ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: UTILIZAÇÃO DE IMAGENS EM UMA AULA DE QUÍMICA COM ALUNOS SURDOS: CONTRIBUIÇÕES DE VÍDEOS EXPERIMENTAIS

AUTORES: MERCÊS, A.C. (IFRJ) ; SANT’ANNA, C.S.P. (IFRJ) ; SILVA E SOUZA, L.C.A. (IFRJ) ; MESSEDER, J.C. (IFRJ)

RESUMO: O presente trabalho consistiu na investigação do conhecimento adquirido por estudantes de uma escola especializada na educação de surdos na cidade do Rio de Janeiro, durante a abordagem do tema Ácidos e Bases, com utilização de vídeos experimentais. Tal prática pedagógica foi alicerçada nos recursos visuais com o apoio de uma professora de química que domina a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Observou-se que com a utilização de vídeos experimentais na educação de surdos, foi possível facilitar o processo de ensino e aprendizagem, verificando um grande envolvimento destes com os conhecimentos apresentados. Através da observação participante pode-se relatar que práticas pedagógicas centradas no sentido da “visão” geraram motivação e conseqüente envolvimento durante as aulas ministradas.

PALAVRAS CHAVES: ensino de química; educação de surdos; vídeos experimentais.

INTRODUÇÃO: A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) surgiu da interação entre pessoas, e devido à sua estrutura permite a expressão de qualquer significado decorrente da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano (QUADROS, 2004). A lei federal n° 10.436 de 24 de abril de 2002 reconhece a LIBRAS como língua de uso corrente e legítimo de uma grande parcela de surdos brasileiros, e regulamenta sua inserção nos currículos de Ensino Básico para surdos e nas escolas inclusivas (BRASIL, 2002). Diante disso, houve a inclusão de LIBRAS como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, de instituições de ensino, públicas e privadas (BRASIL, 2005). Com relação ao conhecimento científico principalmente aqueles abordados nas aulas de Química torna-se cada vez mais difícil para o surdo compreender estes conceitos uma vez que esta ciência ainda é nova para eles até porque poucas são as investigações realizadas para o ensino de tal ciência como também a falta de alguns sinais para transmissão de tal conhecimento (CAIXETA, 2007). Diante disso, surgem alguns questionamentos do tipo: Como ensinar Química para alunos surdos? Existem recursos que possam favorecer a compreensão destes conceitos? O processo de ensino-aprendizagem se dá de forma diferenciada com ou sem a utilização do intérprete? Mediante estes questionamentos, é que se encontram os objetivos desta pesquisa que consistiu em: investigar a importância de se utilizar aulas experimentais através de recursos visuais para alunos surdos nas aulas de Química e identificar as vantagens e desvantagens no processo de ensino-aprendizagem do conteúdo abordado no vídeo mediante um professor licenciado em Química e que domina a língua brasileira de sinais.

