ÁREA: Ambiental

TÍTULO: RESÍDUOS DE PESTICIDAS EM ÁGUAS SUPERFICIAIS, SUBTERRÂNEAS E PLUVIAIS EM ÁREA DE NASCENTE DO RIO SÃO LOURENÇO

AUTORES: POSSAVATZ, J. (UFMT) ; DORES, E.F.G.C. (UFMT) ; PINTO, A.A. (UFMT) ; NOGUEIRA, E.N. (UFMT) ; CAMPOS, E.M.B.L. (UFMT) ; CASARA, K.P. (UFMT)

RESUMO: A área em estudo está intensamente ocupada pela agricultura o que consequentemente a expõe à contaminação por pesticidas. Considerando os prejuízos que o uso intensificado desses compostos pode causar aos organismos vivos, este trabalho teve o intuito de avaliar, a concentração de resíduos de pesticidas em águas superficiais, subterrâneas e pluviais em uma área de nascente do Rio São Lourenço. O método de análise consistiu na pré-concentração por SPE (C18), eluição com acetato de etila, hexano: acetato de etila (7:3) e hexano, concentração e ajuste do volume final (1 mL). Os pesticidas foram identificados e quantificados por GC/EM-SIM. As maiores concentrações foram encontradas em água de chuva. Em águas superficiais e subterrâneas não ultrapassaram os limites estabelecidos em legislação.

PALAVRAS CHAVES: contaminação, distribuição ambiental, recursos hídricos.

INTRODUÇÃO: O rio São Lourenço banha os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nasce no município de Campo Verde - MT e deságua no Pantanal, sendo um dos principais afluentes da Bacia do rio Paraguai. A produção agrícola brasileira tem se destacado com números cada vez mais expressivos. Em vinte anos (1987 - 2007) somente o Estado de Mato Grosso teve um aumento na produção agrícola de mais de 650% (AMPA, 2009). O crescimento econômico do município de Campo Verde está acima da média nacional, uma vez que é o maior produtor de algodão em pluma do Brasil e grande produtor de sementes e grãos (PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO VERDE, 2010). Para manter a alta produtividade, o manejo dessas culturas requer elevada quantidade de insumos agrícolas, como os pesticidas que, quando aplicados podem sofrer diversos processos de dispersão e transporte, atingindo distintas matrizes ambientais, como os recursos hídricos. Diversos fatores tais como condições ambientais e manejo da cultura podem ser analisados em paralelo com as propriedades físico-químicas dos pesticidas visando conhecer a dinâmica desses compostos no ambiente e através desta relação utilizar métodos para diminuir a introdução de pesticidas nos sistemas hídricos. Dentre os processos que contribuem para a distribuição ambiental dos pesticidas há o escoamento superficial, a lixiviação e o transporte do pesticida na atmosfera. Em função da intensidade de uso na região, os pesticidas atrazina e seus metabólitos DIA e DEA, cipermetrina, clorpirifós, deltametrina, alfa e beta endossulfam, sulfato de endossulfam, malationa, parationa metílica, metolacloro, permetrina e trifluralina foram selecionados para este estudo que teve por objetivo avaliar a contaminação dos recursos hídricos por estas substâncias.

