ÁREA: Físico-Química

TÍTULO: Encapsulamento de óleo de Croton cajucara Benth em dois sistemas microemulsionados para aplicabilidade como agente anticorrosivo em aço carbono

AUTORES: GOMES, M. P. S. (UFRN) ; MORAIS, E. K. L. (UFRN) ; ANJOS, G. C. (UFRN) ; MACIEL, M. A. M. (UFRN)

RESUMO: Neste trabalho foram utilizados sistemas microemulsionados (SME) contendo como tensoativos o óleo de coco saponificado (SME-OCS) e dodecilbenzeno sulfonato de sódio (SME-DBS). A eficácia da solubilização do óleo fixo (OF) de Croton cajucara Benth nestes sistemas foi avaliada com quantificações determinadas via espectroscopia na região do UV-visível. Ambos os sistemas solubilizaram quantitativamente este óleo, tendo sido comprovado que o sistema SME-OCS encapsulou 99% e o SME-DBS 91%.

PALAVRAS CHAVES: microemulsões, solubilização, croton cajucara benth.

INTRODUÇÃO: Microemulsões (ME) são sistemas formados a partir de uma solubilização espontânea de dois líquidos imiscíveis (água e óleo, por exemplo) na presença de um tensoativo e, se necessário, um cotensoativo (OLIVEIRA et al., 2004). A possibilidade de utilização de ME em pesquisas fundamentais e aplicadas, amplia o interesse por estudos que avaliam as propriedades físico-químicas destes sistemas (DANTAS et al., 2001; DANTAS et al.,2002). Uma das funções de sistemas microemulsionados é solubilizar substâncias de caráter orgânico que apresentam baixa solubilidade em meio aquoso ou oleoso, viabilizando sua disponibilização nas mais variadas áreas (DANTAS et al., 2003).
O Croton cajucara benth (Euphorbiaceae), vulgarmente conhecido por “sacaca” (Bélem-PA), possui um óleo fixo apolar composto majoritariamente de sesquiterpenos não oxigenados (cariofileno, gama-cadineno e alfa-copaeno) e sesquiterpenos oxigenados (linalool, espatulenol e viridiflorol), bem como traços de diterpenos do tipo clerodano trans-crotonina (CTN), cis-cajucarina B (c-CJC-B) e trans-cajucarina B (t-CJC-B) (SOUZA et al., 2006). Atualmente, estamos ampliando o uso deste óleo para estudos de controle de corrosão em aço carbono. Desta forma, se faz necessário a sua solubilização em meio aquoso, visto que aproximadamente 90% dos fenômenos de corrosão se dão em presença de água. Diante desta dificuldade, utilizou-se dois sistemas microemulsionados para solubilização e disponibilização deste óleo em estudos futuros.


MATERIAL E MÉTODOS: O tensoativo OCS (óleo de coco saponificado) foi obtido a partir de óleo de coco [índices de acidez (12,77), iodo (7,66) e saponificação (228,43)], de acordo com metodologia previamente reportada (MORETO et al., 1989). O tensoativo DBS (Acros Organics) foi adquirido comercialmente. Os sistemas microemulsionados estudados possuem composição de razão C/T = 40%, fase aquosa (Fa) = 55% e fase oleosa (Fo) = 5%, sendo comum aos dois sistemas o cotensoativo (butanol), fase aquosa (água) e fase oleosa (querosene) e diferindo apenas no tensoativo. O material vegetal (cascas do caule) utilizado foi obtido no mercado Ver-o-peso de Belém/ PA. O óleo fixo foi extraído, das cinco primeiras frações, via coluna cromatográfica com sílica gel 70-230 Mesh. Para a quantificação do óleo fixo (OF) nos sistemas microemulsionados, obteve-se inicialmente, os comprimentos de onda máximo de absorção, para ambos os sistemas, e duas curvas de calibração contendo cinco pontos cada, tomando-se uma massa conhecida do OF dissolvida em 1,0 mL de SME-OCS e SME-DBS. Após sucessivas diluições com microemulsão para o sistema SME-OCS-OF e SME-DBS-OF, saturados com OF, foram feitas medidas em triplicata com uma absorbância de dentro da faixa das curvas de calibração para os respectivos sistemas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A solubilização de OF nos sistemas SME foi bastante eficaz, sugerindo-se que os sesquiterpenos não oxigenados se encontram solubilizados no núcleo micelar destes sistemas e os sesquiterpenos oxigenados, na interface micelar, onde os seus grupos oxigenados estão voltados para a fase aquosa externa e a parte hidrocarbônica, para o núcleo micelar apolar. A solubilização dos clerodanos minoritários CTN, t-CJC-B e c-CJC-B, ocorre na interface destes sistemas, em um arranjo mais complexo com seus grupos oxigenados voltados para a água. Comparativamente, o sistema SME-OCS apresentou um maior percentual de encapsulamento (Tabela 1), que pode ser justificado pelo fato do OCS possuir maior densidade de carga no seu grupo polar (COO-), favorecendo desta forma, maiores interações com os constituintes mais polares de OF. O tensoativo DBS, por sua vez, possui uma carga negativa distribuída entre três oxigênios [(SO3)-] que lhe confere uma menor densidade de carga. No entanto, o sistema SME-OCS apresentou quebra com o aumento da concentração de OF (acima de 10%), provavelmente, a justificativa é dada pelo OCS apresentar na sua parte apolar, cadeias lineares saturadas que limitam o crescimento micelar. Apesar da parte apolar do DBS ser similar (R alquil = 12 carbonos saturados), esta quebra não foi evidenciada no sistema SME-DBS, provavelmente pela forte interação dos sesquiterpenos e clerodanos de OF com o DBS, que por possuir anel aromático (rica deslocalização de elétrons) gera uma nova carga negativa no grupo SO3- com formação de carga positiva no anel, com diminuição do efeito hidrofóbico (ligações de hidrogênio com a fase aquosa do SME) na micela, permitindo desta forma, a ocorrência de inversão micelar.



CONCLUSÕES: Comparativamente, o sistema SME-OCS apresentou maior percentual de encapsulamento (99%). No entanto, gera quebra em concentrações acima de 10% de OF. Desta forma, o sistema SME-DBS é o preferencial para disponibilização de OF, já que suporta altas concentrações deste óleo, tendo solubilizado OF eficazmente (91%). Adicionalmente, OF em elevadas concentrações, passa a ser o componente majoritário no sistema SME-DBS-OF, favorecendo a aquisição de estudos anticorrosivos em aço carbono, com amplas faixas de concentrações deste óleo.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem aos Programas PET e Prodoc/CAPES.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: DANTAS, T. N. C. et al., 2001. Removal of chromium from aqueous solutions by diatomite treated with microemulsions. Water Research, 35: 2219-2224.
DANTAS, T. N. C. et al., 2002. Microemulsions system as a steel corrosion inhibitor. Corrosion, 58: 723-727.
DANTAS, T. N. C. et al., 2003. Rheological properties of a new surfactant-based fracturing gel. Colloids and Surfaces A, 225: 129-135.
MORETO E. e FETT R, 1989. Óleos e Gorduras Vegetais: Processamento e Análises; Editora da UFSC: 126, 141, 144.
OLIVEIRA, A. G. et al., 2004. Microemulsões: Estrutura e aplicações como sistema de liberação de fármacos. Química Nova, 27: 131-138.
SOUZA M. A. A. et al., 2006. Composição química do óleo fixo do Croton cajucara e determinação das suas propriedades fungicidas. Revista Brasileira de Farmacognosia, 16: 599-610.