10º Encontro Nacional de Tecnologia Química
Realizado em Goiânia/GO, de 04 a 06 de Setembro de 2017.
ISBN: 978-85-85905-20-0

TÍTULO: Preparação e Caracterização de Carvões Ativados Ácidos e Básicos

AUTORES: Winter, C. (UFG) ; Perez, C.N. (UFG) ; Arroyo, P.A. (UEM)

RESUMO: Biomassas como casca e mesocarpo externo de pequi (Caryocar brasiliense), bagaço de malte e borra de café foram carbonizados com 98% (v/v) de ácido sulfúrico e posteriormente lavados com água destilada até pH 4. 20 g de cada carvão foram submetidos a um tratamento alcalino com solução de hidróxido de sódio 2,0 mol/L durante 48 h, e após lavou-se com água destilada até pH 8. Os carvões ácidos e básicos foram caracterizados por microscopia eletrônica de varredura (MEV), termogravimetria (TG) e análise térmica diferencial (DTA), análise textural por adsorção/dessorção de N2 a -196 °C, espectroscopia de infravermelho (FT-IR), difração de raios-X (DRX), análise elementar CHNS e determinação de sítios ácidos e básicos pelo método de Boehm.

PALAVRAS CHAVES: Carvões ativados; Biomassa; Carvões ácidos e básicos

INTRODUÇÃO: O processo de produção de carvões ativados envolve carbonização de biomassa em grandes fornos com ativação física por vapor. No entanto, um processo alternativo pode ser proposto, a partir de resíduos de biomassa, para simplificar ainda mais a síntese de carvões. A literatura relata que carvões foram produzidos por tratamento hidrotérmico de glicerol, um resíduo da produção de biodiesel, com ácido sulfúrico 96% (v/v), em diferentes proporções de peso sob uma temperatura de 423 K por 24 h (GONÇALVES et al 2014). Segundo dados do IPEA (2012), a agricultura representa a maior contribuição para o PIB brasileiro, ultrapassando 850.704.480 toneladas de produção anual. No entanto, a geração de resíduos é um reflexo da produção elevada, atingindo 291.138.870 toneladas de resíduos de biomassa em 2012, representando 34% da quantidade total produzida. De acordo com o Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja), o Brasil só perde em volume de produção para a China (35 bilhões de litros/ ano), EUA (23,6 bilhões de litros/ano) e Alemanha (10,7 bilhões de litros/ano), atingindo a marca de 10,34 bilhões de litros em 2007. O bagaço de malte consiste principalmente em cascas e polpa de malte, grãos e também alguns aditivos, como arroz, milho e trigo. O malte esmagado corresponde a 85% do produto total gerado pela indústria de cerveja (CORDEIRO et al 2013). Segundo a pesquisa de MACHADO et al (2013 e 2015), o Pequi (Caryocar Brasiliense Camb.) é uma fruta típica do Cerrado brasileiro rica em compostos antioxidantes, como carotenóides e substâncias fenólicas. O Brasil é o maior produtor de café do mundo, de acordo com a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento Nacional) em 2017. A produção de café alcançou a marca de 51,37 milhões de sacas em 2016.

