ÁREA: Química Orgânica

TÍTULO: BIOENSAIOS DE ALELOPATIA COM EXTRATOS AQUOSOS OBTIDOS DE Calopogonium muconoides

AUTORES: SANTOS, J.C.L. (UFPA) ; CARVALHO, A.T. (UFPA) ; BORGES, A.S. (UFPA) ; OLIVEIRA, G.R.F. (UFPA) ; SOUZA FILHO, A.P.S. (EMBRAPA) ; RODRIGUES, F.L. (UFPA) ; RIPARDO FILHO, H.S. (UFPA) ; SANTOS, L.S. (UFPA)

RESUMO: A intensidade dos efeitos potencialmente alelopáticos depende de fatores relacionados à espécie doadora e receptora. Neste trabalho foram realizados bioensaios para caracterizar o potencial alelopatico dos extratos aquosos obtidos das folhas, sementes e raízes da espécie Calopogonium muconoides uma espécie freqüente nas regiões tropicais do Brasil que cresce em clima quente e úmido. A potencialidade alelopática da espécie foi caracterizada em bioensaios de germinação e usando como receptoras as espécies malícia (Mimosa pudica), mata-pasto (Senna obtusifolia), malva (Urena lobata) e fedegoso (Senna occidentalis). Os resultados indicam que existe atividade potencialmente alelopática desta espécie.

PALAVRAS CHAVES: calopogonium muconoide, alelopatia, leguminosa

INTRODUÇÃO: O termo alelopatia foi criado pelo pesquisador alemão Hans Molisch e ele descreve a influência direta ou indireta que um indivíduo exerce sobre o outro. Sugere que essas interferências ocorrem pela produção de substâncias químicas que são liberadas para o meio ambiente por volatilização, exsudação radicular, lixiviação e decomposição dos resíduos de plantas (Rizvi, 1992). A atividade dos aleloquímicos pode ser utilizada como alternativa estratégica ao uso de herbicidas, inseticidas e nematicidas (defensivos agrícolas). A maioria dessas substâncias provém do metabolismo secundário, porque na evolução das plantas representaram alguma vantagem contra ação de microorganismos, vírus, insetos, e outros patógenos ou predadores, seja inibindo a ação destes ou estimulando o crescimento das plantas (Waller, 1999). Variações na atividade alelopática são, ainda, observadas em função da especificidade entre plantas doadora e receptora (Souza Filho, 1995), porém muito precisa ser elucidado com relação aos fatores que comandam esse aspecto. Especificamente para Calopogonium mucunoides, as informações disponíveis mostram que essa leguminosa possui potencialidades alelopáticas e que a parte aérea, seguida das raízes, se constitui na principal fonte de substâncias químicas com atividades potencialmente alelopáticas, solúveis em água (Souza Filho et al., 1997b). O presente trabalho objetivou analisar as variações nos efeitos potencialmente alelopáticos dos extratos aquosos obtidos da leguminosa forrageira Calopogonium mucunoides.

MATERIAL E MÉTODOS: As folhas, sementes e raízes de Calopogonium mucunoides foram deixadas para secar a temperatura de 39 0C em estufa, e posteriormente trituradas. A extração do material obtido foi realizada a temperatura ambiente com água, por 48 hs fornecendo assim os extratos aquosos. Os bioensaios foram realizados no laboratório de agroindústria da EMBRAPA-PA. Os extratos foram submetidas aos bioensaios de alelopatia na concentração de 1% (m/V) sobre a germinação de malícia, mata-pasto, malva e fedegoso. A partir da parte aérea prepararam-se soluções do extrato em concentrações de 0 a 4% para avaliar as variações nos efeitos da germinação: percentual e Índice de Velocidade de Germinação (IVG) das sementes. Os bioensaios foram monitorados em períodos de 5 dias com contagens diárias e eliminação das sementes germinadas. Foram consideradas sementes germinadas, aquelas que apresentavam extensão radicular igual ou superior a 2,00 mm. Os bioensaios foram desenvolvidos em condições controladas 25 0C de temperatura constante e fotoperíodo de 12 horas, cada placa de Petri de 9,0 cm de diâmetro, contendo papel de filtro, receberam 20 sementes. no final do período verificou-se o total dessas sementes em cada placa e calculou-se a média aritmética das sementes germinadas de cada espécie, onde, juntamente com a média das sementes germinadas no tratamento testemunha, calculou-se o percentual de inibição do óleo essencial na germinação das sementes das plantas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Individualmente as espécies receptoras tiveram atividades diferentes aos efeitos dos extratos aquosos. Malícia e fedegoso foram espécies cuja germinação das tiveram maior inibição, ficando mata-pasto e malva com menor intensidade (grafico 1).
Em função dos resultados obtidos para o extrato aquoso das folhas prepararam-se soluções do extrato em concentrações de 0 a 4% para avaliar as variações nos efeitos da germinação: percentual e Índice de Velocidade de Germinação (IVG) das sementes. Os resultados indicaram que a germinação variou negativamente em função do aumento da concentração do extrato, indicando que quanto maior a concentração maior os efeitos potencialmente alelopaticos (grafico 2).
A maior ou menor extensão dos efeitos alelopaticos deve-se a maior ou menor sensibilidade da espécie receptora a uma dada a dada concentração. A 1% foi extremamente baixa com um percentual de inibição de 4,35%. Na a concentração de 2%, malícia e fedegoso inibiram a germinação em 68%, enquanto mata-pasto e malva as inibições não ultrapassaram 25%. A concentração de 4% foi letal para a germinação de malícia e fedegoso ao mesmo tempo em que promoveu inibições com percentual de 87,4% e 85,8% na germinação das espécies mata-pasto e malva, respectivamente. Os efeitos IVG (gráfico 3), diferenciaram quanto a intensidade. Na concentração de 1%, foram observados baixos efeitos sobre a germinação, efetivou inibições sempre acima de 40% no IVG. Nessa concentração o nível da substancia química com atividade alelopatica esta abaixo daquela requerida para inibir a germinação, porem em quantidades suficientes para reduzir o IVG. Este resultado indica um parâmetro da germinação mais sensível aos efeitos potencialmente alelopaticos dos extratos.






CONCLUSÕES: As partes aéreas de Calopogonium mucunoides são as principais fontes de substancias químicas, com atividade potencialmente alelopatica. A intensidade dos efeitos alelopaticos varia em função da concentração da espécie receptora. O IVG constitui o parâmetro mais sensível da planta receptora aos efeitos potencialmente alelopaticos.

AGRADECIMENTOS: UFPA e à EMBRAPA pela infra-estrutura para realização do trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: RIZVI, S.J.H.; HAQUE, H.; SINGH, U.K.; RIZVI, V. A discipline called allelopathy. In: RIZVI, S.J.H.; RIZVI, H (Eds.). Allelopathy: Basic and applied aspects. London, Chapman & Hall,.1(1992).

WALLER, G.R., Introduction. In: MARCIAS, F.A.; GALINDO, J.C.G.; MOLINILLO, J.M.G.; Cutler, H.G. (Eds.) Recent advances in allelopathy. Cadiz, Serv. Pub. Univ. Cadiz. 1, sem paginação(1999).

SOUZA FILHO, A. P. S.; RODRIGUES, L. R. A.; RODRIGUES, T. J. D. Potencial alelopático de forrageiras tropicais: efeitos sobre invasoras de pastagens. Planta Daninha, v. 15, n. 1, p. 53-60, 1997b.