ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: TRIAGEM FITOQUÍMICA FOLIAR DE Bauhinia cheilantha (BONGARD) STEUDEL (PATA-DE-VACA)

AUTORES: SILVA, T.C.L. (UFPE) ; PEIXOTO SOBRINHO, T.J.S. (UFPE) ; GOMES, T.L.B (UFPE) ; CARDOSO, K.C.M. (UFPE) ; ALBUQUERQUE, U.P. (UFRPE) ; AMORIM, E.L.C. (UFPE)

RESUMO: O gênero Bauhinia possui espécies bem distribuídas no Brasil, onde destacamos B. cheilantha que apresenta importante uso medicinal. O objetivo deste trabalho é analisar o perfil fitoquímico do extrato foliar de B. cheilantha coletada em Caruaru, Agreste pernambucano, através de cromatografia em camada delgada com revelador específico. Como resultado, a espécie apresentou as seguintes classes de compostos: flavonóides, cumarinas, esteróides, lignanas, naftoquinonas, antraquinonas glicosídicas e agliconas, monoterpenos, sesquiterpenos, diterpenos e triterpenos, taninos e antocianinas. Não foram evidenciados alcalóides e saponinas. Os resultados obtidos estão de acordo com o que a literatura relata para o gênero, exceto para o grupo dos alcalóides.

PALAVRAS CHAVES: bauhinia cheilantha, pata-de-vaca e fitoquímica

INTRODUÇÃO: O Brasil é detentor de grande diversidade biológica com importantes famílias de plantas medicinais que despertam interesse econômico e são alvo de constantes pesquisas científicas no Brasil e no mundo (GOTTLIEB et al, 1998). Pertencente à família Caesalpiniaceae, o gênero Bauhinia possui aproximadamente 300 espécies bem distribuídas nos diversos biomas brasileiros, onde destacamos B. cheilantha (Bongard) Steudel (ALBUQUERQUE, 1997; SILVA & CECHINEL FILHO, 2002). Conhecida em comunidades rurais por mororó, o gênero Bauhinia apresenta importantes propriedades medicinais atribuídas pela população e pode ser encontrado na composição de diversos fitoterápicos industrializados ou comercializados em feiras livres (ALBUQUERQUE et al¸ 2005; MONTEIRO et al, 2006; MELO et al, 2004).
As principais atividades farmacológicas estudadas para o gênero foram: antidiabética (B. divaricata, B. candicans, B. monandra, B. variegata, B. forficata, B. cheilantha e B. megalandra); antimicrobiana (B. splendens, B. manca, B. rufescens e B. forficata); antiinflamatória (B. forficata e B. guianensis); e analgésica (B. splendens) (SILVA E CECHINEL FILHO, 2002). Muitos compostos já foram identificados no gênero, principalmente o grupo dos flavonóides, seguidos por terpenóides e esteróides (SILVA E CECHINEL FILHO, 2003). No entanto não há estudos que relatem os compostos de B. cheilantha.
O objetivo deste trabalho é realizar uma triagem fitoquímica, a partir do extrato foliar de B. cheilantha, coletada no município de Caruaru, Agreste Pernambucano, através de métodos de reação de complexação, saponificação e cromatografia em camada delgada.

MATERIAL E MÉTODOS: Foi realizado levantamento bibliográfico no Chemical Abstract, no Biological Abstract e em outros bancos de dados.
Para o estudo, as folhas de B. cheilantha foram coletadas na Estação Experimental de Caruaru, da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária, situado na Mesorregião do Agreste pernambucano (08º14’18,2”S e 35º54’57,1”) durante os meses de abril-setembro/2006 e a identificação foi realizada pelo Prof. Dr. Ulysses P. de Albuquerque, do Departamento de Botânica – UFRPE.
O material vegetal foi seco à temperatura ambiente, triturado e submetido à extração por solvente hidroalcoólico. Após evaporação do solvente por evaporador rotativo, os extratos foram submetidos a testes fitoquímicos. Esses testes foram baseados em reações de complexação e cromatografia em camada delgada.
A reação de complexação para taninos e fenóis foi realizada segundo MATOS (1997) e para saponinas, foi realizada a metodologia de saponificação (HARBORNE, 1984).
As cromatografias foram realizadas seguindo as metodologias descritas por WAGNER (1984 e 1996), HARBONE (1984) e MARKHAN (1982). Fazendo-se a caracterização dos metabólitos utilizando os sistemas de eluição e reveladores apropriados (Tabela 1).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Tabela 1 encontram-se os sistemas de eluição e reveladores utilizados na cromatografia em camada delgada com os respectivos resultados obtidos na análise.
A triagem fitoquímica baseada na metodologia de MATOS (1997) evidenciou a presença de fenóis e taninos, possivelmente do grupo dos taninos condensados, pela formação de precipitado escuro de tonalidade verde (flobafênicos). A reação de saponificação descrita por HARBORNE (1984) não confirmou a presença de saponinas, o que está de acordo com o levantamento realizado para o gênero.
Os cromatogramas revelaram a presença de compostos característicos do gênero Bauhinia, como flavonóides, taninos, antocinainas, esteróides, ácidos fenólicos, naftoquinonas, mono, sesqui, di e triterpenos (DUARTE-ALMEIDA et al, 2004; KUO et al, 1998; PIZZOLATTI et al, 2003; RAMADAN et al, 2005; REDDY et al, 2003; SILVA & CECHINEL FILHO, 2002; VIANA et al, 1999; YADAVA & TRIPATHI, 2000). Contrapondo à literatura, o teste realizado não identificou a presença de alcalóides, utilizou-se como padrão yoimbina e cafeína. Dois grupos de metabólitos não descritos anteriormente, lignanas e antraquinonas (agliconas e glicosídicas), foram encontrados no extrato foliar de Bauhinia cheilantha. Alguns cromatogramas podem ser vistos na figura 1.





