ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: PROPOLIS VERMELHA: VARIABILIDADE SAZONAL EM CONSTITUINTES VOLÁTEIS

AUTORES: DEUS, A S O (UFPI) ; CITÓ, A M G L (UFPI) ; NUNES, L C C (UFPI) ; LOPES, J A D (UFPI) ; ROLIM NETO, P J R (UFPE) ; ARCANJO, D D R (UFPI)

RESUMO: Esse estudo trata da identificação de constituintes voláteis obtidos por headspace dinâmico de três amostras de própolis vermelha coletadas em três épocas diferentes (fevereiro, junho e outubro) na região de Goiana-PE. Foram identificados 34 constituintes, sendo 18 comuns às três amostras. O constituinte majoritário, trans-anetol, apresentou variação quantitativa crescente, sendo: fevereiro (25, 58%), junho (48,05%) e outubro (52,58%).

PALAVRAS CHAVES: própolis vermelha, headspace, constituintes voláteis.

INTRODUÇÃO: Própolis é uma denominação genérica utilizada para descrever uma mistura complexa de substâncias resinosas, gomosas e balsâmicas colhidas por abelhas melíferas de brotos, flores e exsudatos de plantas, às quais as abelhas acrescentam secreções salivares, cera e pólen para a elaboração do produto final (DOU, 2001). Seu emprego na vida da colônia está relacionado com suas propriedades mecânicas, sendo utilizada na construção e adaptação da colméia, garantindo um ambiente asséptico (Ghisalberti, 1978).
A composição química da própolis é muito complexa visto que as abelhas coletam tecidos vegetais de diferentes origens botânicas(Pereira, 2002). Observa-se grande variação de constituintes de própolis quando compara-se amostras de regiões, de climas diferentes (Bankova 2000). Apesar da baixa concentração de compostos voláteis, o seu aroma e sua atividade biológica são parâmetros utilizados para caracterização da própolis.
Na literatura consultada, encontramos poucos estudos sobre própolis vermelha brasileira (Trusheva, 2006; Sawaya, 2004). Própolis vermelha é relatada ser típica de Cuba, onde a planta de origem é a Clusia nemorosa (Clusiaceae) e Venezuela onde as abelhas coletam a própolis de Clusia scrobiculata (Marcucci, 2006).

