ÁREA: Físico-Química

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO ÓLEO DO PEIXE Leporinus friderici (ARACÚ-CABEÇA-GORDA) DE BOA VISTA-RR

AUTORES: SOUZA, F. B. (UFRR) ; MELO FILHO, A. A. (UFRR) ; BARRETO, H. C. S. (UFRR)

RESUMO: Esta pesquisa teve como objetivo caracterizar através de alguns parâmetros físico-químicos o óleo do filé do peixe aracú-cabeça-gorda (Leporinus friderici). O óleo foi obtido pelo método de extração a frio e as análises realizadas através das normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. Os resultados apresentaram densidade a 25 ºC de 0,88 g/cm3, índice de refração a 40 ºC de 1,458, viscosidade a 40 ºC de 27,58 mm2/s, acidez medida como ácido oléico de 0,44 %, índice de saponificação de 189,34 mg de KOH/g de óleo, índice de iodo (método de Hϋbl) de 78,58 g I2 /100g e o índice de peróxido de 0,0 meq/Kg. De um modo geral, os resultados obtidos representam novas informações sobre o óleo da espécie pesquisada, que poderão ser utilizados na formação de sua base de dados.

PALAVRAS CHAVES: aracú-cabeça-gorda, leporinus friderici, óleo

INTRODUÇÃO: A produção de peixe de água doce na Região Amazônica tem aumentado significativamente nos últimos anos principalmente se comparando ao crescimento de peixes. No Estado de Roraima, não tem sido diferente graças às novas tecnologias de produção de pescados em viveiros, pela alta produção por área como também ao rápido retorno de capital. Os peixes de água doce mais comumente utilizados na piscicultura no Estado de Roraima são matrinxã, tambaqui, tucunaré, pacu, filhote, surubim, dourado, jaraqui, aracú, sendo este último, o objetivo deste trabalho (LAGE et all, 2001; IBAM, 2006).
Os óleos de peixes são atualmente de grande interesse às indústrias alimentícias e farmacêuticas, tendo muitas pesquisas direcionadas para fabricação de suplementos alimentares e concentrados com ômega-3, ácidos graxos poliinsaturados, que promoverem a redução da concentração de colesterol LDL no sangue, e conseqüentemente previne doenças cardiovasculares (LAGE et all, 2001; ALMEIDA, 2004).
Apesar de os óleos de peixes serem tão visados, poucos trabalhos se destinam a sua caracterização físico-química. Esta pesquisa tem por objetivo analisar o óleo extraído do filé da espécie Leporinus friderici (popularmente conhecido como aracú-cabeça-gorda). Diante destes aspectos, esta pesquisa contribuirá por apresentar novos dados físico-químicos sobre o óleo do aracú-cabeça-gorda.