MATERIAL E MÉTODOS: Foram selecionados para estudo, nesta área de nascente, seis pontos de águas superficiais, cinco pontos de águas subterrâneas, dois pontos de água de chuva e um ponto de água de poço. As coletas foram mensais, no período de agosto de 2009 a maio de 2010, sendo coletado em cada ponto um litro (1L) de amostra, em frascos de vidro âmbar e transportadas para o laboratório em caixa térmica, onde foram armazenadas sob refrigeração (4ºC) até análise. As amostras foram analisadas em duplicata. Foram filtrados 500 mL de amostra de água em membrana de fibra de vidro. Em seguida ajustou-se o pH na faixa de 6,5 a 7,5. Montou-se um sistema de extração a vácuo composto de cartuchos, contendo 1 g da fase sólida C-18, que foram condicionados passando-se 10 mL de metanol e 10 mL de água deionizada. Após toda a água ter percolado pelo cartucho, estes foram centrifugados por 5 minutos para máxima retirada de água e, posteriormente foram eluídos com porções de 10 mL de acetato de etila, 10 mL hexano: acetato de etila (7:3) e 5 mL de hexano, recolhidos em balões formato de pêra previamente passando por um funil de contendo lã de vidro e 2 g de sulfato de sódio anidro. Adicionou-se mais 5 mL de hexano sobre o funil com sulfato de sódio para lavagem de possíveis resíduos que pudessem ter ficado retidos no mesmo. Então, foram adicionados 5 gotas de tolueno ao eluato recolhido no balão que foi concentrado em evaporador rotatório a 40°C sob uma pressão de 270 mbar e rotação de 90rpm, até quase a secura. O concentrado foi retomado com tolueno e transferido para um frasco de 1,5 mL que continha 100 uL de uma solução do padrão interno fenantreno deuterado a 1,024 ug mL-1. A identificação e quantificação dos pesticidas foi realizada por CG/EM-SIM.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foram detectados, em água superficial os princípios ativos (p.a) atrazina, flutriafol, sulfato de endossulfam e trifuralina (Tabela 1), sendo que o sulfato de endossulfam e a trifluralina apresentam propriedades físico-químicas (PPDB, 2008) que indicam a capacidade que um composto possui de estar ligado ou sorvido no solo, podendo assim ser carreado superficialmente atingindo as águas superficiais. O flutriafol foi detectado no ponto da nascente, este p.a é lixiável e bastante estável, fato que pode ter levado ao transporte em subsuperfície chegando à área de surgência da água. Nos pontos mais a jusante, o processo de diluição do pesticida com o aumento do volume de água pode ter levado à redução da concentração até valores inferiores ao limite de detecção do método analítico. Em águas subterrâneas foram detectados atrazina, metolacloro, clorpirifós, beta-endosulfam, sulfato de endossulfam, flutriafol, permetrina e trifuralina (Tabela 1), devido à lixiviação no solo. A mobilidade e a estabilidade dos compostos (COHEN et al., 1995) e propriedades do solo, tais como macroporos o que favorece o fluxo preferencial (REICHENBERGER et al., 2002) comprovam a capacidade de lixiviação desses pesticidas. As maiores concentrações foram observadas em água de chuva (Tabela 1), onde se detectou atrazina, DIA, DEA, sulfato de endossulfam, beta-endossulfam, metolacloro, malationa e flutriafol. Ressalta-se que no mês de março a atrazina apareceu em concentração mais elevada em água de chuva e com maior frequencia em agua superficial o que comprova o processo de volatilização de pesticidas na atmosfera, vindo a ser uma via de contaminação de águas superficiais.



CONCLUSÕES: Ficou demonstrada a mobilidade dos pesticidas por escoamento superficial, lixiviação e volatilização, fatores determinantes na contaminação da matriz estudada. Isso indica que se devem conhecer melhor as propriedades dos compostos que são usados na agricultura, de modo a permitir boa avaliação do risco de contaminação, principalmente nessa região que compreende uma área de nascente degradada por atividade agrícola. Ressalta-se que a ocorrência simultânea de diferentes pesticidas pode ter efeitos não conhecidos e de longo prazo tanto para organismos aquáticos como para a saúde humana.

AGRADECIMENTOS: LARB-Laboratório de Análises de Resíduos de Biocidas.


FAPEMAT-Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AMPA - Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão (2009). Disponível em: www.ampa.com.br. Acessado em: 22 jun. 2010.

COHEN, S. Z.; WAUCHOPE, R. D.; KLEIN, A. W.; EADSFORTH, C. V.; GRANEY, R. 1995. Offsite transport of pesticides in water: Mathematical models of pesticide Leaching and runoff. Pure and Applied Chemistry, 67: 2109, 1995.

PPDB - The Pesticide Properties Database developed by the Agriculture & Environment Research Unit (AERU), University of Hertfordshire, funded by UK national sources and the EU-funded FOOTPRINT project (FP6-SSP-022704). Disponível em: <http://sitem.herts.ac.uk/aeru/footprint/en/index.htm>. Acesso em: 28 mai. 2010.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO VERDE. Disponível em:<http;//www.campoverde.mt.gov.br>. Acesso em: 22 jun. 2010.

REICHENBERGER, S.; AMELUNG, W.; LAABS, V.; PINTO, A.; TOTSCHE, K. U.; ZECH, W. 2002. Pesticide displacement along preferential flow pathways in a Brazilian Oxisol. Geoderma, 110: p. 63 - 86.