ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: ANÁLISE FITOQUÍMICA PRELIMINAR DAS FOLHAS DE Licania humilis CHAM. & SCHLTDL.: UM ESTUDO QUIMIOSSISTEMÁTICO DA FAMÍLIA CHRYSOBALANACEAE

AUTORES: PALUDO, C.R. (UFMT) ; SILVA JUNIOR, E.A. (UFMT) ; NDIAYE, E.A (UFMT)

RESUMO: O Cerrado destaca-se por possuir grande variabilidade biológica. Nesse bioma pode ser encontrada a espécie Licania humilis. Essa árvore pertence à família Chrysobalanaceae cuja investigação quimiossistemática revela a predominância de metabólitos secundários como flavonóides, terpenóides, esteróides e taninos no metabolismo de suas espécies. De posse dessas informações, buscou-se realizar a análise fitoquímica preliminar das folhas de L. humilis, e com isso analisar a ligação química entre membros da família Chrysobalanaceae. O resultado observado foi a presença de fenóis, flavonóides, taninos, saponinas, esteróides, cumarinas, antranóis e resinas. Relacionando esse resultado com dados na literatura, conclui-se que existe uma semelhança química entre espécies da família Chrysobalanaceae.

PALAVRAS CHAVES: licania humilis, chrysobalanaceae, quimiossistemática

INTRODUÇÃO: Inserida no ecossistema Cerrado, está a Licania humilis Cham. & Schltdl., que é uma pequena árvore conhecida como marmelito-do-campo ou marmelinho-do-cerrado e pertencente à família Chrysobalanaceae. Os potenciais terapêuticos dessa família são utilizados na medicina popular em vários países, inclusive no Brasil. Porém, os constituintes químicos têm sido pouco investigados, e as pesquisas já feitas, apontam a presença de flavonóides, terpenóides (triterpenos e diterpenos), esteróides e taninos (CASTILHO et al., 2000).
A L. humilis despertou nosso interesse por ser pouco pesquisada, sendo citada na literatura apenas em trabalhos florísticos e fitossociológicos; ser amplamente distribuída na região do Vale do Araguaia; e por pertencer à família Chrysobalanaceae, a qual apresenta características químicas bastante interessantes e marcantes. Portanto, o trabalho objetivou caracterizar os metabólitos secundários presentes nas folhas e L. humilis, e com isso contribuir com a elucidação química da família Chrysobalanaceae.


MATERIAL E MÉTODOS: Folhas de Licania humilis foram coletadas no dia 23 de março de 2009, no Campus Universitário do Araguaia (CUA), às 8:00 horas da manhã (horário de Brasília), sob temperatura ambiente de 28°C. O peso fresco do material coletado foi de 5,6 kg. A espécie foi identificada pela professora Dra. Maryland Sanchez e a exsicata desta planta encontra-se depositada no Herbário do CUA sob número 03987.
Após a coleta, o material fresco foi colocado em estufa com circulação e renovação de ar (Tecnal - Te-394/3), sob temperatura de 37ºC, por um período de sete dias, até a completa secagem. Depois desse processo, as folhas secas foram picadas e trituradas até o estado de pó com ajuda de um multiprocessador ou cutter (Metvisa) e um liquidificador industrial (Poli®), obtendo-se 2,8 kg de material pulverizado.
Os ensaios, para caracterização dos diferentes constituintes da espécie, foram realizados no Laboratório de Química do CUA. Toda a abordagem fitoquímica clássica realizada com as folhas de L. humilis baseou-se nos ensaios descritos por Matos (1988), e envolveu a confecção de um extrato hidrofílico, usando para isso, 100 g do material botânico seco e pulverizado macerado com 700,0 mL de álcool etílico 70%. Também houve a preparação de um extrato lipofílico, em que 100,0 g de folhas secas e pulverizadas foram maceradas com 510,0 mL de clorofórmio. Os extratos foram submetidos à maceração por sete dias, sendo então, filtrados.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Houve a presença de fenóis no extrato hidroalcoólico e também no extrato clorofórmico, com detecção de taninos condensados e flavonóides. Fato que já era esperado, visto que essas classes de metabólitos secundários são característicos da família Chrysobalanaceae (CASTILHO et al., 2000). Um exemplo de flavonóides dessa família são os derivados de miricetina, que foram isolados das espécies Chrysobalanus icaco Lin. (BARBOSA et al., 2006) e Licania carii Cardozo (BILIA et al., 1996)
O teste para detecção de cumarinas foi positivo para o extrato hidroalcoólico após hidrólise ácida, acusando a presença de cumarinas livres ou de heterosídeos no extrato. Também após hidrólise ácida foi detectada a presença de antranóis nesse extrato.
Os terpenóides, principalmente diterpenos e triterpenos, são característicos da família Chrysobalanaceae (CASTILHO et al., 2000). Mesmo diante desse fato, o resultado para caracterização de triterpenos pentacíclicos foi negativa para os dois extratos, havendo resultados positivos para esteróides. Talvez, esse fato possa ser explicado devido interferências de fatores extrínsecos, que alteraram a produção desses metabólitos no período da coleta. Ou então, nessa espécie, a rota metabólica preferencial para ciclização do esqualeno é voltada para a produção de esteróides ao invés de triterpenóides pentacíclicos.
O ensaio para saponinas foi positivo para o extrato hidroalcoólico. Também nesse extrato, constatou-se a presença de resinas. Esse resultado indica que, apesar do teste para prospecção de triterpenóides pentacíclicos ter sido negativo, a espécie, provavelmente, produz outras classes de terpenóides, como os diterpenos, que são terpenos encontrados em resinas (COSTA, 1994) e característicos da família Chrysobalanaceae (CASTILHO et al., 2000).


CONCLUSÕES: O resultado da análise química preliminar forneceu dados sobre a existência de fenóis, taninos, flavonóides, esteróides, saponinas, cumarinas, antranóis e resinas nas folhas de Licania humilis. A pesquisa realizada reforçou a hipótese de que em uma família botânica, principalmente entre plantas de um mesmo gênero, há uma ligação química importante.

AGRADECIMENTOS: A Universidade Federal de Mato Grosso a ao CNPq pela bolsa concedida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: BARBOSA, W. L. R.; PERES, A.; GALLORI, S.; VINCIERI, F.F. Determination of myricetin derivatives in Chrysobalanus icaco L. (Chrysobalanaceae). Brazilian Journal of Pharmacognosy, 2006, 16: 333-337.

BILIA, A. R.; MENDEZ, J.; MORELLI, I. Phytochemical investigations of Licania genus. Flavonoids and triterpenoids from Licania carii. Pharmaceutica Acta Helvetiae, 1996, 71:191-197.

CASTILHO, R. O.; SOUZA, I., GUIMARÃES, Ú.P.; KAPLAN, M.A.C. A survey of chemistry and biological activities of Chrysobalanaceae. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 2000, 72:292-293.

COSTA, A. F. Farmacognosia. 5 ed., Lisboa: Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 1994, 791-849.

MATOS, F. J. A. Introdução à fitoquímica experimental. Fortaleza: EUFC, 1988, 15-66.