ÁREA: Produtos Naturais
TÍTULO: Abordagem Fitoquímica e Avaliação da Atividade Larvicida e Nematecida de Astronium fraxinifolium Schott
AUTORES: COSTA, A. C. R. (UECE/FAEC) ; SILVA, A. L. R. (UECE/FAEC) ; SOUSA, C. R. (UECE/FAEC) ; NASCIMENTO, R. R. G (UFC)
RESUMO: Astronium fraxinifolium Schott é uma árvore pertencente à família Anacardiaceae conhecida popularmente como Gonçaleiro ou Gonçalo-Alves. Suas cascas são utilizadas para o tratamento de inflamações gástricas, vaginais e no tratamento de diarréias. O presente trabalho tem como objetivo determinar as principais classes de metabólitos secundários presentes nas cascas de Astronium fraxinifolium Shott por meio de uma abordagem fitoquímica preliminar e a realização de testes biológicos a fim de avaliar a toxicidade do extrato bruto da planta. Os resultados da abordagem fitoquímica coincidem com os dados da literatura para a família e a espécie. Nos testes biológicos o extrato bruto apresentou atividade positiva para larvas de Aedes aegypti e negativa para o nematóide Meloidogyne incognita.
PALAVRAS CHAVES: abordagem fitoquímica, toxicidade, astronium fraxinifolium schott
INTRODUÇÃO: A espécie Astronium fraxinifolium Schott é popularmente conhecida como Gonçaleiro ou Gonçalo-Alves, sendo uma árvore pertencente à família Anacardiaceae. Suas cascas são utilizadas na forma de decocto ou “água das cascas” para o tratamento de inflamações gástricas e vaginais (MATOS, 1989) e indicadas por Cruz (1982) no tratamento de diarréias e disenterias graças as suas propriedades adstringentes. Nas comunidades rurais de Crateús, além de suas propriedades medicinais serem extensivamente exploradas, tal espécie é utilizada na fabricação de carvão, assim como, na alvenaria de casas.
MATERIAL E MÉTODOS: 500g de cascas de Astronium fraxinifolium foram trituradas mecanicamente, secas a temperatura ambiente e posteriormente submetidas à extração exaustiva a frio com etanol. A solução resultante foi evaporada a temperatura ambiente, fornecendo 6,87g de material denominado EEAF (extrato etanólico de Astronium fraxinifolium).
A partir do EEAF, foram determinadas as características organolépticas e reações para grupamentos específicos dos princípios ativos das drogas vegetais, segundo a metodologia adaptada de MATOS (1997) e VIRTUOSO (2005). As características organolépticas do EEAF apresentaram-se de cor vermelho-marrom, aspecto resinoso seco e pH 4,5.
Para os ensaios biológicos foram selecionadas larvas Aedes aegypti no terceiro estágio de desenvolvimento, adquiridas no controle de endemias do município de Crateús-CE, seguindo a metodologia de PIMENTA (2006). As amostras do EEAF foram testadas em diferentes concentrações (50, 100 e 200 ppm), deixados em repouso por 24 horas a temperatura ambiente e luz natural. As larvas mortas foram contadas e calculadas a percentagem letal.
Para testar a toxicidade sobre o nematóide Meloidogyne incognita, foram utilizadas ootecas de Meloidogyne incognita extraídas das raízes de quiabeiro com o auxílio de um estereoscópio, e colocados em uma placa de Petri com água destilada para eclosão dos juvenis durante 24 horas. Após a eclosão, porções contendo 50mL e aproximadamente 100 destes juvenis (J2) foram adicionados em vidros nematológicos, nos quais foi acrescentado o EEAF diluído em uma solução aquosa de DMSO a 2% até completar o volume de 1mL. A concentração final do EEAF em solução foi de 1 g/L.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foi demonstrada a presença de taninos pirogálicos, esteróides, tritepernos, saponinas e flavonóides (leucoantocianidinas). Estes resultados coincidem com os da literatura para a espécie (CAMARA, 1995). Os resultados da abordagem fitoquímica do EEAF encontram-se reunidos no Tabela1.
