ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: Avaliação de área contaminada por chumbo na Fazenda Boa Esperança

AUTORES: BORGES,MCR; GOETZ,CM (UNUCET-UEG)

RESUMO: Em 1999 ocorreu a instalação de uma reciclagem de baterias na Fazenda Boa Esperança, Uberlândia-MG em cujo processo havia liberação de gases com elevada concentração de chumbo. Isso provocou a contaminação do solo, água, vegetação e casou morte de gado. Várias avaliações e algumas propostas para descontaminação foram realizadas na época. Este trabalho avalia as condições do terreno nove anos após, verifica a acidez do solo e as concentrações de chumbo no solo e na vegetação. Os resultados mostraram que o solo (pH=4) está muito mais ácido que o normal para o cerrado (torno de 5) e ainda que a concentração de chumbo no solo e nos vegetais de cobertura (entre 3,68 a 1151 mg/kg) continuam muito acima da aceitável (30 µg/kg) em via rural. Foi utilizada análise via úmida e leitura em AAS.

PALAVRAS CHAVES: metais pesados, espectrometria de absorção atômica, disponibilidade de chumbo no solo.

INTRODUÇÃO: O chumbo é um membro do Grupo XIV da tabela periódica e pode formar organoderivados tóxicos, como por exemplo, o Tetraetilchumbo, que é usado como um agente antidetonante na gasolina. A maioria dos sais de chumbo é insolúvel em água, com exceção do nitrato e acetato de chumbo. (MOORE, RAMAMOORTHY, 1977)
Naturalmente, o solo pode conter chumbo, mas as atividades exercidas pelo homem fazem com que o teor de chumbo seja elevado. Estes teores no solo podem variar, dependendo da região; onde se tem tráfego intenso e indústrias os teores são bem mais elevados que aqueles encontrados em áreas isoladas. O solo é considerado um dos depósitos principais de chumbo, pois ao alcançá-lo, permanece insolúvel, solubiliza, é adsorvido em matérias orgânicas coloidais, co-precipita como sesquióxido e pode ser complexado em presença de ligantes. O pH do solo influencia a mobilidade do metal, fazendo com que ele sofra modificações e forme compostos menos solúveis tornando-se assim menos disponível (MAVROUPOULOS, 1999).
O chumbo é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como elemento químico perigoso para a saúde humana. (BAISH, et al, 2003). Ele pode acumular no organismo e dependendo do nível e duração da exposição pode afetar vários sistemas orgânicos, sendo absorvido pelas vias: respiratória, oral e cutânea. (MAVROUPOLOUS, 1999)
Na Fazenda Boa Esperança, Uberlândia-MG, foi instalada uma usina de reciclagem de chumbo contido nas placas de baterias de veículos automotores e esta lançava ao ar uma fumaça branca com partículas de chumbo, que depois de um período de suspensão assentava-se sobre a superfície do solo, contaminando córregos, plantas nativas e solo superficial. (Ministério Público de Minas Gerais).


