ÁREA: Química Analítica

TÍTULO: UROANÁLISES EM INTERNOS DA PENITENCIÁRIA MANOEL MARTINS LISBOA JÚNIOR, MURIAÉ-MG.

AUTORES: TEIXEIRA, SARA FONSECA (FAMINAS) ; PEREIRA, ALINE DE PAIVA (FAMINAS) ; GOUVEIA, MÔNICA IRANI (FAMINAS) ; BARBIÉRI, ROBERTO SANTOS (UNEC/FAMINAS) ; VIEIRA, CARLOS ALEXANDRE (ISED/INESP) ; AMORIM, WANDER LUIZ ALVES (FAMINAS/UNEC) ; ALVES, RODRIGO DA SILVA (ISED/INESP)

RESUMO: O exame de urina de rotina compõe-se, habitualmente, de 3 etapas: exame físico, exame químico e microscopia do sedimento, e a análise química dos seus constituintes bioquímicos, que pode ser feita pelo uso de tiras reativas, forma rápida, simples e econômica. Realizou-se um estudo pelo exame de urina de rotina ou EAS com 89 detentos da Penitenciária de Muriaé-MG. Este estudo sugere que o confinamento pode influenciar o funcionamento normal dos rins de uma parte dos detentos, por não permitir a hidratação e atividades físicas recomendas para a manutenção da saúde.

PALAVRAS CHAVES: uroanálise; urina; unidade prisional.

INTRODUÇÃO: A análise da urina foi o começo da medicina laboratorial. Referências ao estudo da urina foram encontradas em desenhos dos homens das cavernas e nos hieróglifos egípcios [1].
Os rins são órgãos fundamentais para a manutenção da homeostase do corpo humano. A doença renal crônica é, atualmente, considerada um problema de saúde pública mundial [2].
Um dos principais exames que auxiliam na orientação terapêutica das infecções do trato urinário é o exame de urina tipo I, o qual, quando realizado corretamente, permite um diagnóstico preciso [3]. No exame de urina simples várias propriedades podem ser avaliadas: coloração, odor, turvação, densidade específica, pH e presença de glicose, cetonas, sangue, proteína, bilirrubina, urobilinogênio, nitrito, esterase leucocitária e sedimentos urinários, sendo relevantes para o rastreamento de infecção a presença de leucócitos, hemácias, glicose, cristais, cilindros, bactérias e nitritos. O aumento do número de leucócitos e a presença de nitritos ou hemácias são indicativos de provável infecção [4].
A mulher está mais susceptível a contrair infecção no trato urinário, pois a uretra é mais curta, com isso é maior a proximidade do ânus com o vestíbulo vaginal e uretra. No homem, é maior o comprimento uretral e o fluxo urinário, associado à secreção do fator antibacteriano prostático, constituem fatores protetores contra agentes agressores do trato urinário [5].
As condições de confinamento em que se encontram as pessoas privadas de liberdade são determinantes para o bem-estar físico e psíquico. Nos estabelecimentos prisionais, as pessoas podem chegar com problemas de saúde, vícios, bem como transtornos mentais, que são gradualmente agravados pela precariedade das condições de moradia, alimentação e saúde das unidades [6].

