ÁREA: Ambiental

TÍTULO: Resíduos Industriais: Caracterização e Estudos do Fosfogesso.

AUTORES: PAVANIN, L. A. (UFU) ; PARRA, K. N. (UFU) ; SILVA, L. O. (UFU)

RESUMO: O presente estudo prevê a caracterização, verificação de destinação adequada e possibilidade de aplicabilidade do resíduo fosfogesso, buscando além do trabalho de laboratório, a conscientização das empresas, das autoridades públicas e da comunidade em geral para os riscos de uma destinação inadequada de resíduos gerados por indústrias. Neste trabalho são relatados os resultados dos estudos da composição química do resíduo fosfogesso determinados através de procedimentos analíticos padrão e resultados dos estudos de lixiviação e solubilização dos resíduos realizados atendendo as NBR 10004, 10005, 10006 e 10007.

PALAVRAS CHAVES: resíduos industriais, reaproveitamento, fosfogesso.

INTRODUÇÃO: Entende-se por fosfogesso o resíduo, co-produto ou sub-produto que é originado do processo de produção de fertilizantes a base de ácido fosfórico na proporção de 4500 a 5000 Kg para cada 1000 Kg do ácido.

Ca3(PO4)2 + 6H2O + 3H2SO4 -> 3CaSO4. 2H2O + 2H3PO4
(FOSFÉRTIL, 2005)

Até o presente momento o fosfogesso é mais empregado nas áreas de construção civil e agricultura. Devido o seu valor de potencial hidrogeniônico (pH) e a presença de alumínio (PRESSINOTTI, 1982), não vêm sendo uma boa alternativa aos agricultores como um todo. Em sua quase totalidade é armazenado na planta da indústria de fertilizante, sendo considerado como um passivo ambiental.
Observa-se que nos casos em que há o maior aproveitamento do fosfogesso, estes volumes correspondem apenas a 33-35% do volume total produzido. As aplicações existentes, além de representarem um volume pequeno comparado ao volume de produção, são muito pouco nobres e conferem baixo valor agregado ao fosfogesso. A receita obtida com a venda dele, para esses fins, muitas vezes não remunera os custos de transporte, manuseio e deposição (JÚNIOR, 1990).
Para uma posterior destinação adequada e/ou aplicação do fosfogesso, o presente trabalho teve por objetivo caracterizá-lo seguindo as normativas 10004, 10005, 10006 e 10007 de resíduos sólidos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), bem como realizar determinações espectrofotométricas e físico-químicas.


