ÁREA: Materiais

TÍTULO: PREPARAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE MATERIAIS DE REFERÊNCIA ATRAVÉS DE ENSAIOS DE PROFICIÊNCIA: ESTUDO DE CASO DA REDE METROLÓGICA RS

AUTORES: RODRIGUES, T. (RMRS) ; ALBANO, F. (RMRS) ; SILVA, M. (RMRS)

RESUMO: A Metrologia Química é uma das principais áreas que está passando por uma evolução, principalmente no desenvolvimento de Materiais de Referência (MR) voltados para as principais e mais difundidas técnicas analíticas nos diversos setores industriais. Os MR são os pilares de sustentação da normalização metrológica em Química. Destaca-se que atualmente a demanda por MR excede a oferta em termos da variedade de materiais e disponibilidade. O presente artigo apresenta uma sistemática de preparação e certificação de MR através de ensaios de proficiência, estando embasado nas normas ISO GUIA 43, ISO GUIA 34 e ISO GUIDE 35.

PALAVRAS CHAVES: materiais de referência, ensaios de proficiência, qualidade

INTRODUÇÃO: Um MR possui um ou mais valores de propriedades, que são suficientemente homogêneos e bem estabelecidos, para ser utilizado na calibração de um aparelho, na avaliação de um método de medição ou atribuição de valores a materiais. Ele pode ser uma substância pura ou uma mistura, na forma de gás, líquido ou sólido (INMETRO).
Os MRs podem ser certificados através de Comparações Interlaboratoriais, por exemplo. De acordo com INMETRO (1995), um Material de Referência Certificado (MRC) deve ser acompanhado por um certificado, com um ou mais valores de propriedades. Este material é certificado por um procedimento que estabelece sua rastreabilidade à obtenção exata da unidade na quais os valores da propriedade são expressos, e cada valor certificado é acompanhado por uma incerteza para um nível de confiança estabelecido.
Segundo ISO (2004), a certificação de MRCs pode ser feita através de ensaios de proficiência por comparação interlaboratorial. Na certificação através de comparação interlaboratorial as amostras são preparadas e analisadas por diversos laboratórios.
Os MRC são acompanhados para verificar se os valores certificados sofrem degradação ao longo do tempo. Para tanto existem amostras controle, que são preparadas juntamente com o MR e armazenadas da mesma forma. Estes dados são informados ao laboratório quando houver uma degradação nos valores do MRC, que supere a suamargem de incerteza. De acordo com Albano e Rodriguez (2009), o acompanhamento das propriedades das amostras é caracterizado como sendo um teste de estabilidade.
O presente artigo apresenta uma sistemática de preparação e certificação de MR através de ensaios de proficiência pela RMRS.

MATERIAL E MÉTODOS: 1)Planejamento da preparação e do ensaio de proficiência: nesta etapa é planejada a preparação dos materiais de referência e sua certificação, que está diretamente vinculada com a rodada de um ensaio de proficiência.
2)Preparação de amostras: baseia-se na preparação de amostras que se tornarão MRC depois de passarem pela rodada interlaboratorial. Nesta etapa uma grande quantidade de amostra é dividida em frascos menores, que serão enviados aos laboratórios participantes da rodada de comparação.
3)Envio das amostras: consiste no envio das amostras preparadas, através da contratação de uma transportadora especializada, para os laboratórios que irão realizar as análises.
4)Armazenamento dos MR: nesta etapa, os MR (amostras que foram preparadas e não foram enviadas aos laboratórios participantes do ensaio de proficiência) são armazenados em local adequado, para posteriormente serem comercializados como MRC.
5)Testes de homogeneidade e estabilidade: esta etapa é fundamental para a garantia da qualidade do ensaio de proficiência e do MRC preparado. As amostras devem ser submetidas a testes de homogeneidade e estabilidade.
6)Avaliação dos dados do ensaio de proficiência: depois de concluir a rodada de comparação entre os laboratórios é emitido um relatório com o desempenho dos demais.
7)Certificação do material de referência: nesta etapa os dados do ensaio de proficiência são utilizados para certificar os materiais de referência. Nesta fase é utilizado como referência o ISO GUIDE 35, que estipula os procedimentos para designação de valor de referência e incerteza de medição.
8)Divulgação do material e sua caracterização: consiste na divulgação do material que foi certificado e de seus valores de referência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: A certificação dos MRC ocorreu com o apoio do laboratório de combustíveis da CIENTEC, que possui acreditação do INMETRO com base na NBR ISO/IEC 17025. O material preparado foi submetido a uma rodada de comparação com 8 laboratórios participantes. Depois do ensaio de proficiência e da aplicação dos testes de homogeneidade e estabilidade as amostras foram certificadas com valores de referência e incertezas de medição.
Na Figura 1 estão dos valores que foram certificados e suas respectivas incertezas de medição. Este MRC pode ser utilizado por laboratórios de análises de carvão para controle interno de qualidade, calibração de equipamento, verificação de treinamento de analistas, validação de métodos, entre outras aplicações.
Na Figura 2 estão os resultados das amostras que foram selecionadas ao longo do lote produzido para fazer os testes de homogeneidade (amostras de 1 a 5). Nos resultados das análises foi aplicado o teste da ANOVA, onde o valor de F foi menor do que o F crítico, indicando homogeneidade suficiente dos analitos. Desta maneira, percebe-se que o valor médio das amostras 1 a 5, na carta de controle abaixo, são muito próximos. Além disso, na mesma figura estão os dados de amostras de controle (1 e 2), que foram analisadas 5 meses depois da preparação dos MRC que se demonstraram estáveis, pois não se observou degradação nestes valores.





CONCLUSÕES: A preparação e certificação de materiais de referência é um tema de grande importância para o avanço da química no Brasil. Primeiramente, este fato se deve ao grande número de MRC importados que são utilizados no país, devido a falta destes produtos no mercado. Outra questão relevante é a importância de materias com valores exatos, com uma incerteza associada, que sejam preparados de acordo com normas internacionais como o ISO GUIA 34 e 35.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: ABNT NBR ISO 9001. Sistemas de gestão da qualidade – Requisitos. Rio de Janeiro. Brasil. 2008.

ABNT ISO/IEC Guia 43-1. Ensaios de Proficiência por Comparações interlaboratoriais – Parte 1: Desenvolvimento e Operação de Programas de Ensaios de Proficiência. Rio de Janeiro. Brasil. 1999

ABNT ISO/IEC Guia 43-2. Ensaios de Proficiência por Comparações Interlaboratoriais – Parte 2: Seleção e Uso de Programas de Ensaio de Proficiência por Organismos de Credenciamento de Laboratórios. Rio de Janeiro. Brasil. 1999

NBR ISO/IEC 17025. Requisitos Gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração. Rio de Janeiro. Brasil. 2005

ABNT ISO GUIA 34. Diretrizes do sistema de qualidade para produção de materiais de referência. Rio de Janeiro. Brasil. 2004.
ALBANO, F. RODRIGUEZ, M.T. Validação e garantia da Qualidade de Ensaios Laboratoriais. Rede Metrológica RS: Porto Alegre, 2009.
ISO GUIDE 35. Reference materials - General and statistical principles for certification. 2006.
INMETRO. Portaria nº 029 de 1995. Vocabulário internacional de termos fundamentais e gerais de metrologia (VIM). 5. ed. Rio de Janeiro. Senai/DN, 2007.