ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Triterpenos de Sambucus australis e Atividade Antioxidante de ácido ursólico

AUTORES: BIZERRA, A.M.C. (UFC) ; CAVALCANTI, F.S. (UFC) ; LEMOS, T.L.G. (UFC) ; FILHO, R.B. (UENF)

RESUMO: A atividade antioxidante de extratos de Sambucus australis e o seu componente majoritário o ácido ursólico, foram investigados através de suas atividades antioxidantes em vitro pelo método de seqüestro do radical DPPH. Uma alta atividade antioxidante foi identificada para os extratos etanólico e acetato de etila e ainda para o ácido ursólico. Foram isolados ainda, além do ácido ursólico, os triterpenos em forma de mistura: α,β-amirina e o palmitato de α,β-amirina. Esses resultados observados para a atividade antioxidante indicam que o ácido ursólico é um dos princípios ativos para a atividade de radicais hidroxila.

PALAVRAS CHAVES: sambucus australis, ácido ursólico, atividade antioxidante

INTRODUÇÃO: Sambucus australis Cham. & Schltdl é uma espécie pertencente à família Caprifoliaceae, sendo uma planta adaptada no estado do Ceará ocorrendo na Região Sudeste até o Rio Grande do Sul, no Brasil e no Paraguai, Argentina e Uruguai (SCOPEL, 2005). Ela é conhecida popularmente como sabugueiro, sabugueiro-do-reino, acapora, sabugo-negro, sabuguerinho, sabugueiro-do-brasil e sabugueiro-do-rio-grande. Trata-se de um arbusto muito ramificado ou uma arvoreta, de até 4,0m de altura, raramente mais e copa irregular, é bastante ramificada, com tronco tortuoso e casca fissurada, nativa do Sul da América do Sul, incluindo o Brasil (MATOS, 2002). Os capítulos florais (fig. X) desta espécie são comercializados em bancas de feira livre sendo usados na medicina popular na forma de infusão, como auxiliar dos efeitos provocados por doenças como: sarampo e catapora. Compostos que apresentam atividade antioxidante são aqueles que apresentam índice significante de captura de radicais livres. Nesse trabalho, a atividade antioxidante, foi testada pelo método de seqüestro do radical DPPH (1,1-difenil-2-picril-hidrazil), usando como padrões Trolox e Vitamina C, segundo metodologia ja conhecida. (Hegazi A.G, 2002; Usia T., 2002). O objetivo deste trabalho é relatar o isolamento de constituintes desta espécie, bem como reportar o grau de atividade antioxidante do extrato etanólico assim como dos compostos identificados.