CONCLUSÕES: Comparando-se os resultados com a literatura, observou-se uma discordância em relação aos alcalóides, já que este grupo foi mencionado para o gênero e no teste fitoquímico para a espécie o resultado foi negativo. Entretanto, também foram encontrados compostos que não foram citados em estudos anteriores, como lignanas e antraquinonas (agliconas e glicosídicas).
A relação entre o saber tradicional e o conhecimento cientifico possibilita que as plantas utilizadas pela população, sejam estudadas e possam ter sua eficácia comprovada, gerando benefícios econômicos e desenvolvimento científico.

AGRADECIMENTOS: À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao PIBIC/CNPq.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ALBUQUERQUE, U.P. 1997. Folhas Sagradas: as plantas litúrgicas e medicinais nos cultos afro-brasileiros. Recife: Ed. Universitária UFPE, 195p.

ALBUQUERQUE, U.P.; ANDRADE, L.H.C.; SILVA, A.C.O. 2005. Use of plant resources in a seasonal dry forest (Northeastern Brazil). Acta Botanica Brasilica, 19(1): 27-38.

DUARTE-ALMEIDA, J.M.; NEGRI, G.; SALATINO, A. 2004. Volatile oils in leaves of Bauhinia (Fabaceae-Caesalpinioideae). Biochemical Systematics and Ecology, 32: 747-753.

GOTTLIEB, O.R.; BORIN, M.R.M.B.; PAGOTTO, C.L.A.C.; ZOCHER, D.H.T. 1998. Biodiversidade: o enfoque interdisciplinar brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva, 3(2): 97-102.

HARBORNE, J.B. 1984. Phytochemical methods: A guide to modern techniques of plant analysis. London: Chapman and Hall, 278p.

KUO, Y-H.; YEH, M-H.; HUANG, S-L. 1998. A novel 6-Butyl-3-Hydroxyflvanone from heartwood of Bauhinia purpurea. Phytochemistry, 49(8):2529-2530.

MARKHAM, K.R. 1982. Techniques of flavonoid identification. London: Academic Press.

MATOS, F.J.A. 1997. Introdução a fitoquímica experimental. Fortaleza: Edições UFC, p: 45-64.

MELO, J.G.; NASCIMENTO, V.T.; AMORIM, E.L.C.; ANDRADE LIMA, C.S.; ALBUQUERQUE, U.P. 2004. Avaliação da qualidade de amostras comerciais de boldo (Peumus boldus Molina), pata-de-vaca (Bauhinia spp.) e ginco (Ginkgo biloba L.). Revista Brasileira de Farmacognosia, 14(2): 111-120.

MONTEIRO, J.M.; ALBUQUERQUE, U.P.; NETO, E.M.F.L.; ARAÚJO, E.L.; ALBUQUERQUE, M.M.; AMORIM, E.L.C. 2006. The effects of seasonal climate changes in the Caatinga on tannin levels in Myracrodruon urundeuva (Engl.) Fr. All. and Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan. Revista Brasileira de Farmacognosia, 16(3): 338-344.

PIZZOLATTI, M.G.; CUNHA JUNIOR, A.; SZPOGANICZ, B.; SOUZA, E.; BRAZ-FILHO, R.; SCHRIPSEMA, J. 2003. Flavonóides glicosilados das folhas e flores de Bauhinia monandra (Leguminosae). Química Nova, 26(4): 466-469.

RAMADAN, M.F.; SHARANABASAPPA, G.; SEETHARAM, Y.N.; SESHAGIRI, M.; MOERSEL, J.T. 2006. Characterization of fatty acids and bioactive compounds of kachnar (Bauhinia purpurea L.) seed oil. Food Chemistry, 98: 359-365.

REDDY, M.V.B.; REDDY, M.K.; GUNASEKAR, D.; CAUX, C.; BODO, B. 2003. A flavanone and a dihydrodibenzoxepin from Bauhinia variegata. Phytochemistry, 64: 79-882.

SILVA, R.L.; CECHINEL FILHO, V. 2002. Plantas do Gênero Bauhinia: Composição química e potencial farmacológico. Química Nova, 25(3): 449-454.

VIANA, E.P.; SANTA-ROSA, R.S.; ALMEIDA, S.S.M.S.; SANTOS, L.S. 1999. Constituents of the stem bark of Bauhinia guianensis. Fitoterapia, 70: 111-112.

WAGNER, H.; BLADT, S. 1996. Plant drug analysis: a thin layer chromatography atlas. 2ª ed. Berlim Heidelberg: Springer Verlag. 384p.

WAGNER, H.; BLADT, S.; ZGAINSKI, E.M. 1984. Plant drug analysis: a thin layer chromatography atlas. 1ª ed. Berlim: Springer Verlag. 320p.

YADAVA, R. N.; TRIPATHI, P. 2000. A novel flavone glycoside from the stem of Bauhinia purpurea. Fitoterapia, 71: 88-90.