MATERIAL E MÉTODOS: A amostra do resíduo fosfogesso, foi coletada em pilhas da empresa Fosfértil/Uberaba-MG, seguindo a normativa NBR10007.
O início do trabalho foi à identificação do processo ou atividade que da origem ao resíduo, de seus constituintes e características, e a comparação destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecida.
A metodologia consiste em preparar extratos tanto lixiviado quanto solubilizado (feito em duplicata) segundo as normativas na NBR 10005 e 10006 respectivamente, bem como preparar a abertura da amostra bruta utilizando HNO3 65%, pois através de uma série de testes realizados, observou-se que este ácido tem um grande poder de abertura sobre a amostra.
Após a preparação dos extratos e da amostra aberta com suas respectivas filtrações, verificou-se através de leituras no espectrofotômetro de absorção atômica a concentração dos metais: cálcio, sódio, magnésio, potássio, manganês, ferro, alumínio, cobre e zinco, obtidas nos filtrados e massa bruta.
Realizaram-se também leituras no espectrofotômetro UV-Vis nos mesmos extratos afim de determinar as concentrações de fluoretos e fosfatos. Analisou-se também sulfato por gravimetria.
Para as análises físico-químicas fez determinações do índice de acidez, água livre, de cristalização, umidade e pH.
De posse de todos os resultados obtidos foi possível classificar o fosfogesso como resíduo de acordo com as normativas.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Partindo do conhecimento do processo produtivo e da análise de massa bruta, verificamos que o fosfogesso armazenado em pilhas a céu aberto na planta da indústria Fosfértil/Uberaba-MG, e transportado para os laboratórios do Instituo de Química da Universidade Federal de Uberlândia, como resíduo, não se enquadra dentro dos resíduos perigosos de fontes não específicas (anexo A) e nem nos resíduos perigosos de fontes específicas (anexo B), bem como também não possui substâncias que conferem periculosidade aos resíduos (anexo C), substâncias agudamente tóxicas ou tóxicas (anexos D e E respectivamente).
No extrato lixiviado cuja a análise focou-se no fluoreto, encontrou-se concentração do mesmo igual a 1,27mg/L, sendo esta, mais baixa que 150mg/L (limite máximo permitido no anexo F).
Pela solubilização (em duplicata) obtivemos os seguintes resultados : fluoreto 1,86mg/L, manganês 1,50mg/L, cobre 0,04mg/L, alumínio 2,50mg/L, sódio 1,24mg/L, ferro 1,67mg/L, zinco 0,18mg/L e sulfato( expresso em SO4-2) 2,14. 103mg/L; os limites máximos são: fluoreto 1,5mg/L, manganês 0,1mg/L, cobre 2,0mg/L, alumínio 0,2mg/L, sódio 200,0mg/L, ferro 0,3mg/L, zinco 5,0mg/L e sulfato( expresso em SO4-2)250,0mg/L.
Na análise da massa bruta abriu-se 5,0707g da massa e os resultados obtidos, em percentagem, foram: flúor 0,0323%, manganês 0,00163%, magnésio 0,0163%, cobre 0,000420%, potássio 3,52%, alumínio 0,00908%, sódio 0,102%, ferro 0,0476%, zinco0,00014%, fósforo 0,00151%, cálcio 49,5% e sulfato(expresso em SO4-2) 40.5%.
Analisou-se também certas características físico-químicas do resíduo,obtendo percentagem de umidade, água livre e de cristalização do fosfogesso igual a 21,0703 %, 21,7852 % e 16,9692 % respectivamente. O pH do resíduo é 3,39 e o índice de acidez é 5,69 %.

CONCLUSÕES: Como o fosfogesso é de origem conhecida, não constando nos anexos A e B da normativa 10004 como tão pouco tendo características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade, temos que esse resíduo não se enquadra na Classe I - Perigoso.
Verificamos no extrato solubilizado a presença das substâncias flúor, manganês, alumínio, ferro e sulfato em concetrações superiores às do anexo G.
Face aos resultados dos extratos solubilizados obtidos pela normatização contida na NBR 10004, o resíduo deve ser enquadrado como Classe II - não inerte.


AGRADECIMENTOS: Agradecemos à contribuição dos técnicos e o apoio dos familiares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: resíduos sólidos-classificação. Rio de Janeiro, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10005: procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10006: procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10007: amostragem de resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 2004.

FOSFÉRTIL. Avaliação da qualidade química do gesso fornecido pela Fosfértil com
relação aos parâmetros: índice de acidez e teores de P2O5. 2005. p.12. Material de
apoio.

FOSFÉRTIL. Processo produtivo de P2O5. Material de apoio

JÚNIOR, W. V. Reciclagem do fosfogesso, um rejeito da fabricação de ácido fosfórico. In: PRÊMIO JOVEM CIENTISTA 1990: RECICLAGEM DE REJEITOS INDUSTRIAIS. São Paulo,1990.

LOPES, A. S. Manual de Fertilidade do Solo. Tradução de Lia Maria Beatriz Falangle. São Paulo: Nagy LTDA, 1989. 155p. Original inglês.


PRESSINOTTI, F. A. Aproveitamento do gesso natural e gesso residual da produção de ácido fosfórico. 1. ed. São Paulo: IPT, 1982. 14 p.