ÁREA: Bioquímica e Biotecnologia

TÍTULO: Caracterização química de polissacarídeos sulfatados extraídos da alga vermelha Amansia multifida

AUTORES: SOUZA, L. A. R (UFRN) ; QUEIROZ; L.S (UFRN) ; NASCIMENTO; M. S. (UFRN) ; CARDOSO; M. L. (UFRN) ; BEZERRA; M. E. B. (UFRN) ; MAGALHÃES; J. E. M. (UFRN) ; MOURA, M. F. V. (UFRN) ; LEITE, E. L. (UFRN)

RESUMO: Algas vermelhas apresentam polissacarídeos sulfatados que detém diversas atividades biológicas. No entanto, é necessário o conhecimento de estutura molecular. Visando isto, este trabalho objetiva a caracterização química de duas frações polissacarídicas (F3 e FT) extraídas da alga vermelha A. multifida. As dosagens químicas evidenciaram boa quantidade de açúcares totais e sulfatos, com baixa contaminação protéica. A eletroforese mostrou uma polidispersão das frações. A presença da galactose foi confirmada pela cromatografia descendente. O espectro do infravermelho mostrou bandas características do grupamento sulfato. A análise térmica (TG e DTA) mostrou seis perdas de massas para F3 e quarto para FT. De acordo com os dados, as frações analisadas tratam-se de polissacarídeos sulfatados.

PALAVRAS CHAVES: amansia multifida, polissacaríeos sulfatados, algas vermelhas

INTRODUÇÃO: As carragenanas são polissacarídeos extraídos de algas vermelhas descobertas no século passado a partir de Chondrus crispus. Embora o primeiro estudo publicado sobre carragenanas tenha sido realizado em 1844 (SCHIMIDT, 1955), até o presente estes polissacarídeos são objetos de estudos com respeito a sua estrutura, propriedades físico-químicas, variações intra e interespecíficas e aplicações industriais.
Os polissacarídeos de algas vermelhas são constituídos basicamente de monômeros sulfatados de D-galactose ligados alternadamente em sua estrutura. Além da galactose e sulfato, outros resíduos de carboidratos como xilose, glicose, ácidos urônicos podem estar presentes em baixas quantidades em preparações da carragenanas (VAN DE VALDE et. al., 2004). Estas galactanas sulfatadas são classificadas de acordo com a presença de 3,6-anidrogalactose, posição e número de grupos sulfato (McCANDLESS & CRAIGIE 1979).
Este trabalho tem como objetivo a extração de polissacarídeos da alga vermelha Amansia multifida, comum em nosso litoral, com o objetivo de realizar sua caracterização química das frações obtidas por eletroforese das frações F3 e FT.


MATERIAL E MÉTODOS: Extração e fracionamento

A alga A. multifida foi submetida a três delipidações com três volumes de acetona. Logo após, a acetona foi decantada, e a alga seca à temperatura ambiente. obtivemos então, o que chamamos de pó cetônico o qual foi submetido ao fracionamento, para aquisição das frações polissacarídeos F3 e FT. (SILVA, T.M.A. et al., 2005)

Determinações químicas

• Açucares totais
A dosagem de açúcares totais foi realizada pelo método do fenol sulfúrico (DUBOIS et al., 1956), empregando-se como padrão o monossacarídeo L-galactose. As leituras foram realizadas a 490 nm.

• Proteínas
As proteínas foram determinadas com o reagente de Croomassie blue R segundo o método de SPECTOR, (1978) e a leitura realizada a 595 nm, empregando-se como padrão albumina de soro bovina.

• Sulfato
O teor de sulfato total foi determinado, após hidrólise ácida (HCl 8N, 6 horas, 100ºC), por turbidimetria pelo método da gelatina-bário (DOGSON & PRICE, 1962). O sulfato de sódio (1 mg/mL) foi utilizado como padrão.

Eletroforese em gel de agarose
Eletroforese em gel de agarose foi realizada pelo método descrito por DIETRICH & DIETRICH.

Cromatografia descendente em papel
A cromatrografia dos produtos de hidrólise dos extratos foi realizada no papel Whatman Número 1 no sistema de solvente, Butanol: Piridina: Água (2: 3: 1,5) (TREVELYAN, 1950)

Espectroscopia de infravermelho
Foi realizada em espectrofotômetro FT-IR ABB Bomem modelo MB 104, de 4000 a 400 cm-1. As frações (5 mg) foram analisados sob a forma de pastilha de KBr.