MATERIAL E MÉTODOS: 2.1. Preparação de carvões A amostra de bagaço de malte foi fornecida pela indústria de cerveja Colombina. As amostras de pequi e borra de café foram obtidas a partir de resíduos domésticos. Os materiais de partida foram triturados em um moinho de bancada (A11 Basic, KA) e, em seguida, secos em estufa a 110 °C durante 24 h. Os carvões ácidos foram obtidos por carbonização do material de partida, utilizando ácido sulfúrico (H2SO4) como agente desidratante. O resíduo seco e moído foi impregnado com ácido sulfúrico (98% v/v) e colocado em um sistema de refluxo a 180 °C com uma proporção em massa de 1:10 (biomassa:H2SO4) durante um período de 6 h. Todos os carvões obtidos foram lavados repetidamente com água destilada até pH 4 e secos em forno a 110 °C durante 24 h. A metodologia foi baseada na literatura (GONÇALVES et al 2014). Carvões do bagaço de malte foram chamados MBC; Da borra de café, CGC; E mesocarpo externo e casca de pequi, PEC e PSC, respectivamente. Os carvões obtidos a partir de tratamento hidrotérmico com ácido sulfúrico foram submetidos a um tratamento alcalino com solução de NaOH 0,1 mol/L durante 48 h sob agitação, conforme descrito na literatura (CHIANG et al 2002). Após o tratamento, os carvões foram lavados com água destilada até pH 8. Para os carvões básicos obtidos após o tratamento alcalino com NaOH foi acrescentada a letra B antes do nome dos carvões. 2.2 Caracterização Os espectros de infravermelhos foram obtidos em equipamento Perkin Elmer Spectrum 400. A análise foi concentrada na região do infravermelho entre 4000 e 400 cm-1. As amostras de carvões foram secas a 110 °C durante 24 horas e depois submetidas à espectroscopia FT-IR do tipo transmissão. A análise de MEV foi realizada em Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV- EDS), Jeol, JSM-6610.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Nos espectros de FT-IR, todos os materiais apresentaram uma banda em 1590 cm-1 que pode ser atribuída ao estiramento das ligações C = C obtidas a partir do processo de carbonização, segundo KIM et al (2003) e CAN et al (2012). Uma banda característica do grupo carboxílico (-COOH) aparece em 1701 cm-1, conforme relatam CAN et al (2012, 2013) e ZHOU et al (2001). Os espectros de infravermelho dos carvões exibiram bandas largas em 3400 cm- 1 e um pico em 1628 cm-1, referentes ao estiramento O-H, que pode ser atribuído aos ácidos carboxílicos presentes na superfície dos materiais. Para os carvões básicos, o pico em 3400 cm-1 é maior, devido à presença de grupos -OH a partir do tratamento alcalino com NaOH. A Tabela 1 apresenta os resultados da análise textural e sítios ácidos/básicos para todos os carvões. A partir dos resultados apresentados na Tabela 1, é possível verificar que o carvão CGC apresentou menos sítios ácidos e menor área específica entre todos os materiais ácidos. Comparando-se os diferentes materiais de partida de carvões ácidos, observou-se que o carvão de casca de pequi (PSC) apresentou maior área específica e elevada acidez, esta com valores semelhantes aos encontrados na literatura (GONÇALVES et al 2014). Embora o PEC tenha apresentado maior quantidade de sítios ácidos, sua área específica é pequena. O carvão BPEC apresentou a maior basicidade. Todos os carvões básicos apresentaram redução em sua área específica após o tratamento alcalino, devido à deposição de átomos de sódio na superfície, confirmada pela análise de MEV e EDS, como mostra a figura 1. A redução da área específica para os carvões de bagaço de malte e da casca de pequi após o tratamento com NaOH foi muito expressiva.

Tabela 1

Tabela 1. Análise textural e sítios ácidos/básicos para todos os carvões.

Figura 1

Figura 1. MEV de carvões ácidos (embaixo) e básicos (em cima) com aumento de 500x.(a) CGC, (b) MBC (c) PEC e (d) PSC.

CONCLUSÕES: Uma vez que as biomassas utilizadas estão disponíveis como resíduos industriais e domésticos e o custo do processo é mínimo, e que a caracterização físico-química demonstrou que os materiais apresentam potencial para serem aplicados como catalisadores ou adsorventes, já que alguns apresentaram área específica elevada e todos uma expressiva quantidade de sítios ácidos ou básicos, conclui-se que o processo de preparação de carvões ativados por tratamento hidrotérmico descrito apresenta potencial como alternativa barata e prática ao processo industrial comum.

AGRADECIMENTOS: Ao IQ-UFG, IF-UFG (LabMic) e ao DEQ-UEM, pelo suporte técnico-científico; CAPES e CNPq, pela assistência financeira; À indústria de cerveja Colombina.

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