ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: SÍTIO ARQUEOLÓGICO SERRA DAS PARIDAS I: ANÁLISE QUÍMICA DE PIGMENTO POR DRX, EDS, MEV E UV-VISÍVEL

AUTORES: FONTES, L. M. (UFPI) ; MENDES JÚNIOR, J. Q. (UFPI) ; CAVALCANTE, L. C. D. (UFPI) ; LAGE, M. C. S. M. (UFPI) ; ETCHEVARNE, C. A. (UFBA) ; OLIVEIRA, J. C. M. (UFBA) ; BEZERRA, A. D. (UFBA)

RESUMO: Tentando conhecer a composição dos pigmentos utilizados pelo homem pré-histórico, apresentamos aqui os resultados de algumas análises químicas de pigmentos do Sítio Serra das Paridas I. Neste estudo foram utilizadas as técnicas de difração de raios X (DRX), espectroscopia de energia dispersiva (EDS), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia de absorção molecular UV-visível, esta última precedida de reação de complexação com tiocianato. Os resultados indicam que os pigmentos foram feitos à base de ferro, provavelmente usando o ocre, cujo principal constituinte é o mineral hematita. Este elemento também foi detectado na análise por EDS. Os reflexos do material pigmentante não foram evidenciados por DRX, provavelmente devido à presença de quartzo.

PALAVRAS CHAVES: arqueoquímica; serra das paridas i; análise química de pigmentos.

INTRODUÇÃO: A presença da Chapada Diamantina e as águas caudalosas do Rio São Francisco permitiram ao homem pré-histórico viver naquela região, o que pode ser comprovado pelo rico acervo arqueológico que chegou até os nossos dias (SILVA, 2003). As águas cálidas parecem ter auxiliado na expansão pelo território baiano, onde abrigos e cavernas serviram de lugar para descanso, moradia, além de atelier para elaboração de muitos registros rupestres, pinturas e gravuras que se enquadram em diferentes tradições e estilos gráficos.
Muitos dos sítios arqueológicos baianos que agora estão sendo descobertos esperam a intervenção de estudiosos que revelem o muito da pré-história que está escondida nos registros sobre e no interior dos paredões, bem como nas camadas arqueológicas que estão por ser escavadas.
Dentre estes, o Sítio Serra das Paridas I (coordenadas 24L 0255793 e 8634088), é um complexo constituído de cinco abrigos, localizado na Chapada Diamantina, município de Lençóis (BA), a 751 m de altitude em relação ao nível do mar. Os abrigos possuem painéis representando antropomorfos, zoomorfos, fitomorfos e geométricos pintados nas cores vermelha, amarela, preta e branca, os quais estão expostos à ação de sol, chuva e vento, além de vários outros agentes de degradação.
O objeto deste trabalho é apresentar os resultados das análises químicas de uma amostra de pigmento do abrigo 5, do Sítio Serra das Paridas I. O estudo foi realizado utilizando as técnicas de difração de raios X, espectroscopia de energia dispersiva, microscopia eletrônica de varredura e Espectroscopia de absorção molecular UV-visível, esta última precedida de reação de complexação com tiocianato.


MATERIAL E MÉTODOS: A amostra coletada foi analisada nos laboratórios da Universidade Federal do Piauí e Universidade Federal de Minas Gerais, após a obtenção de várias subamostras a partir dela.
A abertura da amostra foi feita com ataque ácido, ao pigmento, usando HCl 6 mol L-1, durante 21 h. Após acréscimo do agente complexante, NH4SCN 1 mol L-1 (BACCAN, et al., 1990), o produto colorido da reação foi analisado por espectroscopia de absorção molecular UV-visível, utilizando-se um espectrofotômetro Hitachi de feixe duplo no tempo, modelo U-3000, com cubetas de quartzo de 1 cm de caminho óptico como recipientes para leitura da amostra (CAVALCANTE et al., 2007 e LAGE et al., 2007).
A espectroscopia de energia dispersiva foi realizada com um equipamento JEOL, modelo JXA-8900RL, com energia de 15,0 keV, potencial de aceleração de 15,0 kV e corrente de feixe de 12 nA, sendo que a amostra foi previamente metalizada com carbono.
As micrografias foram obtidas com um equipamento JEOL, modelo JSM-840A, operando com tensão de 15 kV e corrente de 60 pA, metalizando-se previamente a amostra com ouro.
A difração de raios X (DRX), método do pó, foi realizada com um difratômetro Rigaku, modelo Geigerflex, com tubo de cobalto (Co Ka), operando com tensão de 32,5 kV e corrente de 25,0 mA. A varredura foi feita no intervalo de 4 a 80° (2 teta) e a velocidade de varredura foi de 4° (2 teta)/min.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: O composto vermelho da reação de complexação com tiocianato, foi avaliado por espectroscopia UV-visível (Figura 1) e os resultados estão de acordo com a literatura para o complexo ferro-tiocianato, confirmando a presença desse elemento como constituinte dos pigmentos utilizados no sítio estudado (SKOOG et al., 2006), sendo que o ferro deve estar na forma de hematita ou de uma mistura de hematita com goethita, que eram os minerais mais utilizados pelos pré-históricos desta região para pinturas em amarelo e diferentes tonalidades de vermelho. O ferro também foi detectado por EDS (espectro em detalhe da Figura 1).
As micrografias permitiram observar a morfologia da camada pigmentante, em aumentos de 1000, 5.000 e 10.000X.
A difração de raios X não evidenciou o constituinte mineral responsável pela cor, provavelmente em conseqüência da pequena quantidade de pigmento presente na amostra em estudo. Dessa forma, apenas os reflexos cristalográficos do quartzo foram observados (Figura 2).






CONCLUSÕES: A análise deste sítio baiano parece sugerir que os pré-históricos que habitaram toda a região Nordeste e mais uma ampla faixa brasileira utilizaram-se de matéria-prima semelhante para elaboração de seus grafismos. Neste estudo encontrou-se a presença de ferro como constituinte da pintura em vermelho, provavelmente elaborada com ocre, cujo principal componente é um óxido de ferro, neste caso a hematita (aFe2O3).
Este elemento foi detectado tanto por espectroscopia UV-visível, quanto por EDS, ainda que não tenha sido evidenciado por análise com difração de raios X.


AGRADECIMENTOS: Ao CNPq pelas bolsas, de Mestrado (L. C. D. Cavalcante) e de Produtividade em Pesquisa (M. C. S. M. Lage e Etchevarne, C. A.). À UFPI e UFMG.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BACCAN, N.; ALEIXO, L. M.; STEIN, E.; GODINHO, O. E. S.; Introdução à semimicroanálise qualitativa, 3ª ed., Campinas: Editora da UNICAMP, 1990.
CAVALCANTE, L. C. D.; LAGE, M. C. S. M.; FABRIS, J. D.; Quim. Nova, 2007. (submetido).
LAGE, M. C. S. M.; CAVALCANTE, L. C. D.; FARIAS FILHO, B. B.; SANTOS, L. M.; FONTES, L. M.; Ciência Hoje, 2007. (submetido).
SILVA, J. C.; Tese de Doutorado, Universidade Federal de Pernambuco, Brasil, 2003.
SKOOG, D. A.; WEST, D. M.; HOLLER, F. J.; CROUCH, S. R.; Fundamentos de Química analítica, São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.