ÁREA: Ensino de Química

TÍTULO: A QUÍMICA DO QUADRO DE GIZ: UMA ABORDAGEM A PARTIR DA INSERÇÃO DA HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE QUÍMICA

AUTORES: PIRES NETO, JOÃO PESSOA (UFRPE) ; FARIAS, G.G (UEPB)

RESUMO: No campo do Ensino de Ciências Naturais é consenso na literatura especializada que práticas pedagógicas realizadas na perspectiva da História e Filosofia da Ciência - HFC fornecem subsidio para a melhoria do ensino de ciências. Este trabalho – estudo de caso – buscou validar a hipótese de que é imprescindível no processo ensino/aprendizagem das Ciências, nesse caso, de Química, a realização de prática pedagógica na perspectiva da HFC. O objetivo geral desta pesquisa consiste em analisar de que forma a HFC está inserida no curso de Licenciatura Plena em Química - LPQ da UEPB. O principal instrumento de coleta de dados utilizado nesta investigação foi através de entrevista semi-estruturada. Os resultados evidenciaram um ensino apoiado no “espontaneismo” no fazer pedagógico.

PALAVRAS CHAVES: formação de professores; ensino de química; história e filosofia da ciência.

INTRODUÇÃO: A abordagem do tema História e Filosofia da Ciência - HFC na Formação Inicial de Professores de Química tem sido cada vez mais evidenciada em produções acadêmicas tanto no Brasil quanto no exterior. A inserção da HFC na matriz curricular de cursos de formação de professor de Ciências Naturais poderá possibilitar um olhar diferenciado com viés na contextualização de aulas de Ciências Naturais, na produção de materiais didáticos e no fortalecimento no processo de formação do profissional e do cidadão. Neste trabalho encontram-se aportes para uma melhor Formação Inicial de Professores de Química na perspectiva da HFC.
No campo do Ensino de Ciências Naturais tem-se constatado que práticas pedagógicas realizadas na perspectiva da História e Filosofia da Ciência contribuem sobremaneira para a melhoria do ensino de ciências (REID e HODSON, 1993; BASTOS, 1998; PEDUZZI, 2001; MARTINS, 2006). Com isso, experimentam-se novas idéias pedagógicas para se compreender melhor os conteúdos apresentados, a partir da discussão em sala de aula acerca do desenvolvimento e da construção de conceitos científicos que, geralmente, não são mostrados nos livros-textos.
Martins (2006) alerta que essa abordagem no ensino de ciências não é algo fácil. Havendo muitas “armadilhas”, implicando dessa forma conhecimentos epistemológicos e historiográficos, evitando que o professor não passe uma visão errônea da história da ciência. Acrescentando que “[...] é impossível para uma pessoa, sozinha, conhecer profundamente toda a história das ciências – ou mesmo de uma das ciências” (p xxvii), para tanto será necessário um trabalho em equipe que possibilite em períodos longos, abordagens sobre sua aplicabilidade.

MATERIAL E MÉTODOS: Tratou-se de uma proposta metodológica de natureza teórica – empírica onde o processo de pesquisa ocorreu em dois níveis distintos: O primeiro, teórico – estudo exploratório - contendo os referenciais de analise do tema em questão, por tanto fundamentou teoricamente o trabalho. O segundo, ‘empírico’, que possibilitou a validação da hipótese de trabalho, frente ao aporte teórico.
Quanto ao procedimento metodológico, a pesquisa privilegiou o estudo de caso, aplicada a professores do Departamento de Química do curso de Licenciatura Plena em Química da UEPB, bem como análise documental do referido curso. A escolha do procedimento metodológico estudo de caso, justifica-se por se tratar de um método em que os aspectos qualitativos são mais evidenciados.
O instrumento de coleta de dados utilizado nesta investigação foi a entrevista semi-estruturada. Foram feitas gravações em áudio utilizando equipamento MP4 (Music Player) e em seguida, realizou-se a transcrição dos áudios obedecendo à fidedignidade da fala dos entrevistados. Realizou-se também uma análise em documentos institucionais como: PPP do curso em Licenciatura Plena em Química da UEPB; Matrizes Curriculares, da UEPB e de todas as IES do Estado da Paraíba que oferecem curso de graduação em Licenciatura em Química, bem como as Composições Curriculares de IES brasileiras escolhidos sob o critério da proporcionalidade regional.
O tratamento das entrevistas e das associações-livres será feito através da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 1977).