MATERIAL E MÉTODOS: Nesse estudo foram utilizadas três amostras de própolis vermelha coletadas, em fevereiro, junho e outubro, em um apiário localizado em mangues próximos a cidade de Goiana-PE.
Utilizou-se a técnica de Headspace para a obtenção dos voláteis. Pesou-se 10 g de própolis e colocou-se em um kitassato modificado. Por meio de uma tubulação esse foi conectado na parte superior a um pequeno tubo de vidro, contendo o PoraPak-Q® empacotado. Na outra extremidade do tubo, acoplou-se uma bomba de vácuo que forçou a passagem da fase gasosa acima do material (headspace) pelo adsorvente por 2 horas. As substâncias adsorvidas no PoraPak-Q® foram recuperadas passando-se, cerca de três vezes 15 mL de diclorometano no sentido contrário ao da sucção da bomba. E os constituintes foram injetados no cromatográfico. O procedimento foi repetido para as demais amostras.
A identificação dos constituintes foi feita através de cromatografia gasosa acoplada a espectometria de massa (CG/EM). O equipamento utilizado foi o cromatógrafo gasoso SHIMADZU GC-17A acoplado a um espectômetro de massa GCMS-QP5050A equipado com uma coluna capilar de sílica fundida DB-5 (95% polidimetilsiloxano e 5% difenil, 30 m de comprimento, 0,25 mm de diâmetro externo, 0,25µm de diâmetro interno). A programação utilizada para injeção e corrida das amostras foi a seguinte: injetor = 220 ºC, detetor = 240 ºC, coluna = 60ºC a 240ºC, 3ºC.min-1. O gás de arraste foi hélio com vazão de 1 mL. min-1. Os espectros de massa foram comparados com as entradas da biblioteca eletrônica Wiley229 e conferidos visualmente com espectros de massas disponíveis na literatura (Adams, 1995). A identificação dos constituintes voláteis foi feita por comparação dos índices de Kovats, dos espectros de massas com dados da literatura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Através da técnica de headspace dinâmico e da análise por CG-EM foram identificados 34 constituintes voláteis considerando as três amostras da própolis vermelha. A Tabela 1 apresenta os constituintes voláteis identificados de acordo com a classe química. Pelos resultados evidencia-se uma composição química em voláteis bastante variada, destacando-se como constituintes majoritários trans-anetol, -copaeno e metil cis isoeugenol. O trans-anetol bem como o elemicin foram apresentados em estudo recente por Marcucci et al (2006), como componentes majoritários de uma amostra de própolis vermelha de Maceió, o que nos leva a correlacionar às origens comuns para esse tipo de própolis.
A variação na composição química em voláteis, entre as três amostras coletadas foi pequena, valendo ressaltar que, o constituinte majoritário foi o mesmo nas três amostras o trans-anetol e que o percentual deste composto foi relativamente alto, particularmente na amostra coletada em outubro 52,58%. Também destaca-se nas três amostras o alto teor de fenilpropanoides, sendo cerca de 66% para a amostra coletada em outubro. Ainda nas três amostras estudadas observa-se grande percentual de sesquiterpenos. Esses compostos juntamente com fenilpropanoides são possuidores de diversas atividades farmacológicas e como destaque o constituinte majoritário trans-anetol apresenta atividades comprovadas, tais como: analgésica, anestésica, antigenotóxica, antioxidante, dentre outras. [http://www.ars-grin.gov/duke]



CONCLUSÕES: Observou-se que as três amostras coletadas em diferentes épocas mostraram semelhança na composição em voláteis, dentre os 34 compostos identificados, 18 foram comuns as três amostras, no entanto, houve uma variação crescente no constituinte majoritário, o trans-anetol (25,58% na amostra fevereiro, 48,05% em junho e 52,58% em outubro).
As atividades atribuídas ao constituinte majoritário, bem como aos demais constituintes, indicam um bom potencial farmacológico para a própolis em estudo.

AGRADECIMENTOS: Ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica concedida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: Adams RP 1995. Identification of Essential Oil Components by Gas Chromatography/Mass Spectroscopy. , Allured, Carol Stream, IL, USA.
BANKOVA, V. S.; CASTRO, S; MARCUCCI, M. C. Propolis: recent advances in chemistry and plant origin. Apidologie, 31 (2000) 3-5.
BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Instrução Normativa nº 3 – ANEXO VI – Regulamento técnico para fixação de identidade e qualidade de própolis. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 19 jan. 2001.
GHISALBERTI, E. L. Propolis: a review. Bee World 60 (1978) 59-84.
Marcucci MC, Trusheva B, Popova M, Vassya Bankova V, Simova S, Miorin PL, Pasin FR, Tsvetkova I 2006. Bioactive Constituents of Brazilian Red Própolis, Advance Access Publication, eCAM 3:249–254.
PEREIRA, Alberto dos Santos; SEIXAS, Fernando R. M. Silva; AQUINO NETO, Francisco Radler de. Própolis: 100 anos de pesquisa e suas perspectivas futuras. Química Nova, 25 (2002) p. 321-326.
SAWAYA, Alexandra; et al. Eletrospray ionization mass spectrometry fingerpriting of propolis. Analyst. 2004, 129, 739-744.
TRUSHEVA, B ; MARCUCCI, Maria Cristina ;POPOLVA, M ; BANKOVA, V ; SIMOVA, V ; MIORIN, P L ; PASIN, F R ; TSVETKOVA, I . Bioactive Constituents of Brazilian Red Propolis. e Cam Evidence Based Complemmentary And Alternative Medicine, v. 3, n. 2, p. 249-254, 2006.
http://www.ars-grin.gov/duke/