A presença de flavonóides, terpenos e esteróides são esperados para as plantas da família Anacardiaceae (FERREIRA, 1998; CORREIA et al., 2006). De acordo com a literatura, o gênero Astronium é rico em substâncias tânicas, o que confirma os relatos de usos populares da “água das cascas” de Astronium fraxinifolium Schott para tratamento de inflamações gástricas e vaginais, tanto para uso interno quanto tópico. A presença de taninos pode ser aplicada a estes relatos já que são conhecidamente compostos com atividade anti-séptica, antimicrobiana, anti-hemorrágica, cicatrizante e antiinflamatória (PERES, 2007).
Com relação aos ensaios biológicos sobre Aedes aegypti, conforme resumido na Tabela 2, das concentrações utilizadas nos testes observou-se mortandade de 25% apenas nos extratos cuja concentração era de 200 ppm. De acordo com a literatura (DOLABELA, 1997), são considerados ativos extratos que apresentem concentração letal (DL50) menor que 1000 ppm. Portanto, consideramos o extrato de Astronium fraxinifolium Schott um larvicida potencialmente tóxico contra as larvas deste mosquito.
Para o nematóide Meloidogyne incognita, o EEAF na concentração de 1g/L não apresentou toxicidade sobre os Juvenis (J2) de Meloidogyne incognita, conforme mostra a Tabela 3.
CONCLUSÕES: A planta estudada foi identificada pelo Prof. Dr. Edson Nunes como Astronium fraxinifolium Schott, pertencente à família Anacardiaceae, onde uma exsicata encontra-se depositada no Herbário Prisco Bezerra do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Ceará sob o no. de registro 39786.
As principais classes de compostos determinadas através da abordagem fitoquímica do EEAF das cascas da planta foram taninos pirogálicos, esteróides, triterpenos, saponinas, resinas e flavonóides. O extrato hidroalcoólico revelou toxicidade positiva para larvas Aedes aegypti e negativo para o nematóide.
AGRADECIMENTOS: Ao CVT e a Secretária de Saúde do município de Crateús pelo suporte para realização do trabalho, a Francisca S. C. e o Dr. E. Nunes pela identificação botânica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CAMARA, C. A.G. DA; MELO, L. C.; DE NETO, M. L. P.; ANDRADE, A. S. Abordagem Fitoquímica da Casca do Caule de Astronium flaxinofolium. In: V Congresso de Iniciação Científica, 1995, Recife. Livro de Resumos do Congresso de Iniciação Científica da UFRPE, 1995.
CRUZ, G.L. Dicionário das plantas úteis no Brasil. 2º ed. Co-editada em Difusão Editorial. Rio de Janeiro, RJ. 1982.
CORREIA, S.J.; DAVID, J.P. DAVID, J.M. Metabólitos secundários de espécies de Anacardiaceae. Química nova. Vol.29, nº 6, p.1287-1300. 2006.
DOLABELA, M.E. Triagem in vitro para atividade antitumoral e anti T.cruzi de extratos vegetais, produtos naturais e substâncias sintéticas. 1987.198 f.(Ciências Farmacêuticas)- Faculdade de Farmácia- Universidade Federal de Minas Gerais-Minas Gerais,1987.
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MATOS, F.J. de Abreu. Plantas Medicinais. Guia de seleção e emprego de plantas medicinais do nordeste do Brasil. Vol.01. UFCE, Fortaleza, 1989.
MATOS, F.Jde Abreu. Introdução a fitoquímica experimental. 2º edição, Edições UFC, Fortaleza. 1997.
PERES, L.E.P. Metabolismo secundário. Escola superior de agricultura Luiz de Queiroz. Disponível em: http://www.esalq.com.br/metabolismosecundario.htm. Acesso em 27/ 03/2007.
VIRTUOSO, S. Estudo fitoquímico e biológico das cascas de Erythrin avelutina Willd.- Fabaceae (Leguminosae-Papilionoideae). 2005.124f. Dissertação (mestrado em Ciências Farmacêuticas) –Setor de ciências da Saúde- Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2005. Disponível em: http://www.dpace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/1931/1/COMPLETA_FINAL.pdf
