ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Atividade seqüestradora de radical livre, teor de compostos fenólicos e Inibição da acetilcolinesterase de extratos de plantas medicinais das Farmácias Vivas

AUTORES: MORAIS, S.M. (UECE) ; SILVA, A.K.O. (UECE) ; LIMA, K.S.B. (UECE) ; CUNHA, N.R. (UECE) ; COSTA, S.M.O. (UECE) ; MENEZES, J.E.S.A. (UECE) ; MATOS, F.J.A. (UFC)

RESUMO: Os extratos etanólicos das folhas frescas de 18 plantas medicinais foram analisados quanto à atividade seqüestradora de radical livre DPPH, ação anticolinesterásica e teor de fenóis totais. As plantas selecionadas são comuns nas “Farmácias Vivas” que é um programa social de fitoterapia largamente utilizado no Nordeste do Brasil. Algumas espécies se destacaram apresentando bons resultados em todos os testes realizados: Croton zehntneri Pax et Hoff, Spondias mombin Jacq, Lippia Alba (Mill) Brown e Malpighia glabra L. Estes resultados vêm estimular a continuidade dos estudos para avaliar a ação antioxidante e anticolinesterásica de substâncias isoladas destas espécies.

PALAVRAS CHAVES: plantas medicinais, farmácias vivas, anticolinesterásica

INTRODUÇÃO: O uso de plantas medicinais é muito comum em todo o mundo. No Brasil muitas plantas são usadas em programas sociais e em serviços de saúde pública. “Farmácia viva” é um programa fitoterápico social criado pelo professor Matos, um farmacognosista da Universidade Federal do Ceará, Brasil. Ele relatou toda a informação popular sobre o uso medicinal e estudos etno-farmacológicos de plantas nativas e selecionou as mais promissoras em um jardim experimental para adaptação e preparação de amostras e auxiliar nas pesquisas científicas. No Nordeste brasileiro está presente uma enorme variedade de plantas e muitas para uso terapêutico. Muitas das doenças existentes são causadas por um excesso de radicais livres no organismo, como por exemplo, câncer, aterosclerose, reumatismo, problemas estomacais dentre outras, inclusive a doença de Alzheimer (DA). Esta é uma desordem neurodegenerativa caracterizada por perda das faculdades cognitivas superiores, manifestando-se inicialmente por alterações da memória episódica. Essa demência está associada à redução de neurotransmissores cerebrais como a acetilcolina. Acredita-se que a inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE) aumente a concentração de acetilcolina na sinapse, diminuindo ou retardando a progressão dos sintomas da doença. Estudos mostram que a peroxidação lipídica contribui para a progressão da doença e, portanto, impedir essa peroxidação através do uso de antioxidantes, pode ser uma terapia alternativa para o tratamento da DA.
Este trabalho visa relacionar a atividade seqüestradora do radical livre DPPH de 18 plantas do programa Farmácias vivas com teor de compostos fenólicos e a atividade contra a enzima acetilcolinestarase.


MATERIAL E MÉTODOS: As 18 espécies de plantas medicinais usadas nas “Farmácias vivas” foram coletadas no jardim de plantas medicinais da Universidade Federal do Ceará. As folhas frescas foram imersas em etanol e deixadas por 7 dias em uma sala de temperatura ambiente. Para cada grama de folha foi adicionado 10mL de solvente. Na atividade anti-adical livre, a mistura reacional foi feita em várias concentrações (10000, 5000, 1000, 500, 100, 50, 10) PPM e depois colocados 100µL da amostra em tubos de ensaio juntamente com 3.9mL da solução de DPPH na concentração de 6,5x10-5M. Após 60 minutos, a absorbância foi medida em um espectrofotômetro no comprimento de onda de 515nm, em seguida calculou-se o IV50 (índice de varredura) com auxílio do programa estatístico Origin 7.0. Foi utilizada quercetina como padrão [14]. A determinação quantitativa de compostos fenólicos foi feita através do método de Folin–Ciocalteu utilizado por Sousa et al (2007) [13], onde foi construída uma curva de calibração de ácido gálico diluído em metanol. Após 120 minutos, leituras foram feitas em espectrofotômetro no comprimento de onda de 750nm e os resultados expressos em mg de EAG (equivalentes de ácido gálico) por grama de extrato. No ensaio de inibição da acetilcolinesterase seguiu-se a metodologia de Elmann, adaptada por Rhee et al. (2001) [10], para cromatografia em camada delgada. Neste ensaio, utilizou-se a solução dos reagentes ácido 5,5-ditiobis-2- nitrobenzóico (DTNB), iodeto de acetilcolina (ATCI) em tampão e solução da enzima acetilcolinesterase. A cafeína foi utilizada como padrão positivo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A tabela 1 mostra os resultados da atividade antioxidante (IV50), o teor de compostos fenólicos e a inibição da acetilcolinesterase das plantas estudadas. As atividades antioxidantes foram consideradas satisfatórias, se comparadas ao padrão quercetina (IV50 = 0.23 mg/mL), principalmente das seguintes plantas: Croton zehntneri Pax et Hoff. (IV50= 0.29 mg/mL), Spondias mombin Jacq (IV50= 0.51 mg/mL), Lippia Alba (Mill) Brown (IV50= 0.54 mg/mL) e Malpighia glabra L. (IV50= 0.56 mg/mL).
As espécies que apresentaram a maior concentração de fenóis totais foram: Lippia microphylla Cham, Eugenia uniflora L., Mentha x villosa Huds, Ocimum selloi Benth e Ocimum gratissimum L.
Na inibição da acetilcolinesterase a atividade foi considerada satisfatória para as seguintes plantas: Cecropia pachystachia Trec.(0.7 cm), Croton zehntneri Pax et Hoff.(0.6 cm), Eugenia uniflora L.(0.5 cm), Lippia Alba (Mill) Brown (0.8 cm), Lippia microphylla Cham (0.7 cm), Malpighia glabra L.(0.7 cm), Ocimum gratissimum L. (0.7 cm), Phyllanthus amarus Sohum et Thorn. (0.6 cm), Plectranthus ornatus Cold.(1.0 cm) e Spondias mombin Jacq. (0.6 cm). O halo apresentado pelo padrão cafeína foi de 0.6 cm.
De acordo com a tabela pode-se observar que as espécies com melhor atividade antioxidante, possuem bons índices de compostos fenólicos, assim como demonstraram resultados positivos frente a inibição da enzima acetilcolinesterase.






CONCLUSÕES: As espécies que apresentaram bons resultados tanto como inibidores da AchE como antioxidantes constituem uma fonte para a descoberta de novos fármacos contra a doença de Alzheimer. Entre estas situam-se Spondias mombim, Lippia alba, Croton zehntneri e Malpighia glabra.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e à Fundação Cearense de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (

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