ÁREA: Ambiental

TÍTULO: ABORDAGEM FÍSICO-QUÍMICA SOBRE A DINÂMICA DA INTRUSÃO SALINA EM ECOSSISTEMAS COSTEIROS AMAZÔNICOS (BAÍA DE MARACANÃ, NE DO PARÁ)

AUTORES: HOSHINO NETA, C. S. (UEPA) ; COSTA, F.F. (UFPA) ; OLIVEIRA, T. S. (UEPA) ; SANTOS, S. S. M. (UEPA) ; SANTOS, D.C. (UEPA) ; LIMA, W. N. DE (UEPA)

RESUMO: Trata esta abordagem da interpretação de parâmetros físico-químicos de águas superficiais sob efeitos da sazonalidade durante os processos de intrusão de águas do oceâno Atlântico no ambiente estuarino (baía de Maracanã, NE do Pará). Entre os resultados obtidos, observa-se estreita relação entre a coloração das águas e a matéria orgânica dissolvida, sendo muito provável a predominância de material húmico solúvel.

PALAVRAS CHAVES: baía de maracanã (pa); águas estuarinas; matéria orgânica

INTRODUÇÃO: O litoral paraense estende-se por cerca de 600km e apresenta numerosos ecossistemas formados por extensos manguezais e praias lamosas e arenosas com dunas. Ecossitema característico desse litoral, a baía de Maracanã oferece um ambiente produtivo, caracterizado pela ocorrência de clorofila-a associada a elevadas salinidades no período de estiagem (Costa, 2004). Este trabalho é uma contribuição ao levantamento de dados sobre a dinâmica da intrusão salina nesse ambiente aquático, cobrindo períodos sazonais contrastantes, desde a estiagem de 2002 ao chuvoso de 2008. Para tanto, foram procedidas leituras de temperatura, pH, cor , turbidez, material particulado em suspensão, sólidos totais dissolvidos e quantificação de matéria orgânica dissolvida, na tentativa de melhor entendimento dos processos físico-químicos envolvidos na dinâmica da intrusão salina.

MATERIAL E MÉTODOS: A baía de Maracanã é situada na mesorregião do Nordeste do estado do Pará. Foram consideradas leituras de variáveis ambientais tais como temperatura, pH, condutividade elétrica, salinidade e sólidos totais dissolvidos, mediante utilização de potenciômetro WTW para as medidas de pH e o condutivímetro Orion para os demais parâmetros. Foram coletadas amostras de águas estuarinas para quantificação do material particulado em suspensão e matéria orgânica particulada; totalizando 49 amostras, cobrindo períodos chuvoso (março e abril) e de estiagem (outubro, novembro e dezembro) de 2002 a 2008, considerando os efeitos de maré (máxima e mínima). Foram selecionados os pontos de coleta situados nos canais estuarinos em frente à pequena cidade de Maracanã, tanto quanto possível livre de influências antrópicas; na porção leste da baía, em frente ao vilarejo de Derrubada e às proximidades da vila de Penha, ao norte da baía, sob maior contato com oceâno Atlântico. Em laboratório ocorreram leituras de cor aparente (comparador Hellige) e turbidez (turbidímetro Hach) e foram confirmadas leituras de pH, condutividade elétrica, salinidade e sólidos totais dissolvidos (APHA, AWWA, WPCF, 1995; Strickland & Parsons, 1972). A quantificação de material particulado em suspensão foi efetuada mediante filtração em membrana Millipore de 0,45um de porosidade e 47mm de diâmetro e posterior secagem do material sólido e determinação gravimétrica em balança analítica, Mettler ou Sartorius. Para a determinação da matéria orgânica dissolvida, recorreu-se ao procedimento para a dosagem de carbono orgânico, mediante digestão com excesso de solução de dicromato em meio sulfúrico seguidad de titulação do excesso de oxidante por solução redutora de sal ferroso de acordo com Strickland & Parsons (1972).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os aportes continentais para águas estuarinas adjacentes a manguezais caracterizam-se por maior associação da coloração ao material húmico e extratos vegetais e a turbidez associada à matéria orgânica e inorgânica de sedimentos em suspensão (Thurman, 1986). Aparentemente relacionada com os demais parâmetros ambientais, conteúdos de matéria orgânica dissolvida, também sugerem a maior influência destes aportes. Leenheer (1980) observou estreita relação entre a coloração das águas do rio Negro com o teor de carbono orgânico dissolvido, registrando concentração de 12 mg L-1. No caso das águas estuarinas aqui consideradas há competição entre a matéria orgânica dissolvida e a matéria orgânica particulada (Costa et al., 2003; Costa, 2004). Quanto à influência de águas salinas no processo de intrusão, são marcantes as variações para o pH e a condutividade elétrica; de modo correspondente, aumenta a salinidade de 8,5 para 26,2 e o conteúdo de sólidos totais dissolvidos, de 8.840 a 27.160 mg L-1; demonstrando a riqueza do conteúdo eletrolítico de íons dominantes não avaliados individualmente neste estudo, mas em conjunto, através da leitura de sólidos totais dissolvidos. De fato, águas oceânicas apresentam valores mais elevados de pH (acima de 8 unidades), condutividade elétrica (acima de 45.000 S cm-1) e demais parâmetros associados, como a salinidade (acima de 30) e o conteúdo de sólidos totais dissolvidos – acima de 30.000 mg L-1 (Baird 1999; Faure, 1991; Chester, 1990). A ocorrência de plâncton nesse ambiente aquático, Costa et al. (2003) registrara concentrações elevadas para clorofila-a, máximos observados entre 23,45 e 46,68 ug L-1. A clorofila-a é representativa da ocorrência de fitoplâncton, e este diretamente relacionado a águas estuarinas preservadas (Chester, 1990).