MATERIAL E MÉTODOS: Amostras de solo superficial e numa profundidade de 30 cm e amostras de vegetação de cobertura foram coletadas em 5(cinco) pontos georeferenciados, com GPS 2000 XL Magellan, na Fazenda Boa Esperança em Uberlândia – MG, um ponto onde estava instalado o forno da usina de reciclagem e dois pontos, direita e esquerda, norte e dois pontos, direita e esquerda, sul. Em laboratório as amostras de solo e vegetal foram preparadas para fazer extração via úmida. As amostras de solo foram secas em estufa a 80°C, por 3 horas; e depois passadas em peneiras (35 mesh) e armazenadas em frascos de polietileno.
As amostras de vegetal foram desidratadas em estufa aberta com sistema de prensagem, em temperatura de 40°C, por 7 dias. Moeu-se o vegetal no Moinho de Facas Tipo Croton Modelo MA – 580 e depois passadas em peneiras (10 mesh) e armazenadas em frascos de polietileno.
De acordo com RUIVO (2003), a melhor eficiência para a extração do Pb disponível foi extração simples com HNO3 1,0 mol/L. Esse método é conhecido como extração ácida. A 5 g de amostra de solo ou de vegetal foram adicionados 20mL de HNO3 1 mol/L. O sistema foi agitado por 5 minutos e deixado em repouso por 30 minutos. A solução depois de filtrada teve o volume completado para 50mL com HNO3 1 mol/L. Os extratos foram armazenados em frascos de vidro. A Leitura foi realizada em um Espectrofotômetro de Absorção Atômica marca PERKIM ELMER modelo A200 com lâmpada de cátodo oco.
Verificou-se a acidez do solo, seco e granulometria uniforme, em pHmetro Digital. A 10g do solo, foram adicionados 25 mL de solução de CaCl2 0,01 mol/L a mistura foi agitada e deixada em repouso por 30 minutos. Procedeu-se a leitura no pHmetro Digital PG 1800 Gehaka.
Todas as análises foram feitas em triplicata.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Em todas as amostras de solo e de vegetais foi encontrado teores de chumbo superior ao aceitável para o local (30 µg/kg em via rural), conforme CHASIN, PAOLIELLO; 2001. A concentração do chumbo no solo variou de 3,6 a 1151,3 mg/kg enquanto que nos vegetais variou de 13,2 a 61,0 mg/kg.
Pontos [Pb] mg/kg Pontos [Pb] mg/kg
1.1 8,3 3.V 19,9
1.2 3,6 4.1 31,6
1.V 56,5 4.2 9,8
2.1 1151,3 4.V 61
2.2 159 5.1 33,7
2.V 13,2 5.2 103
3.1 225,3 5.V 31,4
3.2 24,7
Valores médios da concentração de chumbo no solo superficial, 30cm de profundidade e no vegetal em mg/kg, nos pontos de coleta de 1 a 5.
O efeito de lixiviação foi encontrado em todos os cinco pontos de coleta de solo, principalmente no ponto 5 onde encontramos teor de chumbo muito maior na profundidade de 30 cm (103mg/kg), em relação ao ponto superficial (33,7mg/kg). Observou-se que o pH interfere diretamente na concentração de chumbo, pois nos pontos com elevada concentração de chumbo o pH é menos ácido, sendo o inverso também verdadeiro. Embora se saiba que o chumbo desativa o crescimento celular com conseqüente inibição do crescimento do vegetal (BOCCHIGLIERI, 2004), houve o crescimento do vegetal, embora fraco. As análises mostram a relação entre o pH do solo e as concentrações de chumbo no vegetal, nos pontos de solo mais ácido obteve maior concentração de chumbo no vegetal e menor no solo, como mostra a figura 1 e 2.
Portanto nos pontos de solo mais ácidos encontramos menor concentração de chumbo disponível e maior concentração de chumbo no vegetal, enquanto que o inverso também é verdadeiro, nos pontos de pH mais elevado, menos ácido encontramos maior concentração de chumbo no solo e menor no vegetal. O que nos faz pensar que se a acidez do solo for corrigida o vegetal absorverá menor concentração de chumbo.






CONCLUSÕES: Depois de nove anos da ocorrência da contaminação encontramos altas concentrações de chumbo no solo, o que nos demonstra sua periculosidade e persistência. Portanto o solo da Fazenda Boa Esperança necessita de medidas de descontaminação urgentes para evitar que os danos já causados às pessoas, animais e meio ambiente continuem acontecer. Medidas de remoção do solo são eficientes, embora caras e de grande impacto. A fitoremediação é possível já que nos vegetais de cobertura foi encontrado chumbo disponível, em maior concentração quando desenvolvidos em solos mais ácidos

AGRADECIMENTOS: Ao químico Sílvio Divino Carolina e ao Analista Francisco Fernandes Pinheiro do FUNMINERAL-Goiânia-GO pelas leituras no AAS.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BOCCHIGLEIRI, M.M., et al, Avaliação do Comportamento de Metais Pesados no Tratamento de Esgoto por Disposição no Solo. Eng. Sanitária Ambiental, Vol. 9, n° 3, Rio de Janeiro; Julho/Setembro 2004.
MAVOUPOULOS, Elena, A Hidroxiapatita como Absorverdor de Metais (Tese de Mestrado) Fundação Osvaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 1999, 105p.
MOORE, J.W.,RAMAMOORTHY, W., Heavy Metals in Natural Waters: Applied Monitoring and Impact Assessment. Ed. Springer-Verlag New York Ins, New York, cap. 6, 101p.
RUIVO, T. C., Determinação de Pb disponível em solo uranifero por Espectrometria de Absorção Atômica, Dissertação Mestrado, UFG - Goiânia, 2003.