MATERIAL E MÉTODOS: O material botânico para estudo foi coletado pela manhã no município de Guaramiranga, estado Ceará. Partes aéreas incluindo flores, talos e folhas de Sambucus australis foram coletadas (0,3kg) e em seguida submetidas à extração a frio exaustivamente com etanol e acetato de etila à temperatura ambiente. Após esse processo, obteve-se o extrato etanólico concentrado em uma quantidade de 3,9g, o qual recebeu a seguinte identificação EESA, e o extrato acetato de etila numa quantidade de 1,2g, o qual recebeu a identificação EASA. O extrato etanólico das partes aéreas foi submetido à sucessivas colunas filtrantes em sílica gel com solventes em ordem crescente de polaridade: hexano, clorofórmio, AcOEt e MeOH. A fração AcOEt foi recromatografada em sílica gel fornecendo uma substância que foi denominada SBG-1 (208 mg) que se apresentou como sólido branco, amorfo e solúvel em piridina (1), esta foi submetida à reação de acetilação para sua caracterização completa. O extrato acetato de etila também foi submetido à coluna filtrante com os mesmos solventes já citados e na mesma ordem de polaridade. A fração hexânica foi submetida à sucessivas colunas cromatográficas e a análise por CCD mostrou o isolamento de SBG-2 (358 mg), que se apresentou com aspecto resinoso, cor amarelo-pardo e solúvel em clorofórmio (2). O isolamento de SBG-03 (24mg), ocorreu através da fração clorofórmica. SBG-03 se apresentou como um sólido branco, amorfo e solúvel em clorofórmio. O extrato etanólico e acetato de etila de S. australis e a substâncias SBG-1 foram submetidos à teste de atividade antioxidante frente ao radical livre DPPH (1,1-difenil-2-picril-hidrazil), usando como padrões Trolox e Vitamina C. Os valores das absorbâncias foram mensurados à 517nm e a atividade antioxidante determinada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A substância SBG-1, um sólido branco amorfo apresentou faixa de fusão de 279°C-281°C. A análise dos dados espectrais de IV, RMN ¹H e ¹³C, HMBC, HMQC, pôde-se concluir a fórmula molecular do composto: C30H48O3, e ainda por comparação com dados da literatura (Albuquerque, 2002) possibilitou a sua identificação como sendo o triterpeno conhecido como ácido ursólico(fig. 1). O seu derivado acetilado foi caracterizado por técnicas espectrométricas de IV, RMN ¹H e ¹³C e mostrou bom rendimento reacional.
A substância identificada como SBG-02, apresentou-se com um aspecto resinoso, de cor amarelo e solúvel em clorofórmio. Este foi submetido às técnicas espectrométricas (IV, RMN ¹H e ¹³C, HMBC e HMQC)para a sua identificação. A sua análise levou a conclusão de que este composto trata-se de uma mistura de triterpenos com uma cadeia lateral de ácido palmítico localizada no carbono C-3, sendo um deles com o núcleo triterpenoidal ursano e o outro oleanano. O composto foi identificado como palmitato de α,β-amirina quando comparado à literatura (ASSUNÇÃO, 2004) (fig. 2). SBG-3 (24mg) se apresentou como um sólido branco, amorfo e solúvel em clorofórmio e com ponto de fusão de 169-172°C. Os dados espectroscópicos de IV, RMN ¹H e ¹³C obtidos e comparação com dados da literatura (ASSUNÇÃO, 2004) permitiram a sua identificação como sendo a mistura de triterpenos α,β-amirina.
Os extratos etanólico e acetato, e ainda o ácido ursólico, ao serem submetidos ao teste de atividade antioxidante apresentaram índice de inibição do radical DPPH em termos de IC50 de 3.2x10-1 (92,6%), 1.8x10-1 (63%) e 1,1x10-1 (91%) respectivamente na concentração de 1μg/mL.





CONCLUSÕES: Do estudo fitoquímico de S. australis pôde-se isolar e identificar o seu constituinte majoritário como sendo o ácido ursólico, podendo este ser considerado o princípio ativo desta espécie, justificando o seu uso na medicina popular. Foram identificados ainda, as misturas triterpenoidais: α,β-amirina e palmitato de α,β-amirina. O extrato etanólico e acetato de etila e ácido ursólico apresentaram excelentes índices de atividade antioxidante pelo método de seqüestro do radical DPPH.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem aos órgãos financiadores CNPq, CAPES e FUNCAP pela assitência financeira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: SCOPEL, M.; Análise Botânica, Química e Biológica Comparativa entre Flores das espécies Sambucus nigra L. e Sambucus australis Cham & Schltdl e Avaliação preliminar da estabilidade – Dissertação de Mestrado, UFRS, Porto Alegre, 2005.
MATOS, F. J. A., LORENZI, H., Plantas Medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas, Instituto Plantarum, São Paulo, 2002.
HEGAZI A.G, Abd El Hady FK. Z Naturforsch, 2002; 57c:395.
USIA T., BANSKOTA A. H, TEZUKA Y., MIDORIKAWA K., MATSUSHIGE K., KADOKA S., J Nat Prod 2002; 65: 673
ALBUQUERQUE, I.L.; Contribuição ao Conhecimento Químico de Plantas do
Nordeste: Ocimum gratissimum Lineu (Labiatae) – Dissertação de Mestrado, Fortaleza, 2002.
ASSUNÇÃO, J.C.C.; Estudo Químico da Própolis do Ceará – Dissertação de Mestrado, Fortaleza, 2004