os resíduos sólidos gerados pelo curtume geralmente são encaminhados para o aterro do município, sem atender à Norma Brasileira (NBR) 10004 de 2004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que estabelece que os resíduos considerados classe I não podem ser destinados ao aterro convencional uma vez que aumentam o risco de transmissão de doenças para a população.A utilização da argila se dá devido à sua elevada área superficial e à presença de ligações químicas não saturadas, assim as argilas podem interagir com uma série de substâncias e, quando misturadas à água, apresentamcomportamento plástico e possibilidade de inchamento O presente trabalho objetiva sintetizar a argila organofílica em laboratório, e avaliar sua eficiência na adsorção de cromo a partir dos rejeitos do processo de curtição de couro. quaternário de amônio, e avaliar o seu potencial em adsorver o cromo presente nos resíduos gerados pelo curtimento do couro.

MATERIAL E MÉTODOS: Optou-se em dividir a metodologia do trabalho em quatro principais etapas: organofilização da bentonita, preparação do rejeito, procedimento experimental, análise dos resultados. Para a etapa de organofilização, utilizaram-se bentonita sódica natural (O2Al34SiO2H2O) e brometo de cetiltrimetilamônio (Cetremide) – CH3(CH2)15N(Br)(CH3)3 – teor de 98%, utilizando a metodologia adaptada de LEITE et. al., 2008.O rejeito de curtume em questão trata-se da serragem, também chamada de retalho, e foi cedida pela Curtidora Costa, localizada na Cidade de Campo Belo, em Minas Gerais. Em três béqueres contendo 50 ml do sobrenadante obtido, sob agitação constante em um agitador Biomixer 7811W-1, foram adicionados três massas diferentes de argila organofílica: 150 mg, 250 mg e 350 mg. Após 1 hora de agitação constante, aguardou-se que a argila fosse decantada. Por fim, o líquido foi filtrado em Funil de Buchner e acondicionado para análise.As 4 amostras líquidas (1 amostra sem aplicação da argila organofílica e 3 amostras com aplicação da argila organofílica) e as cinzas obtidas da incineração dos retalhos foram enviadas para a empresa de análises GEORADAR para serem analisadas quanto a concentração de cromo total. Todas as amostras foram analisadas a partir de um espectrômetro de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES), Varian 720-ES. Foi calculado o percentual de adsorção de cromo total para as três alíquotas tratadas com diferentes massas de argila organofílica, com o objetivo de identificar-se qual tratamento teve maior eficiência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A tabela (1) apresenta os resultados obtidos a partir das análises espectrométricas.A partir do resultado obtido nas cinzas, é visto que o rejeito sólido pode passar por algumas lavagens ainda no curtume, antes do processo de compressão para redução de líquidos e volume, assim maior quantidade de cromo passará para a parte líquida que poderá ser tratada posteriormente com a argila, por exemplo.A tabela (2) apresenta os valores referentes às eficiências de adsorção de cromo total nas 3 amostras. O percentual de adsorção de cromo total foi calculado conforme mostrado na equação (1): %Ads= (Cf-Co/Co)*100 (1) Onde %Ads é o percentual de adsorção de cromo total da amostra, Co é a concentração inicial de cromo total e Cf a concentração final de cromo total. Observa-se que a maior eficiência é a de 27,2% de adsorção de cromo, referente à aplicação de 250 mg de argila organofílica. Observa-se ainda que quando aplicado 350 mg de argila organofílica, a eficiência de adsorção teve uma grande redução, o que não deveria acontecer. Esse ocorrido pode ser explicado devido ao fato do agitador utilizado para tal amostra não estar em perfeitas condições de funcionamento, interferindo assim na agitação da amostra e consequentemente na adsorção de cromo pela argila.

Tabela 1

Amostra A:alíquota sem tratamento com a argila Amostra E: Cinzas obtidas através do rejeito sólido.

Tabela 2



CONCLUSÕES: A argila organofílica mostrou-se eficiente na adsorção de cromo a partir do rejeito líquido do curtume. Contudo, é importante avaliar, mais detalhadamente, quais os fatores interferentes no processo de adsorção, de modo a realizar as adequações necessárias ao método empregado. O presente trabalho quantificou apenas o cromo total adsorvido, mas a argila organofílica pode ainda adsorver vários outros poluentes, orgânicos, que estão presentes nos resíduos dos curtumes. Sugere-se a continuidade das pesquisas nesse aspecto, tendo em vista a importância do tema e a contribuição para a ciência.

AGRADECIMENTOS: Agradeço minha orientadora técnica Margarete por me auxiliar durante todo o trabalho, tendo paciência para me orientar e esclarecer todas as dúvidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Norma Brasileira Associação Brasileira de Normas Técnicas 10004/2004. Disponível em: <http://www.ccs.ufrj.br/images/biosseguranca/CLASSIFICACAO_DE_RESIDUOS_SOLIDOS_NBR_10004_ABNT.pdf>. Acesso em: 01/10/2015.
MAEDA, E. E. Diagnóstico da Gestão de Resíduos Sólidos nos municípios do Estado de São Paulo, a partir dos Planos Municipais de Gestão Integrada. Universidade de São Paulo, 2013.
CUNHA, R. S. S.; MOTA, J. D.; RODRIGUES, M.G.F. Síntese, caracterização estrutural e aplicação de argila organofílica na remoção de óleo lubrificante e
óleo diesel no processo de adsorção em sistema de banho finito. X Encontro Brasileiro sobre Adsorção. São Paulo: Guarujá, 27 a 30 de abril de 2014.