ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: História da Química: Instrumento facilitador da aprendizagem na licenciatura

AUTORES: PINHEIRO, MAURÍCIO FAÇANHA (IFRN) ; LIMA, FLÁVIO AUGUSTO FRANÇA DE (SEDUC-CE)

RESUMO: Ensinar e aprender Química sem conhecer sua origem é negligenciar a importância do conhecimento como construção humana. Ao se aprender História da Química simultaneamente à Química, o educando pode alcançar um melhor entendimento dos conteúdos ensinados. Devido à ausência de uma abordagem histórica no ensino tradicional, particularmente nas licenciaturas, muitos discentes concluem seu curso com inúmeras dúvidas conceituais. Na realização dessa pesquisa foram questionados 20 estudantes da Licenciatura e 10 professores que lecionam no curso. Investigar a importância da História da Química para a atividade docente foi um dos objetivos deste trabalho, além de demonstrar a viabilidade do uso da História da Química como fator facilitador de aprendizagem.

PALAVRAS CHAVES: história da ciência, ensino superior, aprendizagem

INTRODUÇÃO: Ensinar e aprender Química sem conhecer sua origem é negligenciar a importância do conhecimento como construção humana. Muitos dos que pesquisavam a Química (alguns na forma de Alquimia) também sentiram dificuldades para a obtenção de seu conhecimento, assim como hoje sentem os estudantes, tanto do ensino médio quanto licenciandos. Aqueles que ainda não detinham o título de cientistas, superaram inúmeros obstáculos para realizar sua aprendizagem e divulgar suas descobertas. A História da Química, como parte do conhecimento socialmente produzido, deve também permear todo o ensino de Química, possibilitando ao estudante a compreensão do processo de elaboração desse conhecimento, com seus avanços, erros e conflitos. (PCNEM, 1997. p.240)
Ao se aprender Química simultaneamente com a História da Química, o educando alcançaria um melhor entendimento dos conteúdos ensinados. Muitas vezes o conhecimento não é assimilado adequadamente, causando aos estudantes profundos danos, formando-se então “robôs” ao invés de pessoas inteligentes, quando o educando apenas memoriza a matéria que deveria aprender para a aplicação na vida prática.
A História da Química deve mostrar como os conteúdos surgiram, a maneira que se desenvolveram, como tais conhecimentos nos afetam hoje em dia. Sua importância é tamanha que o Ministério da Educação recomenda o conhecimento histórico de Química enquanto "instrumento da formação humana que amplia os horizontes culturais e a autonomia no exercício da cidadania, se o conhecimento químico for promovido como um dos meios de interpretar o mundo e intervir na realidade, se for apresentado como Ciência, com seus conceitos, métodos e linguagens próprios e como construção histórica, relacionada ao desenvolvimento tecnológico e aos muitos aspectos da vida".

MATERIAL E MÉTODOS: Foram questionados professores e estudantes durante um período de 21 dias, entre 6 e 27 de outubro deste ano, tendo como instrumento de pesquisa dois questionários semelhantes, para as duas categorias. Os primeiros em horários diversos, geralmente no intervalo posterior às aulas. Praticamente todos se propuseram a responder o questionário na intenção de colaborar, muitos foram responder em suas salas para uma melhor comodidade. Por parte dos docentes, não foram constatadas dúvidas a respeito do preenchimento do questionário cujo tempo de preenchimento foi em média de trinta minutos.
Os estudantes foram entrevistados simultaneamente durante uma aula da disciplina História da Química, lecionada pelo professor José Maria Barreto de Oliveira que gentilmente cedeu tempo para a aplicação do questionário. Realizada no dia 23, solicitou-se que fosse lido previamente para o esclarecimento de possíveis dúvidas. Algumas indagações foram feitas e esclarecidas. O tempo médio para responder foi em torno de quarenta minutos, havendo muito esforço por parte da maioria. Algumas pessoas tiveram certa indisposição em responder. Dos docentes pesquisados, 1 professor leciona prática de Ensino, 1 Química Geral e Inorgânica, 3 Química Orgânica, 2 Físico-Química e 3 Química Analítica. Da licenciatura, vinte estudantes foram consultados. Os questionários continham cinco alternativas com espaço para considerações e justificativas, sendo do tipo semi-aberto. As cinco questões abordavam perguntas como a História da Química constituir um recurso didático para despertar o interesse na aprendizagem científica e o ensino simultâneo a outros conteúdos para a facilitação da aprendizagem. Os resultados obtidos foram catalogados com o intuito de comparar as respostas entre estudantes e professores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Questionados se a História da Química pode ser um recurso didático para despertar o interesse na aprendizagem de Química, a maioria dos estudantes e a unanimidade dos professores consideraram motivador, independente do nível de escolaridade. Ao serem questionados se a aprendizagem é facilitada mediante o ensino da História da Química simultâneo aos conteúdos, a maioria dos professores (60%) respondeu afirmativamente. Entre os estudantes, uma quantidade ainda superior (85%) revelou uma expectativa maior, comparando aos docentes, que nem sempre concordam com esta idéia, alguns por acharem desnecessários tais comentários . Uma minoria dentre os estudantes consultados não utiliza tais conhecimentos históricos ou considera que é de pouca relevância em seus estudos por não encontrarem aplicação no próprio cotidiano. indagados se conhecimentos prévios de História da Química ajudariam na resolução de ocasionais dúvidas surgidas na aplicação de exercícios, no decorrer de aulas ou durante avaliações, as respostas indicaram que não é freqüente esse recurso nas disciplinas. Essa mesma opinião (algumas vezes) é compartilhada pelos professores e estudantes (ambos apresentaram 40%). A porcentagem dos questionados que não lembrou se isso já havia ocorrido, tanto docentes quanto discentes, foi elevada (30% nos dois casos), apontando uma certa indiferença quanto à utilização de informações históricas, principalmente pelos professores, cuja porcentagem dos que responderam nunca corresponde ao dobro da dos estudantes. Em relação ao surgimento de críticas científicas, muitos docentes (40%) afirmam que a História da Química sempre estimula críticas, em contrapartida, a maioria dos discentes (55%) declarou que depende do professor. Houve consenso entre os docentes quanto à melhor formação.

CONCLUSÕES: A História da Química, apesar de ser muito importante e enfatizada nos PCNEM, não tem a consideração merecida como recurso didático, pois ainda não é devidamente valorizada na licenciatura da UFC, visto que é pouco aproveitada pela comunidade acadêmica. Gerações anteriores de docentes foram bem preparadas em termos de conhecimentos técnicos, mas não para o ensino, revelando deficiências no uso de conhecimentos históricos, conforme hipótese levantada. Alguns docentes apresentaram contradições sobre o uso de História da Química no cotidiano.

AGRADECIMENTOS: À EMBRAPA Agroindústria Tropical, pela colaboração de pessoal, o uso de seus computadores e aos questionados, pelo belo tratamento interpessoal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. PCN+, Ensino Médio. Orientações complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, Secretaria de Educação Básica, 2002. CHASSOT, Attico. A Ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. (Polêmica).
GOLDFARB, Ana Maria Alfonso. Da Alquimia à Química. São Paulo, Nova Stella: Editora da Universidade de São Paulo, 1987.
MAAR, Juergen Heinrich. Pequena História da Química. Florianópolis: Papa-livro, 1999.