ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DE VARIÁVEIS FÍSICO-QUÍMICAS AO LONGO DO ESTUÁRIO MARAJÓ (PA), SOB PERÍODOS SAZONAIS CONTRASTANTES

AUTORES: SANTOS, A.P.E. (UEPA) ; CALDAS, R.L. (UEPA) ; BARROSO, D.F.R. (UEPA) ; SIQUEIRA, G.W. (UEPA) ; LIMA, W.N. (UEPA) ; FONSECA, A.V.G. (UEPA)

RESUMO: O presente trabalho objetivou a avaliação ambiental do estuário Marajó -PA, a partir de uma distribuição espaço-temporal de variáveis ambientais físico-químicas (temperatura, cor, turbidez, transparência , pH, condutividade elétrica, salinidade, sólidos totais dissolvidos, oxigênio dissolvido e oxigênio consumido), levando-se em consideração períodos sazonais contrastantes, as marés semi-diurnas e locais de coleta menos expostos as influências antrópicas. É o Marajó um estuário singular, pois suas águas apresentam baixas salinidades.Aparentemente sofrendo certa influência antrópica de despejos da região metropolitana de Belém e adjacências, o estuário apresenta características de autodepuração, talvez graças à intensa dinâmica de suas águas, aos ciclos sazonais e outros efeitos associadoS

PALAVRAS CHAVES: estuário marajoara, variáveis físico-químicas e águas estuarinas

INTRODUÇÃO: O estuário Marajó (PA) caracteriza-se por apresentar águas de baixas salinidades, notadamente no periodo mais chuvoso, mesmo na porção norte, no canal estuarino em frente à cidade de Soure, com máximos registrados em torno de 2,8 (SANTOS et al., 2007; DIAS & LIMA 2003). Tais condições motivaram este estudo sobre uma distribuição espaço-temporal de variáveis ambientais físico-químicas, envolvendo períodos sazonais contrastantes, ressaltando-se valores máximos e mínimos registrados para temperatura, cor, turbidez, transparência , pH, condutividade elétrica, salinidade, sólidos totais dissolvidos, oxigênio dissolvido e oxigênio consumido. A interpretação dos resultados permite uma avaliação ambiental mais realista sobre esse estuário tão singular.

MATERIAL E MÉTODOS: Situada em área fisiográfica às proximidades da linha do Equador e densa cobertura vegetal resulta um clima quente e úmido compatível com temperaturas elevadas (média anual de 27°C) e índice pluviométrico apreciável (média anual de 2.500mm)(MARTORANO et al., 1993). Coerente com esse quadro, sua hidrografia é marcada por apreciável rede de drenagem, representada por rios de grande porte, entre os quais, o Guamá, Acará, Moju, Tocantins e o próprio Amazonas, e numeroso "furos" e igarapés (PENTEADO, 1968). Para este estudo, considerou-se trabalhos de coleta realizados ao longo do estuário, desde a porção norte, aparentemente sob maior contato com águas do oceano Atlântico, à porção sul, onde se concentra, provavelmente, maior distribuição de águas fluviais. Evitou-se, tanto quanto possível, influências antrópicas; para tanto, as amostras foram coletadas ao longo dos canais estuarinos, onde se manifestam atividades de pesca artesanal, em frente à cidade de Soure (na porção norte), à baía do Sol (em frente a Colares), à praia do Marahu (ilha do Mosqueiro), à ilha de Tatuóca, à foz do rio Maguari (em frente à vila de Icoaraci), à foz do rio Guamá (em frente à Belém) e na porção sul do estuário, às proximidades da cidade de Ponta de Pedras. A temperatura, a condutividade elétrica, a salinidade e os STD foram avaliados por medidas eletrométricas; a transparência pelo disco de Secchi; o oxigênio consumido por titulação iodométrica; o pH em potenciômetros WTW ou Hanna e oxigênio dissolvido em oxímetros de campo, bem como em laboratório por procedimento químico. Foram efetuadas leituras de cor aparente e turbidez; o material particulado em suspensão por filtração em mebrana Millipore e pesagem em balança analítica (APHA, AWWA, WPCF, 1995; STRICKLAND & PARSONS, 1972).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Obtiveram-se valores máximos para cor aparente - 240UC, turbidez - 80UNT e MPS -580mg/L, no período mais chuvoso (dezembro a junho); por outro lado, coerentes com a localização mais próxima do oceano Atlântico, as maiores leituras para transparência – 4m, pH - 8,14, condutância - 14.800µs/cm, salinidade - 8,6 e STD - 8.315mg/L, aparecem na estiagem (julho a dezembro), mais pronunciada no canal de Soure. No estudo dos intervalos observados para as variáveis físico-químicas, é necessário levar em conta a dinâmica de marés semi-diurnas; deste modo, manifestam-se, no estuário, maior influência dos efeitos oriundos de transporte de material de drenagens continentais nos períodos de vazante até a maré mínima, tais como a coloração bege-castanha e elevada turbidez associadas à tipologia dos rios amazônicos segundo SIOLI (1967), e às concentrações mais elevadas de MPS durante o período mais chuvoso. Na estiagem, os efeitos físico-químicos de salinização fazem decrescer os valores de cor aparente, turbidez e MPS, na maré enchente às proximidades da preamar, em conformidade com as observações de GIBBS (1967). Coerente com o quimismo de águas fluviais, ricas em material húmico dissolvido, como as do rio Negro, segundo registro de espectros e quantificação de carbono orgânico dissolvido realizados por LEENHEER (1980), os ácidos orgânicos livres influenciam diretamente na acidez dessas águas, obtendo-se neste trabalho, valores de pH abaixo de 6,5 - período mais chuvoso. É o Marajó um estuário singular, pois suas águas apresentam baixas salinidades, com valores quase sempre abaixo de 0,5 no período mais chuvoso, com exceção do canal de Soure que pode alcançar até 2,8 (DIAS & LIMA, 2003). Por outro lado, na estiagem, registrou-se 8,6 de salinidade no mesmo canal (SANTOS, et al.,2007).