CONCLUSÕES: A abordagem físico-química da dinâmica da intrusão salina em ecossistemas costerios, utilizando parâmetros como cor, turbidez, material particulado em suspensão, pH, condutividade elétrica, salinidade e sólidos totais dissolvidos, mostra-se eficiente na interpretação dessas variáveis com a sazonalidade e a dinâmica de marés. Observa-se estreita relação entre o conteúdo de matéria orgânica dissolvida com as leituras de cor aparente, e da turbidez com a concentração de material particulado em suspensão. A julgar pela discussão apresentada, domina nessa matéria orgânica o material húmico solúvel.

AGRADECIMENTOS: Agradecimentos à CAPES e à UEPA pelas bolsas (mestrado e Pibic) e à equipe dos laboratórios do Instituto de Geociências da UFPA pelo treinamento nas análises.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: APHA, AWWA, WPCF. 1995. Standard methods for the examination of water and wastewater. American Public Health Association and others, Washington, D. C. 1193p.

BAIRD, C. 1999. Química Ambiental. Artmed Ed., S. Paulo. 622p.

CHESTER, R. 1999. Marine geochemistry. Unwin Hyman. London. 698p.

COSTA, F,F. 2004. Avaliação geoquímica ambiental de área selecionada da bacia hidrográfica do rio Maracanã (Nordeste do Pará). UFPA, dissertação de mestrado (geoquímica). 143p.

COSTA, F,F.; DIAS, J. C. & LIMA, W. N. de. 2003. Distribuição de parâmetros ambientais físico-químicos, químicos e hidrobiológicos em áreas selecionadas da bacia hidrográfica do rio Maracanã (Nordeste do Pará). IX Congresso Brasileiro de Geoquímica (Belém, PA) Sociedade Brasileira de Geoquímica (Rio de Janeio, RJ), Resumos Expandidos. p. 456-459.

FAURE, G. 1991.. Principles and applications of Inorganic Geochemistry. McMillan, New York. 626p.

LEENHER, J. A. 1980. Origin and nature of humic substances in the waters of the Amazon River Basin. Acta Amazonica. 10(3):513-526.

STRICKLAND, J. D. H. & PARSONS, T.R. 1972. A pratical handbook of seawater analysis. Fish. Res. Board of Canada. Ottawa. 310p.

THURMAN, E.M. 1986. Organic geochemistry of natural waters (Developments in Biogeochemistry Series). Martinus Nijhoff/Dr. W. Junk, Publishers, Dordrecht. 497p.