MATERIAL E MÉTODOS: A proposta da pesquisa era a da realização de exames de urina de rotina - EAS - em todos os detentos (homens e mulheres) da Unidade Prisional de Muriaé, MG e emissão de laudos para eventuais tratamentos médicos. Para tal, foram distribuídos 150 coletores descartáveis de urina, dos quais 89 retornaram com amostras aptas à realização dos exames.
Seguiu-se a metodologia tradicional para a realização de EAS, na qual a urina deve ser colhida na primeira micção da manhã, que é a urina adequada para ser submetida ao exame, por ser a mais concentrada. Transferiram-se 10 mL da urina para um tubo de ensaio cônico onde se procedeu à observação dos caracteres físicos da urina; passou-se a tira reativa para proceder ao exame químico; logo após, centrifugou-se a 2.000 rpm por 5 minutos; desprezou-se o sobrenadante, deixando-se 1 mL do volume final; homogeneizou-se o sedimento e passou-se uma gota para lâmina de vidro, que foi observada ao microscópio ótico em aumentos de 10 e 40X conforme a necessidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Dos 150 coletores urinários distribuídos, 89 foram analisados, o que corresponde a 60% de adesão à pesquisa. Destes, 55 eram do sexo masculino e 34 do feminino, igual a 62% e 38% de adesão, respectivamente.
Todos os parâmetros componentes do EAS foram analisados. Destes, 8% apresentaram flora bacteriana aumentada, sendo 71% mulheres e 29% homens. Das mulheres, 60% apresentaram nitrito positivo e dos homens, 50%, que constitui prova útil para o diagnóstico precoce das infecções da bexiga (cistite).
Geralmente são encontrados menos de 5 leucócitos por campo de grande aumento na urina normal. O número elevado de piúria (leucócitos na urina) indica a presença de infecção ou inflamação no sistema urogenital [5].
É sabido que a presença de cristais na urina depende diretamente do pH e do regime dietético, dentre outros. Em urinas ácidas são encontrados cristais de urato amorfo, oxalato de cálcio e ácido úrico; já em urinas alcalinas, encontram-se, com maior frequência, cristais de fosfato amorfo e fosfato triplo, dentre outros.
Dos detentos que apresentaram urina em pH 5 e algum tipo de cristal, todas as mulheres apresentaram cristais de oxalato de cálcio, enquanto todos os homens apresentaram cristais de urato amorfo. Em relação ao pH 6, 33% das mulheres apresentaram somente cristais de urato amorfo, enquanto 50% dos homens também apresentaram este cristal.
Ainda, em relação à presença associada de cristais de oxalato de cálcio e urato amorfo, observou-se que as mulheres apresentaram maior percentual de positividade (67%), enquanto para os homens, este parâmetro foi de 50%. A incidência de cristalúria pode, em determinados casos, estar ligada ao aparecimento de cálculo renal [7], fato que justifica a realização do EAS.

CONCLUSÕES: É preciso reforçar a premissa de que as pessoas presas, por qualquer tipo de transgressão, mantêm todos os direitos fundamentais a que têm direito todas as pessoas humanas. Quando recolhidas, elas geralmente trazem problemas de saúde, vícios e transtornos mentais, que podem ser gradualmente agravados pela precariedade das condições de moradia, alimentação e saúde das unidades prisionais [8].
No presente estudo menos de 10% da população apresentou alguma alteração urinária, predizendo que as condições sanitárias a que estão submetidos os presos são satisfatórias, mesmo não sendo as ideais.

AGRADECIMENTOS: Aos presidiários que, confiante e generosamente, participaram da pesquisa e à direção da Penitenciária Manoel Martins Lisboa Junior, de Muriaé-MG.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: [1] COLOMBELI, Adriana Scotti da Silva; FALKENBERG, Miriam. Comparação de bulas de duas marcas de tiras reagentes utilizadas no exame químico de urina. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Rio de Janeiro, v. 42, n. 2, p. 85-93, abr. 2006.
[2] BASTOS, Marcus Gomes; BREGMAN, Rachel; KIRSZTAJN, Gianna Mastroianni. Doença renal crônica: frequente e grave, mas também prevenível e tratável. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 56, n. 2, 2010.
[3] CARVALHAL, Gustavo Franco; ROCHA, Luiz Carlos de Almeida; MONTI, Paulo Ricardo. Urocultura e exame comum de urina: considerações sobre sua coleta e interpretação. Revista da Associação Médica do Rio Grande do Sul, v. 50, n. 1, p. 59-62, jan./mar. 2006.
[4] FEITOSA, Danielle Cristina Alves; SILVA, Márcia Guimarães da; PARADA, Cristina Maria Garcia de Lima. Acurácia do exame de urina simples para diagnóstico de infecções do trato urinário em gestantes de baixo risco. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 17, n. 4, p. 507-513, jul./ago. 2009.
[5] MULLER, Erildo Vicente; SANTOS, Dayani Fernanda dos; CORRÊA, Nelton Anderson Bespalez. Prevalência de microrganismos em infecções do trato urinário de pacientes atendidos no laboratório de análises clínicas da Universidade Paranaense - Umuarama - PR. Revista Brasileira de Análises Clínicas, vol. 40, n.1, pág. 35-37, jan./mar. 2008.
[6] BRASIL. Ministério da Saúde. Plano nacional de saúde no sistema penitenciário. Brasília-DF, 2004.
[7] STRASINGER, Susan King. Uroanálise e fluidos biológicos. 3. ed. São Paulo, Premier, 2000.
[8] MOURA, Roberto de Almeida; WADA, Carlos S.; PURCHIO, Adhemar; ALMEIDA, Therezinha Verrastro de. Técnicas de laboratório. São Paulo. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2006.