CONCLUSÕES: Aparentemente sofrendo certa influência antrópica de despejos da região metropolitana de Belém e adjacências, o estuário Marajó apresenta características de autodepuração, talvez graças à intensa dinâmica de suas águas, aos ciclos sazonais e outros efeitos associados, registrando-se, nesta distribuição espaço-temporal o mesmo comportamento, em consonância com as observações de campo manifestadas, notadamente, pelas atividades de subsistência das populações tradicionais com a captura do pescado, notadamente peixe e crustáceos.

AGRADECIMENTOS: Ao CNPq pela bolsa PIBIC/UEPA, aos colegas do curso de Engenharia Ambiental da UEPA nos trabalhos de campo e laboratório e ao pessoal do laboratório de hidroquí

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: • APHA, AWWA, WPCF. 1995. Standard methods for the examination of water and wastewater. American Public Health Association and Others, Washington, D. C.
• DIAS, J.C. & LIMA, W.N.Preliminary geochemistry outline about organic nutrientes and others enviromental parameters ins estuarine waters. International Conference Mangrove 2003 (Salvador, BA), UFBA, Livro de resumos & Abstract, p.257. 2003
• GIBBS, R.J. (1967) the Geochemistry of the Amazon River System. Geological Society of American, Bulletin 78 (10):1203-1232.
• LEENHEER, J. A. Origin and nature of humic substances in the waters of the Amazon River Basin. Acta Amazonica 10(3):513-526.1980.
• MARTORANO, L.G. et al. Estudo climátivo do estado do Pará. Classificação climática e deficiência hídrica. SUDAM/EMBRAPA. Belém, 1993.
• PENTEADO, A.R. Estudo da geografia urbana (2 vols). UFPA. Belém, 1968.
• SANTOS, A.P.E. & LIMA, W.N.; Indicadores geoambientais para o monitoramento de águas estuarinas e sedimentos associados à região metropolitana de Belém/PA. Belém, I Seminário de Iniciação Científica da UEPA, 2007.
• SIOLI, H. 1967. Amazonian Waters. Atas do simpósio sobre a biota amazônica (limnologia). CNPq, Museu paraense Emílio Goeldi .Belém, v.3, pp.3-43.
• STRICKLAND, J.D.H. & PARSONS, T.R. 1972. A practical handbook of seawater analysis. Bull.167. Fish. Res. Bd. Canada. 310p.