MATERIAL E MÉTODOS: Na tentativa de conferir ressignificado à prática pedagógica escolhida, investiu-se em práticas pedagógicas alicerçadas nos recursos visuais com o apoio de intérprete para o ensino de Química, pois segundo Kozlowski (2000): “a leitura labial é um processo muito complexo”. Este trabalho se caracteriza como uma pesquisa participante, pois consiste na participação real do pesquisador com o grupo pesquisado. Durante três meses, as alunas pesquisadoras visitaram um centro especializado na educação de surdos, o Instituto Nacional de Educação para os Surdos (INES) localizado na cidade do Rio de Janeiro, assistindo aulas de Química do Ensino Médio. Durante esse período, foi elaborado um planejamento de conteúdo com as estratégias desenvolvidas, com descrição das atividades, dos recursos didáticos e a da condução da dinâmica das aulas. As intervenções pedagógicas ocorreram dentro de uma sala de aula do INES, numa aula de Química da 3ª série do Ensino Médio com 8 alunos (todos surdos), mediadas pela professora da turma que domina a língua de sinais. A pesquisa se deu nas seguintes etapas: 1) foi constatado com a professora bilíngüe que o assunto acidez e basicidade já haviam sido abordados em aulas anteriores; 2) as alunas pesquisadoras ministraram uma aula experimental utilizando o vídeo produzido em trabalhos anteriores (RODRIGUES, 2009); 3) após a exibição do vídeo, os alunos foram avaliados oralmente sobre a relação entre o conteúdo abordado no vídeo e suas aulas teóricas sobre o assunto; 3) houve a aplicação de questionários específicos para os alunos, mediados pela professora; 4) após as intervenções em sala de aula, a professora da disciplina foi entrevistada (entrevista semi-estruturada), sobre as dificuldades encontradas para o ensino de Química através da LIBRAS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Foi exibido um vídeo onde o metal sódio reagia com água contendo gotas de fenolftaleína. Após a exibição, foi feito um questionamento aos alunos com perguntas sobre a ação do indicador. Pode-se observar um bom desempenho, com respostas do tipo: “A fenolftaleína é um indicador que fica vermelho em meio básico”. A utilização de vídeos experimentais despertou o interesse e a atenção dos alunos à Química, e pode auxiliar o docente na problematização dos conteúdos, gerando discussões necessárias à compreensão de fenômenos que dificilmente podem ser contemplados apenas com a LIBRAS. A interação professor-aluno no INES é considerável, por conta o domínio da professora com a LIBRAS, e pelo fato da turma ter poucos alunos, o que torna a aula mais dinâmica e interativa. Como exemplo, tem-se a pergunta direcionada à professora bilíngüe: Qual é a maior dificuldade em interpretar Química para alunos surdos? Verificou-se que as dificuldades para o ensino da Química através da língua de sinais estão na falta de alguns signos para abordagem dos conteúdos, visto pela fala: “A Química é uma ciência nova, e ainda há uma enorme carência de sinais específicos”. Essas questões apontam para a possibilidade de que o uso de recursos visuais melhore a compreensão dos alunos. Em relação à pergunta: Por que o interesse por LIBRAS? A professora respondeu que o aprendizado de deu por conta de sua inserção no INES. As poucas propostas educacionais desenvolvidas para o ensino de Química para alunos surdos não se mostram eficientes e encontra-se um grande número de sujeitos surdos que após anos de escolarização apresentam limitações para os conteúdos científicos. Tal problema foi trazido para uma aula em um curso de Licenciatura em Química, permitindo uma reflexão por parte desses futuros professores.

CONCLUSÕES: Os conceitos químicos são essencialmente simbólicos, com um sistema geral de signos, para os quais não existe correspondência na LIBRAS, tornando o aprendizado numa tarefa complexa. Verificou-se que a linguagem oral pode ser auxiliada pelo uso de imagens em movimento. Através da observação participante pode-se relatar que práticas pedagógicas centradas no sentido da “visão” geraram motivação e conseqüente envolvimento durante as aulas ministradas. A educação dos surdos tem se mostrado sempre como um assunto polêmico que requer cada vez mais a atenção de pesquisadores e estudiosos da Educação.

AGRADECIMENTOS: O grupo agradece à direção do INES, em particular à professora Cirlene Moreira Vasconcellos, e seus alunos por viabilizarem a realização da pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BRASIL : D.O.U. de 25.4.2002, Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10436.htm.
BRASIL: D.O.U.de 23.12.2005, Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm
CAIXETA, M. L. L. & MOL, G. S. Minha experiência no ensino de Química para surdos. In: 30ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. Águas de Lindóia/SP, 2007.
QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre: Atmed, 2004.
RODRIGUES, B. C., LAVANDIER, R. C., MESSEDER, J. C. Elaboração de vídeos com experimentos químicos: um suporte didático para professores do Ensino Médio. In: 32a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. Fortaleza/CE, 2009.