ÁREA: Química Orgânica

TÍTULO: COMPOSIÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS EM FRUTAS TROPICIAS (POLPA E SEMENTE) DO ESTADO DO CEARÁ

AUTORES: ALMEIDA, M.M.B. (UFC) ; TAVARES, L. C. (UFC) ; SOUZA, J. S. N. (UFC) ; LOPES, M.F.G. (UFC) ; LEMOS, T.L.G. (UFC)

RESUMO: O presente trabalho objetivou determinar o perfil de ácidos graxos em 3 espécies do do Ceará: Byrsonima crassifolia, Manilkara zapota e Spondias tuberosa. A porção lipídica contida nas sementes ou polpas foi extraída com hexano, saponificada e submetida à metilação para obtenção dos ésteres metílicos, que foram analisados por CG-MS e identificação dos ácidos graxos. Os óleos extraídos das sementes e polpas investigadas apresentaram constituintes majoritários semelhantes: ácidos palmítico, oléico (n-9), linoléico (n-6) e esteárico. A análise dos óleos da semente revelou a existência de um ácido n-6, importante por ser um ácido graxo essencial para homem. Sugerem-se estudos sobre o uso desses óleos na indústria de cosméticos, tintas, sabões, bem como na alimentação humana

PALAVRAS CHAVES: frutas tropicais, ácidos graxos, ômega-6.

INTRODUÇÃO: Em todo o mundo observa-se um aumento crescente no consumo de frutas tropicais, devido ao seu valor nutricional, em alguns casos medicinais e ainda pelo sabor exótico que possuem. O comércio com frutas é estimado em milhões de dólares e o Brasil destaca-se neste cenário como o terceiro produtor de frutas tropicais (KUSKOSKI et al., 2005). Entretanto, poucos estudos são relatados enfatizando o conhecimento químico destas fontes alimentícias, principalmente no que diz respeito à caracterização da composição química dos óleos fixos de polpa e semente. Visando ampliar esses conhecimentos, o presente trabalho objetivou determinar o perfil de ácidos graxos em sementes e polpas de 3 espécies do estado do Ceará: Byrsonima crassifolia (L.) Kunth. (murici), Manilkara zapota (L.) P. Rayen (sapoti), Spondias tuberosa Arruda Camara (umbu).
Os ácidos graxos poliinsaturados ômega-6 (n-6) e ômega-3 (n-3) são conhecidos como ácidos essenciais, porque os humanos não podem sintetizá-los e, portanto, precisam obtê-los a partir da dieta. (VIANNI et al.,1996). Os ácidos graxos saturados são relacionados com o aumento do risco de doenças cardiovasculares, enquanto a ingestão de monoinsaturados e poliinsarturados n-3 têm mostrado o efeito inverso. Por outro lado, dietas ricas em ácido poliinsaturado n-6 podem resultar na superprodução de eicosanóides, responsáveis por várias doenças. Estudos em pacientes com doenças cardiovasculares, artrites, asma e câncer indicam claramente a necessidade de equilíbrio na proporção da ingestão dos ácidos n-6/n-3 para a prevenção e tratamento de doenças crônicas. Assim, há um consenso científico de que é necessário reduzir a quantidade de ácidos graxos poliinsaturados n-6 das dietas e aumentar a concentração de ácido n-3 (FERNANDEZ et al., 2007).

