ÁREA: Ambiental

TÍTULO: IMPACTO DA CONTAMINAÇÃO DE PETRÓLEO SOBRE COMUNIDADES MICROBIANAS DO ESTUÁRIO DO RIO CASQUEIRA, MACAU, RN

AUTORES: COSTA, J.G. (UFRN) ; COSTA, C.C. (UFRN) ; CARRASCOZA, L.S. (UFRN) ; ROCHA JR, J.M (UFRN) ; MORAIS, B.K.A. (UFRN) ; SANTOS, R.O. (UFRN) ; BATISTA, L.I.F. (UFRN) ; PEREIRA, K.P.G. (UFRN) ; ARAÚJO, M.F.F. (UFRN) ; BARRETO DE OLIVEIRA, M.T. (UFRN)

RESUMO: O efeito da contaminação de petróleo sobre microrganismos de mangue (Rio Casqueira, Macau, RN), foi analisado em microcosmos, simulando um derramamento. 5% de óleo cru foram adicionado ao sedimento. A diversidade microbiana e a contagem de viáveis foram avaliadas nos tempos 0, 15, 30, 60 e 90 dias, mediante diluição seriada e plaqueamento em agar marinho. Os degradadores de petróleo foram selecionados pela técnica de enriquecimento de culturas. Apenas 4 degradadores foram obtidos, o que é esperado para lugares pouco impactados. O óleo não afetou a diversidade microbiana e ainda aumentou as populações cultiváveis (10e6ufc/mL para 10e7ufc/mL). Apesar disso, o baixo número de degradadores pode limitar a rápida transformação do óleo e prolongar os efeitos da contaminação sobre o resto da biota

PALAVRAS CHAVES: biodegradação de petróleo, biorremediação, mangue

INTRODUÇÃO: O RN é o segundo maior produtor de petróleo do Brasil e o Pólo Petrolífero de Guamaré lidera a produção em terra. Na Bacia Potiguar, são mais de 100 mil barris produzidos diariamente em 32 plataformas marítimas e mais de 5 mil poços perfurados. Essas atividades constituem um risco potencial aos ecossistemas costeiros, onde há mais de 2 mil poços de petróleo (IDEMA, 1999). Diversos estuários repletos de manguezais estão em áreas de influência de poços petrolíferos, como é o caso do Pólo Petrolífero de Guamaré e dos campos de Serra e Macau, na costa do município de Macau.
Neste trabalho a área de estudo está situada no estuário do Rio Casqueira, localizado no município de Macau, próximo à localidade de Diogo Lopes, conhecida por suas belezas naturais, atividade turística, exploração petrolífera e pela presença da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão. O Rio Casqueira comunica-se com o Rio Conceição através de canais e com o Canal do Arrombado, delimitado em sua foz pela Barra do Corta Cachorro. Acerca de 300m da foz estão localizados os poços petrolíferos do Campo de Serra. Esta área de estudo foi escolhida por apresentar um manguezal exuberante e quase intocado, próximo dos Poços de Produção de Petróleo, portanto passível de ser atingido num eventual derramamento de óleo.
O propósito deste estudo é, portanto, selecionar degradadores de petróleo dessa área e analisar o impacto de um derramamento de óleo (simulado em microcosmos) sobre comunidades microbianas do estuário do Rio Casqueira, avaliando, portanto, o seu potencial de recuperação a partir deste suposto derramento.

