ÁREA: Iniciação Científica

TÍTULO: ENSAIOS PRÉ-CLINICOS: AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO ÓLEO ESSENCIAL DE CITRUS LIMON EM ROEDORES

AUTORES: ALMEIDA, A.A.C. (UFPI) ; CARVALHO, R.B.F. (UFPI) ; SILVA, O.A. (UFPI) ; FREITAS, R.M. (UFPI)

RESUMO: Os efeitos da administração oral do óleo essencial de folhas de Citrus limon (OECL) foram investigados sobre parâmetros bioquímicos e hematológicos em ratos Wistar machos. Os animais (n=10/grupo) foram tratados por via oral diariamente durante 30 dias com OECL, nas doses de 50, 100 ou 150 mg/kg, sendo avaliado os parâmetros bioquímicos e hematológicos. O tratamento não causou nenhuma morte ou sinais de toxicidade nos animais. A administração crônica de óleo essencial não induziu nenhum efeito de risco na maioria dos parâmetros bioquímicos e hematológicos estudados em ratos.

PALAVRAS CHAVES: citrus limon, hematologia, bioquímica.

INTRODUÇÃO: A família Rutaceae consiste de cerca de 150 gêneros e 1.600 espécies, distribuídas amplamente em regiões tropicais, subtropicais e temperadas do mundo. No Brasil, a família está representada por aproximadamente 29 gêneros e 182 espécies, com algumas de importância medicinal, ecológica e econômica (MELO, 2004).
O Citrus é um gênero que compreende cerca de 70 espécies ricas em flavonóides, óleos voláteis, cumarinas e pectinas (KUSTER et al., 2003). O óleo volátil da casca do fruto apresentou atividade sedativa, hipnótica, contrastando com o extrato etanólico das folhas, que não apresentou esta atividade (CARVALHO-FREITAS, 2002).
Testes farmacológicos in vitro, com os frutos demonstraram potente efeito inibidor contra a atividade do rotavírus. (HYUN et al., 2000). Citrus limon é popularmente conhecido como limoeiro, cujas folhas e frutos são aproveitados pela medicina popular para fins terapêuticos, como: adstringente, antianêmico, antibiótico, antisséptico, antiemético, antidepressivo, antiinflamatório, antiespasmódico, bactericida, antireumático, antidisentérico, (PENIDON & SILVA, 2007; AGRA et al., 2007; FENNER et al., 2006; REZENDE & COCCO, 2002; VENDRUSCOLO et al., 2005; Vieira, 1992) e ainda para tratamento da febre e da tosse (LIEBSTEIN, 1927; GRAY & FLATT, 1997; DE FEO et al., 1992).
No presente trabalho, foi extraído o óleo essencial das folhas de Citrus limon. A extração do óleo por hidrodestilação e análise por CG possibilitou a identificação de nove monoterpenos (limoneno, linalol, citronelol, neral, nerol, cis-óxido-limoneno, trans-óxido-limoneno, geraniol e acetato de geraniol). Após a extração do óleo essencial foram avaliados os seus efeitos da administração crônica em parâmetros bioquímicos e hematológicos de ratos adultos.


MATERIAL E MÉTODOS: O óleo essencial de Citrus limon foi obtido, partindo-se de 1.100 g de folhas trituradas e utilizando-se o sistema de hidrodestilação (Matos, 1999) durante o período de quatro horas. O óleo coletado foi subsequentemente seco com sulfato de sódio anidro (Na2SO4) e mantido sob-refrigeração até a realização da análise. O rendimento do óleo foi de 0,29%, calculados com base nos volumes de óleo obtido e do peso do material vegetal fresco.
Foram utilizados ratos Wistar machos com dois meses de idade e com peso de 250 a 280 g, provenientes do Biotério Central do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Piauí. Os animais receberam água e dieta ad libitum e foram mantidos sob condições controladas de iluminação e temperatura. Quarenta ratos correspondendo a quatro grupos (n=10/grupo) foram tratados durante 30 dias consecutivos, por via oral, com o óleo essencial de Citrus limon nas doses de 50, 100 e 150 mg/kg dissolvido em Tween 80 0,5% (grupos OECL 50, OECL 100 e OECL 150), Tween 80 0,5% (grupo Tween 80) ou solução salina 0,9% (grupo controle).
Durante o tratamento, a massa corporal dos animais foi registrada semanalmente e os animais avaliados quanto a sinais clínicos de toxicidade, consumo de água e ração. Ao final do tratamento, os animais foram submetidos a um jejum completo de 12 h e anestesiados com pentobarbital sódico (40 mg/kg, i.p.). Em seguida, foi feita à coleta de sangue por rompimento do plexo retro orbital com auxílio de capilar de vidro (Waynforth, 1980). O sangue foi acondicionado em dois tipos de tubo: um com anticoagulante HB (Laborlab®) para determinação dos parâmetros hematológicos, e o outro, sem anticoagulante, para obtenção do soro para avaliação dos parâmetros bioquímicos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: De um modo geral o perfil bioquímico dos animais mostrou-se dentro dos valores de referência, no entanto, houve exceções para a uréia, ácido úrico, triglicerídeos e AST. A alteração significativa verificada nos níveis plasmáticos de uréia e ácido úrico apenas no grupo tratado com a dose de 150 mg/kg do OECL pode ser inicialmente interpretada como uma alteração renal. E a redução observada nos níveis plasmáticos de uréia e ácido úrico fornecem indícios de uma melhora da função renal, sugerindo o seu uso no tratamento da insuficiência renal aguda ou, ainda, pode indicar uma diminuição do catabolismo protéico (Dantas et al., 2006).
Com relação aos níveis séricos dos triglicerídeos foi detectada uma diminuição significativa nos ratos tratados com a dose de 150 mg/kg do OECL. Diante dos efeitos na redução sérica dos triglicerídeos pode ser sugerido o uso do OECL no tratamento das dislipidemias. Estes dados não fornecem indícios de alterações na função hepática, uma vez que os níveis séricos de ALT aumentam quando ocorrem alterações na permeabilidade. A AST tem uma isoenzima mitocondrial e não é liberada tão rapidamente quanto a ALT, que é essencialmente citoplasmática (Kaneko et al., 1997). De maneira semelhante, observou-se que o tratamento oral dos animais com o OECL não alterou significativamente o perfil hematológico, embora tenham sido observadas mudanças nos leucócitos totais, as outras células como neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e monócitos, estiveram dentro dos limites de referência, (Harkness & Wagner, 1993) e sofreram pequenas flutuações, porém sem indicativo de importância clínica. Quando comparados os grupos controle e tratados com o OECL com grupo tratado com Tween 80 0,5% não foram observadas mudanças significativas em nenhum dos parâmetros hematológicos.





CONCLUSÕES: Baseados nos resultados obtidos a partir dos estudos hematológicos e bioquímicos do sangue dos ratos adultos, conclui-se que a administração crônica do óleo essencial de Citrus limon não produz efeitos tóxicos sobre a maioria dos parâmetros bioquímicos e hematológicos estudados. Entretanto, uma diminuição dos níveis séricos de uréia e ácido úrico em ratos tratados com OECL na dose de 150 mg/kg apontam para uma possível melhora da função renal, bem como a redução dos níveis de triglicerídeos sugerem para seu uso no tratamento das dislipidemias.

AGRADECIMENTOS: Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA: AGRA, M.F. et al. Synopsis of the plants known as medicinal and poisonous in Northeast of Brazil. Revista Brasileira de Farmacognosia, v.17, n.1, p.114-40, 2007.

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