MATERIAL E MÉTODOS: Os frutos de murici, sapoti e umbu foram separados em polpas e sementes. As sementes secas foram trituras e pesadas. As sementes e as polpas, separadamente, foram submetidas à extração em sistema Sohxlet empregando hexano como solvente, resultando nos extratos hexânico. Esses foram submetidos à saponificação e à metilação. Para a saponificação, os extratos hexânicos foram dissolvidos em 20 mL de MeOH e adicionado a 2,5 g de NaOH. A mistura reacional foi mantida sob refluxo durante 2 h. Em seguida, foram adicionados 20 mL de água destilada e a solução hidroalcóolica foi extraída com CH2Cl2. As frações orgânicas foram reunidas e descartadas. A fase hidroalcóolica alcalina foi acidulada com HCl e em seguida extraída com CH2Cl2. As frações orgânicas foram reunidas, seca com Na2SO4, concentradas, fornecendo os ácidos graxos livres, que para obtenção dos respectivos ésteres foi submetido a refluxo durante 1h com 25 mL de MeOH e 0,5 mL de HCl. Após resfriamento, as mistura foram extraída três vezes com 50 mL de CH2Cl2, secas com Na2SO4 anidro e concentradas, fornecendo as misturas de ésteres metílicos. Uma alíquota dessa fração foi submetida à cromatografia em gel de sílica e eluída com clorofórmio, obtendo-se um material constituído de uma mistura de ésteres metílicos, os quais foram então analisados por cromatografia gás-liquido acoplada a espectrômetro de massa. Os espectros de massas foram obtidos em espectrômetro QP5050A da SHIMADZU com impacto eletrônico de 70 eV, acoplado ao cromatógrafo gás-líquido modelo CG 17 A provido de coluna capilar OV-5 com 30 m de comprimento, 0,25 mm de diâmetro externo e um filme de 0,25 µm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os ácidos graxos, através de seus respectivos ésteres metílicos, foram identificados por comparação do espectro de massa correspondente a cada pico no cromatograma com espectros de massa contidos em banco de dados (biblioteca de padrões). Foram caracterizados para o murici 7 e 12 ácidos graxos, representando cerca de 99,5% da composição química do óleo da polpa e da semente, respectivamente. No caso do sapoti foram caracterizados 4 e 5 ácidos para o óleo da polpa e semente, respectivamente. E, com relação ao óleo da polpa e semente do umbu foram identificados 11 e 4 tipos de ácidos graxos, respectivamente. Os compostos majoritários para as 3 polpas foram os ácidos oléico (15,87 - 43,80%), ácido palmítico (8.09 - 46,70 %), ácido esteárico (2,60 – 21,84 %) e ácido linoleico (2,71 – 14,96 %). Nas 3 frutas estudadas (polpas) verificou-se a presença de um ácido n-9. Nos dois casos, destacou-se o murici por seus mais altos teores dos ácidos oléico e plamítico. Este é o primeiro relato de caracterização de ácidos graxos em polpas de frutas tropicais. Para as sementes das frutas analisadas, foi constatado ser o ácido plamítico o maior ácido graxo saturado (15,63 – 27,25%), seguido pelo ácido esteárico (3,44 – 13,5%). O ácido oléico foi o majoritário entre os insaturados (29,61 – 55,42%), seguido pelo ácido linoleico (3,44 – 13,5%). Dentre as sementes estudadas, as de murici e sapoti foram as mais ricas em ácido linoleico e oléico, respectivamente. Esses resultados são comparáveis aos encontrados por BORGES et al. (2007) e REZENDE et al. (2003) para as sementes de umbu e murici, respectivamente. As diferenças individuais nos conteúdos de ácidos graxos, quando comparado ao da literatura, podem ser devido aos cultivares usados e aos fatores de cultivo e/ou ambientais.

CONCLUSÕES: O perfil de ácidos graxos das frutas (polpa e semente) do Ceará apresentou constituintes majoritários semelhantes: ácidos palmítico, oléico (n-9), linoléico (n-6) e esteárico. Nos óleos das sementes foi encontrado um ácido n-9 e outro n-6, importante por ser um ácido essencial para o homem. Dos resultados apresentados, sugere-se o aprofundamento de estudos sobre os óleos das sementes estudadas, resíduo agroindustrial da extração do suco, de pouco ou nenhum valor econômico, para que possam ser utilizados na indústria de cosméticos, tintas, sabões, bem como na alimentação humana e animal.

AGRADECIMENTOS: Aos órgãos de fomento CNPq, CAPES e FUNCAP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BORGES, S. V.; MAIA, M. C. A.; GOMES, R. C. M.; CAVALCANTI, N. B. 2007. Chenmical Composition of Umbu (Spondias tuberosa Arr. Cam.) Seeds. Química Nova, 30: 49-52.

FERNÁNDEZ , M.; ORDÓÑEZ, J. A.; CAMBERO, I.; SANTOS, C.; PIN, C. 2007. Fatty acid compositions of selected varieties of Spanish dry ham related to their nutritional implications. Food Chemistry, 101: 107–112.

KUSKOSKI, E. M.;. ASUERO, A. G.; TRONCOSO, A. M.; MANCINI-FILHO, J; FETT, R. 2005. Aplicación de diversos métodos químicos para determinar actividad antioxidante en pulpa de frutos. Ciência e Tecnologia de Alimentos, 25: 726-732.

REZENDE, C. M.; FRAGA, S. R. G. 2003. Chemical and Aroma Determination of the Pulp and Seeds of Murici (Byrsonima crassifolia L.). Journal of the Brazilian Chemical Society, 14: 425-428.

VIANNI R.; BRAZ-FILHO R. 1996. Ácidos graxos naturais: importância e ocorrência em alimentos. Química Nova, 19: 400-407.