MATERIAL E MÉTODOS: A coleta do peixe aracú-cabeça-gorda criado em sistema semi-intensivo, foi realizada diretamente no comércio no município de Boa Vista, no Estado de Roraima.
A extração do óleo de aracú-cabeça-gorda foi realizada a partir de modificações no método descrito por DUARTE (2001), como descrito a seguir:
1- Retirou-se os filés do peixe;
2- Triturou-se os filés usando um liquidificador;
3- Transferiu-se a massa obtida para uma cápsula de porcelana e pesou-se 750g do tecido triturado;
4- Aqueceu-se o tecido triturado em estufa, à temperatura de 100 ºC por um período de aproximadamente 14 horas;
5- Transferiu-se o tecido seco para um béquer de 5L, no qual adicionou-se 100 g de sulfato de sódio anidro e 2L de hexano, promovendo a agitação por uma hora;
6- Filtrou-se com papel de filtro;
7- Realizou-se a evaporação do solvente em rota-evaporador;
8- O óleo obtido foi acondicionado em frasco âmbar, rotulado e congelado em freezer para utilização posterior.
4.3 Caracterização Físico-Química do Óleo Extraído do aracú-cabeça-gorda
A determinação de alguns parâmetros físico-químicos do óleo de aracú-cabeça-gorda foi realizada segundo os métodos de análise de alimentos do INSTITUTO ADOLFO LUTZ (1985). Os parâmetros determinados nesta pesquisa foram: índice de refração, pH (por indicador universal da MERK), densidade, índice de saponificação, índice de acidez, viscosidade, índice de peróxido, sendo cada parâmetro realizado em triplicata (n=3).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A Tabela 1 resume os resultados obtidos nas análises físico-químicas do óleo do aracú–cabeça-gorda e na Tabela 2 os parâmetros analíticos comparativos de óleos de peixe e salmão, óleos vegetais (algodão, soja) e óleo de frango, sendo alguns valores de referência pré-estabelecidos pela literatura para óleos animais e vegetais.
O índice de peróxido, segundo a Tabela 2, está dentro do limite permitido para óleos de peixe (5 mEq/Kg), verificando assim a boa qualidade do óleo que não sofreu alterações químicas oxidativas com a extração a frio e livre de peróxido.
O óleo do aracú-cabeça-gorda apresentou índice de saponificação dentro da faixa para óleo de peixes (Tabela 2), e ainda dentro da média de outros óleos como de algodão e soja.
O valor obtido do pH pôde ser confirmado com os resultados do índice de acidez e da acidez medida como ácido oléico, estando, este último, dentro do limite máximo permitido para óleo de peixes, podendo ser classificado como tipo 1, o que correspondendo à utilidade de uso comercial (BELLAVER, 2004).
A viscosidade obtida para o aracú-cabeça-gorda indica pouca resistência ao escoamento, resultante da atração intermolecular dos ácidos graxos de cadeias longas do óleo (COSTA, 2006).
O índice de refração do óleo analisado apresentou valores próximos aos de referência (Tabela 2) para o algodão, e a densidade obtida nas analises estão abaixo do estabelecido para óleo de salmão, soja, algodão e frango, ou seja, estando inferior aos limites de óleos vegetais e animais comestíveis (Tabela 2).
O índice de iodo apresentou resultado abaixo do esperado, de acordo com a Tabela 2, em relação às referências para óleos de peixes, estando, no entanto, dentro da faixa para o óleo de frango (COSTA, 2006).





CONCLUSÕES: O óleo do aracú-cabeça-gorda apresentou após a extração a frio conservação nas suas propriedades físico-químicas, sem ocorrência de oxidação.
Os valores obtidos nas determinações físico–químicas deste trabalho apresentaram-se em concordância com os dados recomendados na literatura para os aspectos físico-químicos de óleos animais e vegetais.
De um modo geral, os resultados obtidos assinalam novas informações sobre o óleo do filé do peixe aracú-cabeça-gorda que, poderão ser úteis para a formação de sua base de dados.

AGRADECIMENTOS: Ao Departamento de Química da Universidade Federal de Roraima.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALMEIDA, N. M. Composição de ácidos graxos e quantificação de EPA e DHA de matrinxã (Brycon cephalus) e tambaqui (Colossoma macropomum) cultivados e capturados na Amazônia Central. Campinas/São Paulo, 2004, 226p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Engenharia de Alimentos. Universidade Estadual de Campinas.

BELLAVER, C., ZANOTTO, D. L. Parâmetros de Qualidade em Gorduras e Subprodutos Protéicos de origem animal. Conferência APINCO 2004. Santos-SP, 2004.

BRASIL, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução n. 482, de 23 de setembro de 1999. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/resol.htm>. Acesso em: 19 dez. 2006.

CAMPESTRE IND. E COM. DE ÓLEOS VEGETAIS LTDA. Óleos de Peixes. Disponível em:<http://www.campestre.com.br>. Acesso em: 19 dez. 2006.

COSTA, T. L. Características físicas e físico-químicas do óleo de duas cultivares de mamona. (Dissertação) – Mestrado. Campina Grande. 2006.

DUARTE, G. R. M., Estudo da composição de ácidos graxos e colesterol em óleos de peixes do Rio Araguaia. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Química, Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 2001. 98p.

IBAM –Instituto Brasileiro de Administração Municipal. A Fauna do Município de Boa Vista. Disponível em:<http://www.boavista.rr.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2006.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz Métodos Químicos e Físicos para análise de alimentos. 3º ed. São Paulo, 1985. v. 1. 533p.

LAGE, M. E. et all. Determinação na concentração de ácidos graxos da carne do pacu (Piaractus mesopotamicus) submetido a níveis crescentes de rama de mandioca na ração. 38.º RSBZ, 2001, Piracicaba. p.849-850.