ÁREA: Química Tecnológica

TÍTULO: APLICABILIDADE DA TÉCNICA DE EXTRAÇÃO EM FASE SÓLIDA (SPE) PARA A QUANTIFICAÇÃO DE ÁCIDOS FENÓLICOS EM CACHAÇAS

AUTORES: ZACARONI, L. M. (UFLA) ; CARDOSO, M. G. (UFLA) ; SANTIAGO, W. D. (UFLA) ; ANJOS, J. P. (UFLA) ; MACHADO, A. M. R. (UFLA/CEFETMG) ; DUARTE, F. C. (UFLA)

RESUMO: A aguardente de cana é uma bebida fermento-destilada largamente consumida no país. Diante desse cenário cada vez mais competitivo da bebida, tem-se buscado cada vez mais formas alternativas para se agregar valor ao produto, sendo que o envelhecimento tem-se tornado uma prática comum entre os produtores da bebida. Nesse processo são incorporado diversos compostos à bebida, sendo os mais importantes os ácido e aldeídos fenólicos, taninos e flavonóides. Com base no exposto, no presente trabalho objetivou-se avaliar a técnica de extração em fase sólida (SPE) na quantificação dos ácidos fenólicos (ácidos gálico, siríngico e vanílico) presentes em cachaças envelhecidas. Os resultados obtidos mostraram diminuição na detecção desses compostos após a aplicação da técnica de SPE

PALAVRAS CHAVES: cachaça, ácidos fenólicos, spe.

INTRODUÇÃO: A produção anual da cachaça é de aproximadamente 1,5 bilhão de litros, tendo um total de 30 mil estabelecimentos produtores, gerando mais de 450 mil empregos diretos e indiretos. Isso a coloca como a segunda bebida mais consumida no país e a terceira mais consumida no mundo (Apex Brasil, 2008).
O envelhecimento é uma etapa do processo de produção da aguardente de cana, que pode ou não ser inserido após a produção. Essa prática tem se tornado uma grande fonte para agregar valor ao produto, pois incorpora à bebida diversos compostos oriundos da madeira, melhorando sensorialmente sua qualidade. Os compostos responsáveis pelo gosto, aroma, sabor e flavor da aguardente de cana envelhecida são ácidos, aldeídos, taninos, óleos voláteis e outros compostos classificados como compostos fenólicos de baixo peso molecular. Esses pertencem a uma classe de compostos que possuem pelo menos um anel aromático, no qual, pelo menos, um hidrogênio é substituído por um grupamento hidroxila (CARDOSO, 2006).
Os ácidos benzóicos possuem sete átomos de carbono (Ar-COOH) e são os ácidos fenólicos mais simples encontrados na natureza; caracterizam-se por apresentarem um anel benzênico, um grupamento carboxílico e um ou mais grupamentos hidroxila e/ou metóxila na molécula. São pesquisados por conferir propriedades antioxidantes tanto para os alimentos como para o organismo, sendo, por isso, indicados para o tratamento e prevenção do câncer, doenças cardiovasculares e outras doenças. Como exemplo citam-se os ácidos siríngico, vanílico e o gálico (SOARES, 2002).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi a avaliação da técnica de extração em fase sólida (SPE) na quantificação dos ácidos fenólicos (ácidos gálico, siríngico e vanílico) presentes em cachaças envelhecidas.


MATERIAL E MÉTODOS: Foram analisadas doze amostras de aguardente de cana envelhecidas em barris de carvalho, amburana, jequitibá, castanheira, louro-canela, bálsamo e jatobá, provenientes da região sul de Minas Gerais.
Os padrões empregados para análise foram ácidos gálico, siríngico e vanílico, todos adquiridos da Sigma–Aldrich. Todos os compostos químicos utilizados como solventes para cromatografia foram de grau analítico para HPLC: metanol (Merck) e ácido acético glacial (J.T. Baker) e água ultra pura obtida de um sistema Milli-Q.
Para a extração em fase sólida utilizou-se um cartucho C18-E (55 µm, 70A) de 500 mg/6mL. Inicialmente este foi condicionado com 5,0 mL de metanol, submetendo-o ao vácuo, com uma pressão de 20 KPa, sem tempo de secagem. Em seguida, passou-se pelo cartucho 5,0 mL de cada amostra, previamente acidificada com uma solução de ácido fosfórico (pH = 2), eluindo-a com 1 mL de metanol. Avaliou-se a presença desses compostos na amostra que foi eluída do cartucho, comparando-a com a amostra sem tratamento prévio (ZAMPERLINNI, 2000).
As amostras eluídas dos cartuchos e as amostras sem tratamento prévio foram caracterizadas e quantificadas por HPLC. As amostras foram eluídas utilizando-se como fase móvel H2O: Ácido acético (98:2% v/v) (Fase A) e Metanol: H2O: Ácido acético (70:28:2% v/v) (Fase B) de acordo com o gradiente: (25 min, 40% B; 43 min, 60% B; 50 min, 100% B; 55 min, 0% B; 60 min, 0% B). O comprimento de onda utilizado foi de 280 nm, o fluxo de 1,25 mL/min, volume de injeção de 20 µL e tempo de corrida de 60 min, realizada a uma temperatura de 40°C. A identificação dos compostos foi realizada por comparação do tempo de retenção das amostras em relação aos padrões e a quantificação feita por padronização externa.


RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os resultados obtidos para as amostras analisadas estão apresentados na Figura 1. Pode-se observar que as concentrações de ácidos gálico, vanílico e siríngico diminuíram quando foram comparadas as amostras sem tratamento prévio e as amostras eluídas do cartucho de SPE, com exceção da amostra 10 para o ácido siríngico. Estes resultados obtidos relacionam-se com a polaridade dos compostos. Como a fase estacionária utilizada foi uma coluna C18 de caráter apolar, essa teve maior afinidade pelas moléculas apolares, ficando assim, mais retidas. Por outro lado, como a característica da separação em fase reversa é a polaridade maior da fase móvel em relação à fase estacionária, nenhum analito foi arrastado pelo eluente utilizado (metanol) (LANÇAS, 2004). Como a aguardente de cana é considerada uma matriz complexa, o comportamento diferente observado para a amostra 10 em relação à análise de ácido siríngico, pode ser atribuído a possíveis interações entre o composto em estudo e outros presentes na bebida. Essas interações podem estar alterando a polaridade da molécula e, conseqüentemente, sua afinidade com a fase estacionária e/ou fase móvel.
Diversos trabalhos corroboram com os resultados obtidos, onde a quantificação dos ácidos fenólicos foi feita por HPLC (AQUINO, 2006). DIAS et al. (2002), quantificaram ácidos e aldeídos fenólicos em cahaças envelhecidas em diferentes madeiras observando a predominância de compostos como ácidos elágico e vanílico no carvalho; ácido vanílico e sinapaldeído em amburana; vanilina e ácido elágico no bálsamo; ácido gálico no jequitibá; coniferaldeído no jatobá e ácido siríngico e coniferaldeído no ipê.




CONCLUSÕES: A utilização da extração em fase sólida (SPE), como tratamento prévio para a quantificação dos ácidos benzóicos por HPLC, comparada à análise das amostras sem tratamento, mostraram-se diferentes, observando uma diminuição na detecção desses compostos após a aplicação da técnica.

AGRADECIMENTOS: FAPEMIG e CNPq

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: APEX Brasil. Agência de Promoção de Exportações e Investimentos. Disponível em: <http://www.apexbrasil.com.br/>. Acesso em: 15 set. 2008.

AQUINO, F.W.B.; RODRIGUES, S.; NASCIMENTO, R.F.; CASEMIRO, A.R.S. 2006. Simultaneous determination of agind markers in sugar cane spirits. Food Chemistry, London, 98: 569-574.

CARDOSO, M.G. Produção de aguardente de cana. 2.ed. Lavras: UFLA, 2006. 446p.

DIAS, S.M.B.C.; MAIA, A.B.R.A.; NELSON, D.L. 2002. Utilização de madeiras nativas no envelhecimento da cachaça de alambique. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, 23:46-51.

LANÇAS, F.M. Extração em fase sólida (SPE). São Carlos: RiMa, 2004. 96p.

SOARES, S.E. 2002. Ácidos fenólicos como antioxidantes. Rev. Nutr., 15: 71-81.

ZAMPERLINNI, C.M.G.; SILVA-SANTIAGO, M.; VILEGAS, W. 2000. Solid-phase extraction of sugar cane soot extract for analysis by gás chromatography with flame ionization and mass spectrometric detection. Journal of Chromatography A., 889: 281-289, 2000.