ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: Aspectos hidroquímicos de aquíferos regionais sob influência de intrusão de águas salobras do estuário Marajó (PA)

AUTORES: CALDAS,R. L. (UEPA) ; SANTOS, A. P. E. (UEPA) ; MORAES, G. L. (UEPA) ; BARROSO, D. F. R. (UEPA) ; PIRES, C. DA S. (UEPA) ; LIMA, W. N. DE (UEPA)

RESUMO: Com o objetivo de averiguar a intrusão de águas salobras na porção sul do estuário Marajó, foram realizadas campanhas de coleta em poços dos municípios de Ponta de Pedras e Muaná. Os métodos analíticos (comparador Hellige, titulação, espctrometria) foram desenvolvidos no laboratório de Hidroquímica da UFPA, segundo APHA,AWWA, WPCF (1995) e CETESB (1987). O tratamento dos resultados possibilitou o agrupamento das amostras em dois grupos: (I) relacionado aos baixos valores de condutividade elétrica e (II) com valores mais elevados de condutividade, resultados expressivos que configuram a contribuição do ambiente (áreas de várzea com invasões), além da necessidade de maior investimento do poder público na seleção de áreas propícias ao estabelecimento de poços para o consumo público.

PALAVRAS CHAVES: estuário marajó, intrusão, porção sul.

INTRODUÇÃO: Considerando os dados obtidos sobre intrusão de águas salobras do estuário Marajó em aquíferos do município de Ponta de Pedras (Piuci, 1978), situado na porção sul desse estuário, e levando em conta os resultados analíticos sobre intrusão dessas águas em Soure (porção norte) e na praia de Marahu (ilha de Mosqueiro), foram retomados estudos na porção sul, envolvendo os munícipios de Ponta de Pedras e Muaná. Foram considerados parâmentros ambientais tais como temperatura, cor, turbidez, pH, condutividade elétrica, oxigênio consumido, bem como as concentrações de cloreto, sulfato, bicarbonato, amônio e nitrato, na tentativa de averiguar prováveis associações com a citada intrusão, no período de estiagem, quando se manifesta a penetração de águas do oceano Atlântico no estuário marajoara.
O estudo dessa intrusão possibilita o "zoneamento" das áreas mais apropriadas para a instalação dos poços de abastecimento público nesses municípios, podendo contribuir com as tentativas de melhoramento no saneamento nessa região do estado do Pará onde os indíces de saneamento urbano são baixíssimos, além de diminuir a incidência de problemas de saúde pública relacionados ao consumo de água imprópria. Sabe-se, ainda, que durante o período de estiagem a influência do estuário carreia para o continente maiores taxas de cloreto e que no período de maior incidência de chuvas na região a lavagem do solo carreia para os aquíferos substâncias provenientes de decomposição, despejos de fossas instaladas nas áreas, etc, por se tratar de uma região de várzeas com moradias caracterizadas como de áreas de ivasões.

MATERIAL E MÉTODOS: O estuário Marajó se encontra inserido no trecho de coordenadas 00º38' a 01º35' de latitude Sul e 47º19' a 48º54' de longitude Oeste de Greenwich. Suas águas banham a região metropolitana de Belém (PA) e adjacências, influênciando diretamente na dinâmica sócio-ambiental e sócio-econômica das populações. O contexto geológico-sedimentar é caracterizado por áreas de terra firme, sob cotas topográficas mais elevadas, em geral, em torno de 14-16m, representadas por terrenos do grupo Barreiras; áreas de várzea, alagadas por marés semi-diurnas; e de igapó, permanentemente alagadas. Quanto aos métodos de procedimentos analíticos, podem ser, assim, resumidos; cor aparente, pelo comparador Hellige equipado com disco de cor; turbidez, pelo turbidímetro Hach; acidez, por titulação com NaOH 0,02N, na presença de fenolftaleína; oxigêncio consumido, por titulação com KMnO4 0,0125N; cloreto, por titulação com Hg(NO3)2 0,0141N, usando indicador misto de difenilcarbazona e azul de bromofenol; sulfato, por espctrometria de absorção no visível (absorciometria, turbidimetria), usando curva de calibração e medindo a turbidez de BaSO4; bicarbonato, por titulação com H2SO4 0,02N, na presença de alaranjado de metila; amônio por espectrometria de avbsorção no visível, assim como o nitrato e o ferro, usando curva de calibração e leitura de absorvância do complexo colorido. (APHA, AWWA, WPCF, 1995; CETESB, 1978).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Com os dados disponíveis, foi possível formar dois grupos de amostras: um (I), relacionado a baixos valores de condutividade elétrica, que vai de 16µS cm-1 (poço tubular,bem instalado, situado em Muaná, e destinado à distribuição de água subterrânea para consumo público) a 53µS cm-1 (poço escavado, tipo amazonas, situado em Ponta de Pedras, às proximidades de áreas de várzea, altamente vulnerável); e outro grupo (II), relacionado com leituras mais elevadas de condutividade, que vai de 83,2µS cm-1 (poço tubular aparentemente bem instalado, porém às proximidades de influência de marés em Ponta de Pedras) a 123µS cm-1 (poço tubular instalado em área altamente vulnerável à contaminação antrópica [despejo de fossas] e situado em área de várzea, em Muaná) e, ainda, a 125µS cm-1 (poço tubular destinado ao consumo público em Soure). Aparentemente as baixas concentrações de cloreto para o primeiro grupo de amostras (máxima de 4,5mg L-1) não estão associadas à intrusão de águas salobras advindas do estuário; alguns resultados associam-se com influências antrópicas, notadamente às relacionadas à infiltração de despejos de fossas negras e áreas de várzea; tais situações dizem respeito às concentrações mais elevadas de amônio (máxima de 6mg L-1) e nitrato (máxima de 42mg L-1). Por sua vez as amostras do grupo (II) sob condutividade acima de 80µS cm-1, apresentam concentrações mais elevadas de cloreto, compatíveis com a intrusão de águas salobras em três poços de Ponta de Pedras e três em Soure; com efeito as concentrações de cloreto cobrem o intervalo de 16,9 a 31 mg L-1, correspondente às condutividdes de 83,2 e 125µS cm-1, respectivamente. Quanto ao poço situado em terreno de várzea, no Marahu, sua condutividade atinge praticamente 19000µS cm-1, caracterizando a maior intrusão.

CONCLUSÕES: Embora pouco pronunciada, em relação ao poço tubular de Marahu, a intrusão de águas salobras manifestada pelos demais poços em Ponta de Pedras e Soure monstam a necessidade de investimentos mais consistentes do poder público na seleção de áreas propícias à instalação de poços tubulares para captação de água subterrânea para consumo público, além de maiores investimentos na área saneamento urbano e abastecimento de água, em municípios da região sob influência do estuário Marajó, afim de previnir problemas de saúde pública ocasionados pelo consumo de águas impróprias, algo comum na região.

AGRADECIMENTOS: Ao CNPq pelo auxílio à bolsa de Iniciação Científica Pibic/UEPA. aos colegas do curso de Engeharia Ambiental-UEPA e ao pessoal do Lab. de Hidroquímica da UFPA.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: APHA, AWWA, WPCF (1995) Standard methods for the examination of water and wasterwater. American Public Health Association e outras instituições, Washington, D. C.

CETESB (1978) Normatização técnica NT-07, análise fisíco-química das águas. Companhia de Tecnologia e Saneamento Básico (S. Paulo, SP).

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