RESULTADOS E DISCUSSÃO: O Projeto Político Pedagógico do curso de licenciatura em Química da UEPB apresenta algumas abordagens de cunho histórico e filosófico, justificando a necessidade de uma bagagem formativa do licenciando em propiciar “o entendimento do processo histórico de construção do conhecimento no tocante a princípios, conceitos e teorias” (UEPB, 2007, p27), percebe-se a preocupação de uma formação com fundamentos epistemológicos, centrada em uma formação social.
Pó outro lado ao analisar o ementário da Licenciatura em Química da UEPB referente à inserção da HFC na matriz curricular, é uma incoerência entre o discurso textual e a proposta curricular, em outras palavras, no PPP (UEPB, 2007) há uma expectativa que o estudante tenha uma bagagem formativa pautada nas questões epistemológicas da ciência, em especial da Química e por outro lado não há suporte aparente no currículo.
Quando investigou se os docentes fazem relação dos conceitos fundamentais da Química com a HFC e para uma melhor compreensão pediu-se que citassem em quais momentos, percebe-se que 66,7% disseram que relacionam a HFC com a(s) disciplina(s) que ministra(m), porém ao pedir que exemplificasse diante dos conceitos fundamentais da Química, quais poderiam fazer relação com a HFC, obteve-se a teoria atômica representada nos 33,3% dos pesquisados, e outros conceitos como: Eletrólise e Teoria da Força Vital apareceram de forma fragmentada, no entanto os mais representativos foram os 44,4% que não souberam relacionar nenhum conceito fundamental da Química com a HFC.
Fica evidente a partir do exposto, um ensino “encapsulado”, por analogia, entende-se que precisa romper com essa cápsula para que seus efeitos efetivamente se tornem eficientes, caso contrário, pode-se ficar ad infinitum presos à Química do Quadro de Giz.

CONCLUSÕES: No espaço delimitado deste trabalho, concluiu-se que: a) a falta de bagagem formativa dos entrevistados no campo do ensino de ciências, especificamente de Química compromete significativamente o trato nas abordagens históricas e filosóficas no campo da ciência, predominando um ensino apoiado no “espontaneismo” favorecendo o improviso no fazer pedagógico; b) a falta de prioridade da UEPB bem como de outras IES, na inclusão nos currículos dos cursos de Licenciatura em Química que contemplem componentes curriculares com abordagens históricas e filosóficas no campo da ciência simultaneamente.

AGRADECIMENTOS: - Universidade Estadual da Paraíba
- Departamento de Química - UEPB
- Aos professores pesquisados do Departamento de Química - UEPB

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

BASTOS, F. História da Ciência e pesquisa em ensino de ciências: breves considerações. In: NADIR, R. (org). Questões atuais no ensino de ciências. São Paulo: Escrituras Editoras, 1998.

MARTINS, Roberto de Andrade. Introdução: A história das ciências e seus usos na educação. In: SILVA, Cibele Celestino. (org). Estudos de História e Filosofia das Ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo, SP. Ed. Livraria da Física, 2006.

PEDUZZI, L. O. Q. Sobre a utilização didática da História da Ciência. In: PIETROCOLA, M. (org) Ensino de física: conteúdo, metodologia e epistemologia numa concepção integradora. Ed. da UFSC, Florianópoles, 2001.

REID, D. V.; HODSON, D. Ciencia para todos en secundaria. Madrid: Narcea, 1993.

UEPB, Centro de Ciências e Tecnologia. Projeto Político Pedagógico da Licenciatura Plena em Química. Campina Grande, 2007. Documento digitado, 30 p.