MATERIAL E MÉTODOS: A seleção dos degradadores de petróleo foi feita sob cultivo em meio mineral mínimo segundo a técnica de enriquecimento de culturas (COSTA, 2003, ALEXANDER, 1999, PELLIZARI, 1995), em plataformas de agitação (150 rpm), com aquecimento de 30oC, por um tempo total de 75 dias, sendo que a cada 15 dias uma alíquota de 10 mL era transferida para um meio novo (o mesmo descrito acima). O próximo passo foi a preparação de diluições seriadas (10-1 a 10-5) e subseqüente plaqueamento, ou seja, alíquotas de 100 uL de cada diluição foram espalhadas com alça de Drigalsky na superfície de placas de petri, contendo o meio de cultivo marine agar). As placas foram incubadas a 30oC e, após 2 ou 3 dias de cultivo, foram isoladas as colônias morfologicamente diferentes. Esta etapa foi concluída com a coloração de Gram e checagem da pureza das colônias ao microscópio óptico.
Os microcosmos foram preparados em triplicatas contendo 250g de solo de mangue em cada unidade (tubos de pvc de 75mm de diâmetro por 8 cm de profundidade. Um filme de pvc foi utilizado para isolar o sistema do ambiente, para evitar contaminações (Fig. 2). Uma vez por semana foi feita a correção de umidade, adicionando-se água do próprio local de coleta e homogeneizando-se todo o sedimento.
A duração do experimento com microcosmos foi de 3 meses, sendo que uma triplicata do grupo controle e outra do grupo experimental (sedimento contaminado com 5% de óleo) foram retiradas para análise nos tempos: 0, 15, 30, 60 e 90 dias. As análises feitas a partir dos sedimentos dos microcosmos foram a contagem de unidades formadoras de colônias (UFCs) e da diversidade microbiana (linhagens diferentes).


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Surpreendentemente, o petróleo não causou impacto negativo nas populações microbianas, pelo contrário, o óleo parece ter promovido um bioestímulo, uma vez que houve um incremento da ordem de 10 vezes na contagem de unidades formadoras de colônias, passando de 10e6 UFC/ mL para 10e7 UFC/ mL no final do experimento.
A contaminação de óleo no sedimento de mangue, também, de modo surpreendente, não afetou a diversidade de espécies microbianas cultiváveis, ou seja, o número de espécies bacterianas cultiváveis (22) praticamente não variou ao longo do tempo. Uma diminuição na diversidade, todavia, ocorreu no sedimento controle (sem contaminação), passando de 22 para 12 espécies (média de triplicatas), após 90 dias. Isto ocorreu, talvez, devido ao consumo de nutrientes presentes no sedimento, os quais ficaram escassos ao longo do tempo, à medida que iam sendo consumidos pelos microrganismos. Também a ausência, nos microcosmos, de fatores locais tais como ciclo de marés, ciclagem de nutrientes, pode ter contribuído para tal decréscimo no número de espécies do grupo controle. Já na situação do sedimento contaminado, a quantidade de espécies bacterianas cultiváveis se manteve praticamente constante ao longo do tempo, possivelmente por o petróleo ter atuado como bioestímulo (ALEXANDER, 1999), mantendo uma elevada carga de nutrientes para as diversas populações da comunidade microbiana.
Quanto aos degradadores de petróleo, penas 6 linhagens foram isoladas. Esta baixa quantidade de degradadores, de fato, é esperada para ambientes pouco impactados (EVANS et al., 2002). Por outro lado, a escassez de degradadores de petróleo pode limitar a biotransformação de óleo e prolongar os efeitos da contaminação sobre a biota, no caso de um derramamento.


CONCLUSÕES: Neste estudo, a simulação de um derramamento de óleo no estuário do Rio Casqueira, avaliada em sistema de microcosmos não impactou a diversidade de bactérias cultiváveis, mantendo-se um total de 22 espécies, em média, até 90 dias de experimentação. Por outro lado, apenas uma pequena quantidade de degradadores foi obtida (6 linhagens), o que é esperado para lugares pouco impactados. Apesar disso, o baixo número de degradadores pode limitar a rápida transformação do óleo e prolongar os efeitos da contaminação sobre o resto da biota em nível local.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao CNPq e FAPERN pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALEXANDER, M. Biodegradation and Bioremediation. 2. ed. San Diego: Academic Press, 1999. 453p.

EVANS, F. F. et al. Impact of oil contamination and bioestimulation on the diversity of indigenous bacterial communities in soil microcosms. FEMS Microbiol. Ecol. 46, 295-305. 2004.

COSTA, J. G. et al. Non-Cometabolic PCB Biodegradation: Does it occur in nature?. In: PROCEEDINGS OF THE IN SITU AND ON-SITE BIOREMEDIATION, 7., 2003. Orlando. Anais…Orlando: Battelle Press. 2003

IDEMA – INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO NORTE. Caracterização dos Ecossistemas Costeiros dos Estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Natal, 1999

PELLIZARI, V. H. Aspectos moleculares e fenotípicos de bactérias isoladas do ambiente e envolvidas na biodegradação de bifenilos policlorados – PCBs. 1995. 67 p. Tese de Doutorado – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo.