ÁREA: Produtos Naturais

TÍTULO: Composição volátil das folhas da Siparuna guianensis Aublet em função da fenologia e das variáveis meterorológicas no cerrado de Mato Grosso

AUTORES: VALENTINI, C. M. A. (IFMT) ; SILVA, L. E. (UFPR) ; MACIEL, E. N. (UFMT) ; FRANCESCHINI, E. (UFMT) ; SOUSA JR, P. T. (UFMT) ; DALL'OGLIO, E. L. (UFMT) ; COELHO,M. F. B. (UFERSA)

RESUMO: Esta pesquisa teve como objetivo descrever a composição volátil obtida por hidrodestilação de folhas frescas de Siparuna guianensis Aublet coletados no cerrado de Mato Grosso. A composição do extrato diclorometano do hidrolato foi determinada por GC-MS e a análise dos resultados mostrou que a espécie apresenta uma série de componentes voláteis de acordo com a sua fenologia e as condições meteorológicas locais. O melhor rendimento desses componentes foi obtido durante o período reprodutivo da espécie e o composto majoritário foi a siparunona.

PALAVRAS CHAVES: fitoquímica, cerrado, fenologia

INTRODUÇÃO: Siparuna guianensis Aublet pertencente à família Siparunaceae, é conhecida em Mato Grosso pelo nome de negramina. Neste Estado prepara-se o decocto de suas folhas para serem usados principalmente na forma de banho tópico para sintomas de sinusite, febre, reumatismo, enxaqueca, gripe, dores no corpo e “malina”, que é descrita como uma dor de cabeça causada pela exposição demasiada ao sol que provoca corrimento de sangue nasal (VALENTINI et al., 2010). Como a época em que uma espécie é coletada, associada a uma série de fatores inerentes aos locais onde a espécie se encontra é um dos fatores de maior importância no conteúdo e na quantidade da composição volátil, o objetivo deste estudo foi quantificar e identificar os principais compostos químicos da composição volátil extraídos de folhas de Siparuna guianensis numa área de Cerrado, no município de Cuiabá-MT, durante 12 meses, para averiguar a sua possível variação em função da fenologia da espécie e das variações climáticas do local.



MATERIAL E MÉTODOS: O hidrolato de folhas frescas da S. guianensis, coletadas mensalmente de novembro de 2007 a outubro de 2008, foi obtido da hidrodestilação com extrator do tipo Clevenger e particionado com diclorometano. O extrato foi analisado por CG/MS, usando um equipamento Shimadzu (QP 5050A) quadrupolo operando à 70eV. As análises de cromatografia gasosa foram efetuadas usando uma coluna capilar de sílica (DB-5). As temperaturas do forno e detector foram de 340°C e 350°C, respectivamente. O forno foi programado para efetuar o seguinte gradiente: 110°-140°C a 5°C/min, de 140-290 a 20°C/min e de 290 – 330 a 5°C/min. O gás Hélio foi empregado como gás de arraste. Os compostos foram identificados por comparação visual, tempo de retenção e por similaridade com compostos disponíveis na base de dados do equipamento e confirmados pela determinação do índice de Kováts. A fenologia da espécie seguiu os critérios de Founier e os dados meteorológicos cedidos pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), localizado a 1,4 Km do local de coleta das folhas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na Figura 1 são apresentadas as variações meteorológicas do local e as fenofases da S. guianensis durante os meses de coleta, e na Figura 2 o mês de maior rendimento de cada composto volátil encontrado nas amostras analisadas.
Em nível de variabilidade das classes de compostos em relação à composição volátil, 70% dos compostos identificados são sesquiterpenos. O melhor rendimento da composição volátil ocorreu no mês de julho de 2008, que, dentre os meses avaliados, foi o mais seco e com maior número de flores abertas.Vale ressaltar que essa foi a época de maior produção de compostos não terpênicos, e que estes possivelmente sejam os principais metabólitos responsáveis pela função ecológica de proteção das folhas contra a perda de água na época de estiagem. CATELLANI et al.(2006), avaliando a mesma espécie do presente estudo, em Viçosa-MG, observaram que no outono foram obtidos os maiores valores do teor de óleo essencial, ressaltando que nesse mês, para aquela região, ocorreu o menor índice de pluviosidade do ano pesquisado, e que nessa estação a espécie começou a emitir botões florais. Exceto para a amostra do mês de novembro de 2007, nos demais meses analisados, a siparunona, um sesquiterpeno oxigenado, foi o componente majoritário, com média mensal igual a 41,64 ± 12,68 (DP), e sua maior produção ocorreu no mês de junho de 2008, época seca, com as menores temperaturas máxima e mínima. Este composto foi identificado apenas no estudo de REBOUÇAS (1984) na região Amazônica, o que contaria os estudos de FISCHER et al. (2005), que inferiram que, no cerrado, os principais constituintes das folhas da S. guianensis seriam as metilcetonas e ácidos graxos, enquanto que na região norte, os componentes majoritários seriam os sesquiterpenos.






CONCLUSÕES: A espécie Siparuna guianensis apresenta em suas folhas variação do rendimento da composição volátil em função da sua fenologia e variações meteorológicas locais, sendo obtido melhor rendimento no período reprodutivo. Houve predominância de sesquiterpenos e o composto majoritário para os meses avaliados foi a siparunona. Para o local estudado, com o objetivo de um maior rendimento da composição volátil, devem-se evitar coletas de folhas no período vegetativo, que para o Cerrado de Mato Grosso compreende os meses de fevereiro e março.

AGRADECIMENTOS:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: CASTELLANI, D.C. ; CASALI, V. W. D.; SOUZA, A. L.; CECON, P. R.; CARDOSO, C. A.; MARQUES, V. B. Produção do óleo essencial em catuaba (Trichilia catigua A. Juss) e negramina (Siparuna guianensis Aubl.) em função da época de colheita. Rev. Bras. Pl. Med., 8: 62-5, 2006.

FISCHER, D.C.H. et al. Essential oils from fruits and leaves of Siparuna guianensis (Aubl.) Tulasne from Southeastern Brazil. Journal of Essential Oil Research, 17: 101-4, 2005.

REBOUÇAS, L.M.C. Terpenos de Siparuna guianensis: aldeídos via epoxidação de duplas terminais. 1984. 116 f. Dissertação (Mestrado em Química). Faculdade de Química da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.

VALENTINI, C. M. A.; RODRÍGUEZ-ORTÍZ, C. E.; COELHO, M.F.B . Siparuna guianensis Aublet (negramina): uma revisão. Rev. Bras. Pl. Med., 12: 96-104, 2010.