ÁREA: Ambiental

TÍTULO: DIAGNÓSTICO INTEGRADO DA CONTAMINAÇÃO POR HIDROCARBONETOS POLICÍCLICOS AROMÁTICOS EM SEDIMENTOS E BIOTA NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS, BAHIA

AUTORES: SILVA, S. M. T. (UFBA) ; OLIVEIRA, R. (UFBA) ; BERETTA, M. (UFBA) ; TAVARES, T. M. (UFBA)

RESUMO: Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) são contaminantes orgânicos que apresentam caráter lipofílico e efeitos adversos à saúde. A Baía de Todos os Santos (BTS) representa um dos mais dinâmicos e vulneráveis ambientes naturais, no qual atividades antrópicas interagem de forma complexa com o ambiente. Os manguezais são ecossistemas expostos à contaminação por HPAs oriundos de atividades urbanas e industriais. Neste trabalho, sedimentos superficiais e moluscos bivalves de duas espécies (Anomalocardia brasiliana, papa-fumo e Brachidontes exustus, sururu) e uma de crustáceo (Ucides cordatus, caranguejo) foram coletados em 15 estações no entorno da BTS e analisados por GC-MS/MS com o objetivo de avaliar os níveis dos 16 HPAs prioritários e o risco da exposição ao consumo de mariscos.

PALAVRAS CHAVES: hpas, sedimentos, moluscos

INTRODUÇÃO: HPAs são compostos cujas propriedades carcinogênicas e mutagênicas os colocam como uma das mais importantes classes de poluentes prioritários ambientais. São formados a partir de emissões antrópicas (exaustão veicular, abrasão asfáltica, aquecedores a gás ou elétricos) e de fontes naturais (combustão incompleta em alta temperatura e processos pirolíticos envolvendo combustíveis fósseis como carvão e petróleo) (MARTINEZ et al., 2004). As propriedades físico-químicas dos HPAs determinam a sua distribuição no ambiente. Baixa solubilidade em água e alta lipofilicidade favorecem a adsorção desses poluentes no material particulado que encontram o seu destino final nos sedimentos e no tecido lipídico dos organismos filtrantes, como moluscos bivalves, que comumente são utilizados como bioindicadores pois acumulam esses compostos ao longo do tempo (GEFFARD et al., 2003).
O fato de alguns HPAs serem considerados carcinogênicos, impõe a necessidade de se avaliar o risco da exposição humana a tais compostos.


MATERIAL E MÉTODOS: Os sedimentos e os tecidos dos moluscos liofilizados foram extraídos com 3 porções de diclorometano em Ultrasom e os extratos combinados foram concentrados e fracionados em coluna cromatográfica de vidro com sílica e alumina, em 3 frações de polaridade crescente. Cada fração foi analisada em GC/MS e a quantificação foi realizada no modo SIM para determinar os 16 HPAs considerados poluentes prioritários pela EPA.



RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os níveis dos HPAs totais e individuais determinados nos sedimentos variou em função de suas massas moleculares e do conteúdo de matéria orgânica, com concentrações do SHPAs entre 1,3 e 1994 ng.g-1 em peso seco. Para os moluscos papa-fumo e sururu, os níveis do SHPAs variaram de 0,63–213,8 ng.g-1 e 0,6–117,1 ng.g-1, respectivamente e, para o caranguejo de 0,63–65,8 ng.g-1. O predomínio de HPAs de alta massa molecular(AMM)sobre os de baixa massa molecular(BMM)indica a origem pirolítica da contaminação para sedimentos e biota, uma vez que os HPAs predominantes foram aqueles de alta massa molecular (4 a 6 anéis) em concordância com os resultados obtidos para os sedimentos. As partículas finas dos sedimentos são geralmente enriquecidas de compostos de alta massa molecular e menor solubilidade em água. Uma vez que os moluscos filtram as partículas mais finas, eles estão expostos aos HPAs de AMM (Baumard et al., 1998), explicando assim os resultados encontrados neste trabalho. Para avaliar o potencial de risco ao qual a população do Recôncavo Baiano está sujeita ao consumir mariscos contaminados por HPAs, foi feito um levantamento bibliográfico sobre os efeitos tóxicos registrados na literatura associados à ingestão destes compostos e construída uma tabela com os valores de ingestão de cada espécie estudada para adultos e crianças, baseados nos limites de ingestão para o consumo de alimentos contaminados estabelecido pelo FDA (Food and Drud Administration, 1993 apud O’Connor e Beliaff, 1995) que corresponde a 8 g/dia para crianças. A taxa de consumo usada para estimar o risco da ingestão para adultos foi de 107 g/dia que corresponde à quantidade de frutos do mar habitualmente consumida por habitantes do Recôncavo (Mazza,1997 apud Bandeira,1999).



CONCLUSÕES: Comparativamente, os níveis de HPAs individuais encontrados neste trabalho são menores do que aqueles encontrados em muitas áreas industriais da costa brasileira e poluídas de outros países.
O predomínio de HPAs de alta massa molecular (AMM) sobre os de baixa massa molecular (BMM) indica a origem pirolítica da contaminação.
O consumo continuado das espécies é desaconselhado em 42 % das estações para o papa-fumo e 80 % para a espécie sururu, considerando o limite máximo de ingestão diária de 0,15 mg /dia de HPAs para adultos, proposto pelo WHO.


AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BANDEIRA, A. C. C. Determinação de n-alcanos e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos em fauna da Baía de Todos os Santos. Dissertação de mestrado em Química Analítica, Instituto de Química, UFBA, Salvador, 111 p., 1999.
BAUMARD, P.; BUDZINSKY, H.; MICHON, Q. GARRIGUES, P.; BURGEOT, T.; BELLOCQ, J. Origin and Bioavailability of PAHs in the Mediterranean Sea from Mussel and Sediment Records. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 47: 77-90, 1998.
GEFFARD, O.; GEFFARD, A.; HIS, E.; BUDZINSKI, H. Marine Pollution Bulletin, 46: 481, 2003.
MARTINEZ, E.; GROS, M.; LACORTE, S.; BARCELÓ, D. Simplified procedures for the analysis of polycyclic aromatic hydrocarbons in water, sediments and mussels. Journal of Chromatography A, 1047: 181-188, 2004.
O’CONNOR, T. P.; BELIAFF, B. Recent trends in coastal environmental quality results from the Mussel Watch Project 1986-1993, NOAA NOS/ORCA 21, National Status and Trend Program, Maryland, 1995.