Análise térmica
Para obtenção dos dados de análise térmica utilizou-se o instrumento TG-DTA 60 da SHIMADZU, cadinho de platina, massa de amostra em torno de 4 mg, e o aquecimento foi de 25-900oC.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados demonstram uma grande quantidade de polissacarídeos nas amostras, as frações F3 e FT apresentaram 30% e 54,3%, respectivamente. O sulfato se apresentou em boa proporção nas duas frações, onde a F3 apresentou 58,9% e FT com 40%. As duas amostras apresentaram baixa contaminação proteíca (10% para duas frações)
Nos dois espectros do infravermelho (F3 e FT) observam-se bandas de absorção típicas por volta da região de 843 cm-1, que corresponde a galactose-4-sulfato (CHOPIN & WHALEN, 1993), em 908 cm-1 são atribuídas ao grupo C-6 na beta D-galactose (SEKKAL & LEGRAND, 1993). O grupo funcional O=S=O pode ser evidenciado por duas absorções de ondas (1290 e 594 cm-1) (SEKKAL & LEGRAND, 1993) nas duas frações. A presença do grupamento sulfato nestes polissacarídeos é confirmada pela absorção na região de 1400 cm-1 (TURQUOIS, T et al., 1996).
A cromatografia de camada delgada confirma o que diz a literatura. Mostra que os polissacarídeos desta fração são formados basicamente por galactose, apresentando vestígios de xilose e ácido glucurônico.
Na figuara 2 mostra a curva TG para as duas frações mostra quatro perdas de massas para a fração (FT) e seis perdas de massas para a fração (F3). Com exceção da última etapa todas foram de perda de massa. Na DTA (figura 2) a fração F3 apresenta 8 picos endotérmicos (67,7; 146,3; 383,8; 466,8; 506,8; 546,2; 620,9 e 766,4ºC) e um pico exotérmico (696ºC). Já a fração FT apresentou somente 6 picos endotérmicos (67,4; 165,8; 321,1; 472,9; 611,1 e 703,7ºC) e um pico exotérmico (805,3ºC).






CONCLUSÕES: De acordo com os dados obtidos podemos afirmar que as duas frações em estudo são polissacarídeos, do tipo galactose sulfatadas, onde apresentam baixas contaminações protéicas e por outros tipos de polissacarídeos. A próxima etapa do trabalho consiste na realização de ensaios para verificação do seu potencial biológico.

AGRADECIMENTOS: Apoio financeiro: CNPq e CAPES

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BUDZINSKI, H.; JONES, I.; BELLOCQ, J.; PIÉRARD, C.; GARRIGUES, P. 1997. Evaluation of sediment contamination by polycyclic aromatic hydrocarbons in the Gironde estuary. Marine Chemistry, 58: 85-97.

CHOPIN, T.; WHALEN, E. 1993. A new rapad method for carrageenan indentification by FT IR diffuse reflectance spectroscopy directly on dried, ground algal material. Carbohydrate Research., 246: 51-59.

DIETRICH, C. P.; DIETRICH, S. M. C. 1977. Electrophoretic behavior of acidic mucopolysaccharides by agarose gel electrophoresis. J Chromatogr., 130:299-304.

DODGSON, K.S.; PRICE, R.G. 1962. A note on the determination of the ester sulphate content of sulphated polysaccharides. Biochem. J.,84:106-110.

DUBOIS, M. et al. 1956. Colorimetric method for determination of sugars, and related substances. Anal. Chem., 28:350-356.

McCANDLESS, E.L. & CRAIGIE, J,S. A. 1979. Rev. Plant Physiol., 30:41-53.

SCHIMIDT, C. 1995. Anhydro-D-galactose as a constituent of kappa- carrageenin. J. Amer. Chem. Soc., 77: 2837-2839

SEKKAL, M.; LEGRAND, P. 1993. A spectroscopic investigation of the carrageenans and agar in the 1500-100 cm-1 spectral range. Spectrochim. Acta., 49:209-221.

SILVA, T.M.A et. al. 2005. Partial characterization and anticoagulant activity of a heterofucan from the brow seaweed Padina gymnospora. Braz. J. Med. Biol. Res., 38:523-533.

SPECTOR, J. 1978. Refinement of the coomassie blue method of protein quantification. A simple and linear spectrophotometric assay of 0.5 to 50µg of protein. Anal. Biochem., 86:142-143.

TREVELYAN, W. E.; PROCTER, D. P.; HARRISON, J. S. 1950. Detection of sigars on paper chromatograms. Nature, 166: 444 – 445.

VAN DE VALDE, F.; PEREIRA, L.; ROLLEMA, H. S. 2004. The revised NMR chemical shift data of carrageenans. Carbohydrate Research, 339:2309-2313.